
Emílio Odebrecht. Foto: Paulo Giandalia/Estadão
Em declaração escrita ao juiz federal Sérgio Moro, o patriarca do grupo Odebrecht, Emílio Odebrecht, isenta seu filho Marcelo de responsabilidade nas obras do sítio Santa Bárbara, em Atibaia. O empreiteiro afirma que competia a ele ‘contatos diretos’ com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que Marcelo tinha como interlocutores do petista para pleitos da construtora os ex-ministros Antônio Palocci e Guido Mantega.
Documento
Emílio afirma que Marcelo reportava a ele ‘os temas por ele tratados diretamente com Antônio Palocci e Guido Mantega que tinham relação ou envolviam Lula’.
“A relação pessoal com Lula sempre foi minha no âmbito da Odebrecht, e assim continuou a ser mesmo depois que Marcelo assumiu a presidência da holding. Antonio Palocci e Guido Mantega foram indicados por Lula, a mim, principalmente o primeiro, como seus interlocutores com Marcelo sobre arrecadação de campanha para o PT, conforme narrei em meus relatos”.
“Hoje sei que Marcelo tratava também com os mesmos interlocutores do PT sobre temas de interesse da Odebrecht junto ao governo federal e que alguns desses temas estão refletidos na chamada Planilha Italiano. Até onde pude averiguar e perceber, tal planilha visava o controle, como conta-corrente, a partir de um crédito global para pagamentos, no tempo, solicitados a pretexto de despesas de campanhas e, por outro lado, a planilha fazia uma alocação interna dos custos destes pagamentos. Apesar de, à época dos fatos, eu não conhecer a planilha em si, apenas sabia da existência de um valor global”, afirmou.
Emílio ainda diz que os temas refletidos na Planilha, como ‘Medidas Provisórias do Refis da Crise e linhas de crédito de Angola’ que tinham ‘alguma relação com Lula foram’ por ele levados ao petista ‘para consolidar apoio a pleitos empresariais’ como, segundo o empreiteiro, ‘sempre prevaleceu na relação’ dele com Lula. “À exceção dos temas já mencionados, posso declarar que Marcelo não se envolveu em nenhuma tratativa direta ou indireta com Lula, cuja responsabilidade pela relação no Grupo Odebrecht era minha, como aliás já declarei em minha colaboração”.
“Os assuntos respectivos a licitações e contratos de obras com a Petrobrás não me foram reportados por Marcelo e, tendo em vista a nossa cultura de delegação, não deveriam fazer e não fizeram parte da agenda dele. Quanto à quastão do sítio de Atibaia, posso declarar que Marcelo não se envolveu em tratativas com Lula em relação a esse assunto, nem direta, nem indiretamente. O contato com Lula sobre esse assunto se deu diretamente comigo, conforme informado no meu relato e, aliás, como ocorria com os temas que envolviam Lula”, afirmou.
Emílio afirma que as ‘benfeitorias no Sítio de Atibaia foram realizadas’ por autorização dele ‘sem qualquer participação de Marcelo’. “Conforme descrevo em meu relato, após receber, via Alexandrino de Alencar, o pedido a ele realizado pela Sra. Marisa Letícia, falecida esposa de Lula, eu autorizei e determinei a execução das referidas obras com os recursos humanos e financeiros da CNO em São Paulo e, para tanto, não consultei previamente qualquer outro executivo da Odebrecht, nem mesmo avisei Marcelo sobre o pedido”.
“Além de mim, Alexandrino de Alencar poderá esclarecer os fatos relacionados ao contato estabelecido pela Sra. Marisa Letícia com ele sobre as benfeitorias no Sítio de Atibaia e os desdobramentos ocorridos a partir desse contato, bem como a minha relação com Lula e o contato com ele sobre as benfeitorias no Sítio e os desdobramentos com Lula e o contato com ele, já no final de seu mandato, acerca do tema”, afirmou.
Em sua delação premiada, o patriarca da construtora, Emílio Odebrecht, disse ter relatado a Lula em reunião no Palácio do Planalto, em 2010, que as obras no sítio ficariam prontas no mês seguinte. O encontro, segundo ele, ocorreu no fim do ano, próximo do fim do mandato do então presidente.
Emílio relatou aos procuradores que, no encontro, o petista não teria ficado “surpreso” com a informação. “Eu disse: ‘Olhe, chefe, o senhor vai ter uma surpresa e vamos garantir o prazo que nós tínhamos dado no problema lá do sítio’.” Anotações e e-mails foram entregues pelo delator como forma de comprovar a reunião.
O caso envolvendo o sítio representa a terceira denúncia contra Lula no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo a acusação, a Odebrecht, a OAS e também a empreiteira Schahin, com o pecuarista José Carlos Bumlai, gastaram R$ 1,02 milhão em obras de melhorias no sítio em troca de contratos com a Petrobrás. A denúncia inclui ao todo 13 acusados, entre eles executivos da empreiteira e aliados do ex-presidente, até seu compadre, o advogado Roberto Teixeira.
O imóvel foi comprado no final de 2010, quando Lula deixava a Presidência, e está registrado em nome de dois sócios dos filhos do ex-presidente, Fernando Bittar – filho do amigo e ex-prefeito petista de Campinas Jacó Bittar – e Jonas Suassuna. A Lava Jato sustenta que o sítio é de Lula, que nega.
O imóvel foi comprado no final de 2010, quando Lula deixava a Presidência, e está registrado em nome de dois sócios dos filhos do ex-presidente, Fernando Bittar – filho do amigo e ex-prefeito petista de Campinas Jacó Bittar – e Jonas Suassuna. A Lava Jato sustenta que o sítio é de Lula, que nega.
COM A PALAVRA, O ADVOGADO CRISTIANO ZANIN MARTINS, QUE DEFENDE LULA
“O ex-presidente Lula jamais discutiu com Emílio ou Marcelo Odebrecht qualquer assunto relacionado ao sitio de Atibaia de propriedade de Fernando Bittar. Tampouco solicitou ou recebeu qualquer vantagem indevida da Odebrecht ou de qualquer empresa ou empresário”.
Luiz Vassalo, O Estado de São Paulo