Nesta terça-feira (12), às 9h locais em Singapura (22h de segunda-feira no horário de Brasília), ocorre pela primeira vez um encontro entre um presidente em exercício dos Estados Unidos e um líder da Coreia do Norte – um dos regimes mais fechados do planeta. O encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un tem como principal objetivo discutir a desnuclearização da Coreia do Norte após mais de um ano de tensões envolvendo o país, seus vizinhos Coreia do Sul e Japão, além dos Estados Unidos.
VEJA acompanha ao vivo o encontro e a chegada dos dois líderes à pequena cidade-Estado de Singapura, que sediará o evento.
22h10: Trump e Kim Jong-un trocam aperto de mãos antes de encontro
22h04: Momentos antes de início de encontro entre Kim Jong-un e Donald Trump em Singapura, conselheiro-chefe para assuntos econômicos da Casa Branca sofre enfarte
Trump utilizou sua conta pessoal no Twitter para avisar que Larry Kudlow teve enfarte.
21h56: Do ópio ao ápice: a espantosa transformação de Singapura
A cidade-nação passou de ilhas miseráveis que ninguém queria para país rico e de altíssimo nível educacional com versão própria do capitalismo autoritário
Ao desembarcar em Singapura para o encontro com Donald Trump, o jovem ditador hereditário da Coreia do Norte praticamente mudou de planeta.
Entre a miséria do país de Kim Jong-Un e o esplendor da cidade-estado, acreditem, existem aspectos em comum. Pouco mais de meio século atrás, havia um grande número de comunistas entre a população chinesa de Singapura – 73% do total.
Tal como Baby Kim, o primeiro-ministro de Singapura, Lee Hsien Loong, também é um “filho de” – embora mais de um jornal do mundo tenha sido processado por insinuar que chegou ao cargo menos por mérito e mais por força do pai, o legendário LKY, como ficou conhecido.
Tudo o que se diz sobre Singapura é verdade: é proibido mascar chiclete, comer ou tomar água no metrô, servir bebidas depois das 22,30 horas em qualquer lugar.
Tráfico de drogas dá pena de morte obrigatória acima de determinadas quantidades. Em alguns anos, nem é preciso aplicá-la, por falta de criminosos. Apesar de campanhas internacionais contra, 95% dos habitantes de Singapura querem que a pena seja mantida.
Carros são inacessíveis mesmo para os ricos. Os apartamentos são todos iguais e é preciso entrar na fila do governo, com muito mais candidatos, claro, especialmente para um país com 57 mil dólares de renda per capita, ou 90 mil pelo critério paridade do poder de compra – terceiro lugar no mundo.
Desembarcar no aeroporto de Chengi já é uma experiência surreal para a maioria dos viajantes de outros países.
Vai ficar mais ainda no ano que vem, com a inauguração de um novo complexo, um domo de vidro e aço com jardins e floresta interna equivalente a cinco andares de altura.
Uma cachoeira circular despencará do centro da estrutura, espargindo gotículas tranquilizadoras e quebrando recordes como a mais alta do mundo em ambiente fechado.
Para brasileiros, nada impressiona mais em Singapura do que as lojas fechadas apenas com uma corda, como na entrada dos cinema antigamente, ou coberturas de plástico para proteger as mercadorias da poeira.
No ano passado, o país bateu o recorde de 135 dias sem nenhum crime, nem um simples furto de celular. Quem é pego nesse delito – coisa fácil, pois nem um passo é dado sem que as câmeras de segurança vejam – pega de um a sete anos de cadeia.
Com uma única riqueza natural, o porto de águas profundas na entrada do Estreito de Málaca, rota de 40% do comércio marítimo mundial, Singapura foi em 50 anos de lugar miserável a vitrine do capitalismo autoritário.
A mistura única de meritocracia e confucionismo, mão dura e cabeça nas nuvens, intervencionismo, padronização e rigor necessários para disciplinar a vida num país de 720 quilômetros quadrados, sem contar o incentivo tradicional das famílias chinesas aos estudos dos filhos, produzindo o melhor sistema educacional do mundo por critérios da OCDE, é, evidentemente, irreproduzível.
A história de Singapura qualificaria o país para ficar no limite do lixo. O vício do ópio, trazido por trabalhadores chineses durante o colonialismo inglês, ultrapassou vastamente as fronteiras do século 19.
É que inacreditável, mas a foto acima é de 1941. Mostra um antro de ópio, droga já então usada muito além das fileiras dos humildes trabalhadores braçais que a usavam para amenizar as dores musculares do regime quase que de escravidão.
Quando Singapura foi expulsa da Malásia, à qual havia se juntado numa breve e infeliz experiência, entre 1963 e 1965, Lee Kwan Yew, o homem das iniciais, em lugar de celebrar a independência, chorou de tristeza.
A separação foi exigida pelo governo da Malásia, preocupado com os ataques violentos da população original minoritária, etnicamente malaia, contra cingaporeanos chineses, iniciados numa comemoração do dia do aniversário do profeta Maomé. E com os tais comunistas que cresciam entre essa população.
A renda per capita da Malásia hoje é cerca de um décimo da de Singapura.
Devido à origem da população majoritária, Singapura tem muito em comum com Taiwan, ou Formosa, com Hong Kong e com a própria experiência de capitalismo autoritário sob controle do Partido Comunista da China.
Mas aeroportos com floresta ninguém no mundo tem.
21h49: Sucesso de encontro Kim-Trump depende de garantias de desnuclearização
Kim Jong-un não mostra ainda evidências concretas de que está disposto a acabar com programa nuclear norte-coreano
Poucas vezes na história moderna uma reunião entre lideranças internacionais gerou tanta incerteza e expectativa como o encontro planejado para a próxima terça-feira (12) em Singapura entre Donald Trump e Kim Jong-un.
Os Estados Unidos necessitam de garantias concretas para confiar nos norte-coreanos e fazer concessões ou todo esforço pode ser perdido. Porém, até agora, Kim Jong-un não conseguiu provar ao mundo que está, de fato, comprometido com a desnuclearização.
“Os norte-coreanos podem assinar uma declaração mais ampla, mas não assinarão nada que os convoque a abandonar todas as suas armas nucleares existentes”, afirma o professor e especialista em política coreana da Universidade Católica da América, em Washington, Andrew Yeo, sobre um possível acordo a ser assinado no dia 12.
Kim Jong-un já afirmou que acredita em uma negociação por etapas, que só será concluída após muitos encontros como o desta semana. Especialistas também concordam que este pode ser um processo longo, com muitos altos e baixos.
O próprio presidente Trump admitiu, em coletiva de imprensa na última quinta-feira (07), que estará “totalmente pronto para cair fora” das negociações, se for necessário. Sua administração já deixou claro que a desnuclearização total da Coreia do Norte é o único cenário que irá aceitar.
A Casa Branca reconhece ser o encontro do dia 12 apenas o primeiro passo de uma longa negociação. Após 25 anos de tentativas fracassadas de diálogo sobre o programa nuclear de Pyongyang, os Estados Unidos sabem que é fácil colocar tudo a perder.
Acordo
Trump já afirmou que poderia assinar uma declaração de paz com os norte-coreanos. Porém, depois de apenas um encontro, o documento seria puramente simbólico, já que um pacto definitivo, que inclua um armistício, exigiria negociações com outros atores, como Coreia do Sul, Japão e China.
Em um futuro acordo, que pode levar meses para ser concluído, os americanos definitivamente exigiriam que a resolução seguisse o modelo que ficou conhecido como CVID, sigla em inglês para “completo, verificável e desnuclearização irreversível”. A expressão foi cunhada pelo Departamento de Estado após a posse de Mike Pompeo. Porém, os esforços de verificação e monitoramento com certeza seriam um problema.
“Em troca, os Estados Unidos prometeriam medidas para garantir a segurança do regime norte-coreano e para apoiar e investir economicamente no país”, diz Kim Hyun-wook, professor da Academia Nacional Diplomática da Coreia.
Além disso, muitos especialistas esperam que, além da discussão sobre o programa nuclear, Donald Trump cobre Kim Jong-un sobre outras mudanças, como a melhoria no cumprimento dos direitos humanos e o fim dos crimes cibernéticos.
21h26: Recapitulando a história – Destino do navio USS Pueblo será trofeu ou sinal de derrota para Trump
(de 11 de junho às 17h56)
Trump será primeiro presidente em exercício dos EUA a reunir-se com o líder norte-coreano; Jimmy Carter fez acordo com Kim Jong-Il em 1994
Tópico menos mencionado da agenda do encontro entre o presidente dos Estados Unidos e o líder da Coreia do Norte, o destino do USS Pueblo será um trofeu tão importante para Donald Trump quando o compromisso de Kim Jong-Un destruir seu programa nuclear. O USS Pueblo, navio-espião americano que hoje serve como museu em Pyongyang, é um dos temas épicos do conflito entre as duas Nações.
Pressionado por setores conservadores, que ainda se lembram do caso e que estão na base de seu apoio, Trump quer o navio de volta para casa. Kim dificilmente quererá se desfazer desse símbolo de triunfo sobre os Estados Unidos.
Sob a alegação de realizar estudos hidrográficos na costa da Coreia do Norte, o navio da Marinha americana foi cercado e tomado pelas Forças Armadas norte-coreanas em janeiro de 1968. Enquanto ainda sob cerco, o capitão Loyd Bucherordenou a queima de todos os documentos confidenciais. Aquela foi a primeira vez, desde 1807, que um navio de guerra americano fora tomado por forças inimigas. No confronto, 14 marinheiros foram feridos e um deles morreu.
A tripulação, com 83 membros, tornou-se prisioneira de Pyongyang por 11 meses. Sob pressão internacional, o então líder norte-coreano, Kim Il-Sung, avô de Kim Jong-un, autorizou a libertação dos presos, entregues na Ponte de Não Retorno da Zona Desmilitarizada, na fronteira entre as duas Coreias. A liberação ocorreu apesar de um incidente que a poderia ter abortado.
Em dezembro de 1969, Kim Il-Sung aceitara a proposta de fotografar os prisioneiros, para comprovar aos Estados Unidos que eles estavam bem. A revista Time incumbiu-se da tarefa. Posando em uniforme, com os rostos tranquilos, os marinheiros cruzaram os dedos de forma a mostrar o médio – um sinal de que estavam perdidos ou de mandavam ao inferno Pyongyang ou até mesmo Washington.
Os norte-coreanos perceberam mas demoraram para interpretá-lo. Quando cientes do significado, iniciaram a “semana do inferno”, como os prisioneiros descreveram posteriormente a intensificação das torturas.
“Com toda a sinceridade, nunca achei que alguma vez nos libertassem. Talvez libertassem alguns marinheiros, mas tinha como certo que não iam me libertar”, disse Eddie Murphy, em entrevista ao jornal português Observador.
Os prisioneiros foram devolvidos aos Estados Unidos pelo porto de San Diego e recebidos pelo então governador da Califórnia Ronald Reagan, posteriormente eleito presidente do país. O USS Pueblo jamais retornou aos portos americanos.
Jimmy Carter
Mesmo se conseguir extrair do líder norte-coreano um acordo razoável em Singapura, Trump não terá sido o primeiro. Em outubro de 1994, o então presidente Jimmy Carter assinou na Coreia do Norte um acordo de desarmamento nucler com Kim Jong-Il, depois da retirada de Pyongyang do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Segundo a Times, por meio desse acordo, o avô de Kim Jong-un se comprometeu a congelar as atividades atômicas e a desmantelar as suas instalações nucleares em troca da construção de duas usinas para a geração de eletricidade e de fornecimento de petróleo.
O acordo de Carter e Kim Jong-Il fracassou em 2002, quando os Estados Unidos acusaram a Coreia do Norte de conduzir enriquecimento de urânio. No ano seguinte, os Estados Unidos se engajaram nas negociações da Coreia do Sul, China, Japão e Rússia com a Coreia do Norte – o Acordo das Seis Partes. As conversas continuaram até 2008, quando o pai do atual líder, Kim Jong-il, aceitou acabar com seu programa nuclear. Não demorou um ano para Pyongyang retirar-se do acordo, em protesto contra a condenação internacional ao lançamento de um foguete de longo alcance por seu país.
20h48: Kim Jong-un faz primeira selfie de que se tem notícia durante visita ao Jardim Botânico de Singapura
Recluso, ditador norte-coreano aparece geralmente em fotos oficiais da mídia estatal
Um dos regimes mais fechados e menos democráticos do planeta, a Coreia do Norte é um enigma para muitos analistas estrangeiros. Mesmo a entrada de turistas é permitida a “conta-gotas” e com restrições diversas quanto a utilização de máquinas fotográficas, celulares, computadores ou acesso a Internet a partir do país.
Parte da paranoia do regime norte-coreano começa –e envolve– seu líder máximo, o ditador Kim Jong-un, que herdou o poder de seu pai, Kim Jong-il.
Submetida a uma série de sanções internacionais principalmente por conta de seu belicoso programa nuclear e de mísseis balísticos intercontinentais de longo alcance, a Coreia do Norte é impedida de comercializar ou manter contatos diplomáticos de alto nível com a maior parte dos países ocidentais.
Igualmente, seus líderes em geral e Kim Jong-un em particular, são impedidos de viajar para praticamente qualquer outro país.
Kim é tão recluso que pouco se sabe ao seu respeito: supõe-se que ele nasceu no dia 8 de janeiro, mas não há certeza sobre seu ano de nascimento, com fontes divergindo entre 1982, 1983 ou 1984 (ou seja, o ditador norte-coreano tem entre 34 e 36 anos de idade atualmente).
Em sua primeira visita oficial a Singapura, ele parece ter deixado de lado seu feitio ermitão e relaxado ao lado do chanceler e do ministro dos transportes do país que visita, posando para uma selfie ao lado de ambos – a primeira de que se tem notícia, ou que pelo menos tenha sido ampla e publicamente divulgada nas redes sociais.
13h20: Kim visita pontos turísticos de Singapura horas antes de reunião com Trump
Durante passeio, líder da Coreia do Norte tira selfie sorridente ao lado do chanceler de Singapura, Vivian Balakrishnan
O líder norte-coreano, Kim Jong-un, que raríssimas vezes deixou a Coreia do Norte desde que assumiu o poder em 2011, está aproveitando seu compromisso em Singapura para conhecer os pontos turísticos da Cidade-Estado, apenas algumas horas antes de sua tão aguardada reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Na noite desta segunda-feira (horário local), a primeira parada de Kim foi um parque à beira-mar com instalações futurísticas, o Gardens by the Bay, que ostenta a maior estufa de vidro e a maior cachoeira interna do mundo.
Policiais e transeuntes também foram vistos se reunindo do lado de fora do hotel Marina Bay Sands, cuja estrutura se assemelha a de uma prancha sobre três colunas na foz do rio de Singapura.
O Ministro de Relações Exteriores de Singapura, Vivian Balakrishnan, surpreendeu ao postar em seu Twitter uma selfie ao lado de um Kim sorridente, juntamente com o Ministro da Educação de Singapura, Ong Ye Kung.
O líder, cuja idade é estimada em 34 anos, não deixou seu país desde que assumiu o poder em 2011, a não ser para visitar a China e o lado sul-coreano da zona desmilitarizada da fronteira que separa as duas Coreias.
A delegação norte-coreana está aproveitando o luxo que uma das cidades mais ricas do mundo pode oferecer. Está hospedada no hotel cinco estrelas St. Regis, onde o lobby tem um piso de mármore, lustres extravagantes e grandes obras de artes penduradas nas paredes. O buffet de café da manhã custa 35 dólares por pessoa, o mesmo que a maioria dos norte-coreanos ganha em um mês.
Entre os cerca de 30 norte-coreanos vistos no café da manhã na segunda-feira, estavam alguns dos homens mais poderosos do regime, normalmente apenas vistos por observadores da Coreia do Norte em fotografias publicadas pela imprensa estatal enquanto se apresentam em eventos oficiais.
A reunião com o presidente americano será às 9h da manhã de terça-feira (12), no horário loca (22h desta segunda-feira no horário de Brasília). A Casa Brancainformou mais cedo que os dois líderes conversarão a sós ao começo da cúpula.
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