segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Sistema de anúncios é desafio para o Facebook

The New York Times - O Estado de S.Paulo


Para ter noção dos problemas que o Facebook enfrenta com seu sistema de segmentação de anúncios, use uma palavra: confederado. O anunciante que usar esse termo no mecanismo de direcionamento de anúncios do Facebook poderá atingir um público potencial de 4 milhões de usuários que mostram interesse nos Estados Confederados da América, segundo teste do The New York Times.
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Mark Zuckerberg, CEO do Facebook
As pessoas podem estar interessadas nos Estados Confederados da América por razões históricas. No entanto, o Facebook deve ficar atento para a carregada atmosfera política, pois alguns poderão usar o seu sistema para chegar aos que apoiam a Confederação como parte de uma visão nacionalista branca de mundo. Recentemente, a rede social ficou às voltas com revelações de que anunciantes tinham condições de visar usuários do Facebook que usavam termos como “odeio judeus” em sua autodescrição. 
Mas, mesmo depois que a empresa adotou medidas para eliminar categorias ofensivas, outros termos de segmentação continuam a existir em uma área cinzenta. Isso inclui categorias como os Estados confederados, que são legítimos em princípio, mas que podem ser problemáticos na prática. 
Isso ilustra o desafio de se estabelecer uma política de segmentação de anúncios. Um ano após a rede social ter se comprometido a controlar seus anúncios, alguns especialistas disseram que a escala desse desafio está apenas começando a se revelar. “Estamos falando sobre todas as questões sociais que se pode imaginar reproduzidas dentro dessa arena (da internet)”, disse Sarah T. Roberts, professora-assistente da Universidade da Califórnia.
Desafio. A segmentação a partir de assuntos polêmicos pode ser feita de forma legítima, disse Rob Goldman, vice-presidente de produtos de anúncios do Facebook. Ele admite, no entanto, a existência de situações nas quais certas categorias de direcionamento poderiam ser usadas “de forma mal-intencionada”, mas disse que “esse tipo de comportamento é contra nossas políticas e não tem espaço em nossa plataforma”.
O Facebook disse ter múltiplas salvaguardas para garantir que as campanhas publicitárias sejam adequadas. Embora o sistema esteja longe de ser perfeito – a companhia divulgou recentemente ter autorizado a publicação de anúncios com notícias falsas criados por agentes russos –, a rede social anunciou que vetaria anúncios com conteúdo abertamente racista. 

Scott Galloway, professor da Universidade de Nova York, disse que o Facebook não deve necessariamente proibir conteúdo que celebre instituições como a Confederação ou a Wehrmacht. Mas afirmou que permitir que esse conteúdo e lucrar com anúncios em torno dele deveria ter reflexos para a empresa. “Acredito que tudo é simples. A responsabilidade deles é a mesma de qualquer outra empresa dos meios de comunicação”. / THE NEW YORK TIMES, COM TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO