quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Previdência privada: VGBL e PGBL podem não ser as melhores opções

O Globo - João Sorima Neto
Expectativa de reforma atrai mais brasileiros para os planos, mas especialistas indicam alternativas
As discussões sobre a reforma da Previdência têm levado os brasileiros a buscarem cada vez mais planos de previdência privada, a fim de garantir uma aposentadoria confortável. Dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), instituição que reúne seguradoras e entidades abertas de previdência complementar, mostram que os brasileiros aplicaram R$ 74,6 bilhões nesses produtos de janeiro a agosto deste ano, um crescimento de 5,7% em relação aos R$ 70,6 bilhões aplicados no mesmo período de 2016. Atualmente, há R$ 707,91 bilhões em ativos administrados e 13,66 milhões de participantes. Em 2010, eram 8,4 milhões de participantes e R$ 223,2 bilhões em ativos.
Semana do investidor: pensar no futuro também é importante
Mas, ainda que os planos de previdência — Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) — ganhem importância no atual cenário brasileiro, eles podem ser considerados uma boa aplicação? Afinal, a previdência complementar foi tema de um dos eventos da primeira Semana Mundial do Investidor, que vai até o próximo dia 8.
Para o consultor de investimentos Paulo Bittencourt, os planos de previdência existentes no mercado (PGBL e VGBL) se destinam a quem não tem o hábito de investir para a aposentadoria. Ele ressalta, porém, que esses planos ainda têm um custo elevado — nos grandes bancos as taxas de administração chegam a 2% ao ano — e são menos rentáveis que os planos oferecidos por gestoras menores, mais especializados neste segmento.
“O VGBL e o PGBL não são o foco dos grandes bancos. Por isso, as taxas de administração ainda são altas, e o retorno, menor do que os dos concorrentes. Melhor é comprar títulos públicos, via Tesouro Direto, e resgatar na época da aposentadoria. As gestoras independentes oferecem ganhos melhores, já que são mais focadas nesse segmento de previdência privada”, afirma Bittencourt, lembrando que os juros básicos (Selic) caminha para um patamar de 7% ao ano, o que torna uma taxa de administração de 2% muito elevada.
Queda de juros leva a mudanças
Em setembro, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) anunciou algumas mudanças nas regras dos planos de previdência complementar. Estas foram consideradas positivas pelos representantes desse segmento, que dizem tratar-se da primeira grande inovação nesse setor nos últimos 15 anos, ocasião em que foi lançado o VGBL.
Entre as novidades, está a permissão para a criação de produtos que apliquem 100% dos recursos em renda variável para os chamados investidores qualificados – aqueles que têm aplicado mais de R$ 1 milhão. Para os demais investidores, o limite de aplicação em renda variável sobe dos atuais 49% para 70%.
“Trata-se de um avanço que dará maior flexibilidade para as seguradoras desenvolverem produtos para aqueles que buscam melhor rentabilidade no cenário de juros baixos”, diz Edson Franco, presidente da FenaPrevi.
Monte sua própria estratégia
André Bona, educador financeiro do Blog de Valor, considera possível montar uma estratégia de aposentadoria investindo por conta própria, mesclando renda fixa e variável e sempre tendo um horizonte de longo prazo.
“O PGBL e o VGBL sempre oferecem uma rentabilidade menor do que se o investimento for feito por conta própria por conta dos custos (taxa de administração, por exemplo). Mas quem não conhece o mercado financeiro pode recorrer a esses produtos, que também têm vantagens como a questão da sucessão, em que os recursos podem ser deixados para um beneficiário, sem entrar no inventário”.
Bona ressalta, no entanto, que quem quiser fugir dos planos convencionais de previdência precisa, em primeiro lugar, ter disciplina para poupar e investir por conta própria.
“Assim que receber o salário, a pessoa já deve separar dinheiro para investir. Não há um número mágico, mas 20% dos rendimentos seria o ideal. Dos recursos separados, recomendo de 5% a 10% em ações, seja via fundo de ações ou diretamente, para ver como o investidor se sente com as oscilações. Se tiver perfil para risco, pode aumentar esse percentual até 20%”, diz Bona.
Outra parte, explica, pode ir para debêntures (títulos de crédito emitidos por empresas). Mas no máximo 20% dos recursos, porque, apesar de terem rentabilidade melhor que os títulos do Tesouro Direto, as debêntures não são garantidas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que cobre prejuízos até R$ 250 mil por CPF. E o restante dos recursos pode ser aplicado no Tesouro IPCA, títulos do Tesouro Direto que pagam juros e inflação.
Cada faixa etária, uma recomendação diferente
Bittencourt recomenda aos jovens que façam planos como VGBL e PGBL no início de carreira, com o débito automático do salário. Muitas empresas fazem aportes em valor equiparado aos dos funcionários, e vale a pena aproveitar essa vantagem, diz o especialista. Isso cria o hábito de poupar. Quando esse jovem tiver mais maturidade e disciplina, poderá poupar por conta própria. Segundo Bittencourt, uma forma de fazer um plano de aposentadoria investindo em um produto de menor risco é comprar títulos públicos via Tesouro Direto.
“Temos as NTNs-B, que vencem em 35 anos e pagam IPCA mais 5% de juros. Basta programar aplicações mensais de R$ 500 nestes papéis. O investidor não vai pagar taxa de administração e terá apenas despesas de 0,2% referentes à custódia do título”, diz.
Se o plano de previdência da empresa investe uma parte em ações, acrescenta Bittencourt, o aplicador pode acompanhar essa estratégia e, depois, replicá-la num investimento próprio:
“Mas isso vale para gente disciplinada, que lê os prospectos do fundo e acompanha a estratégia dele. Com 20, 25 anos, o jovem não tem experiência para aplicar em ações, e o melhor é deixar nas mãos de um gestor profissional”.
Atenção na hora de declarar
Para não cair na malha fina, é preciso ter muita atenção na hora de declarar um plano de previdência no Imposto de Renda. Raul Morgner, gerente de Previdência da corretora BR Insurance, lembra que, pela regra geral, o VGBL, que não permite dedução no IR, destina-se a quem faz declaração simplificada, enquanto o PGBL é para quem usa o modelo completo, pois permite deduzir os aportes em até 12% da renda tributável. Mas ele afirma que o investidor pode ter recursos tanto no VGBL como no PGBL.
“A cada início de ano, é possível prever quais serão as despesas dedutíveis que o investidor terá nos próximos 12 meses. Então, se houver muitas despesas dedutíveis, ele aplica no PGBL. Num ano em que isso não ocorrer, ele aplica no VGBL. Ao final do plano, ele terá obtido as vantagens oferecidas por cada um deles.”
Entre essas vantagens, Morgner destaca o planejamento sucessório, já que o titular pode indicar um beneficiário para, em caso de morte, receber os recursos rapidamente, em 30 dias, sem cair em um longo inventário.
“São produtos eficientes para que não tem a cultura do investimento e, neste momento em que se discute a reforma da Previdência, ganham importância como complemento de renda”, ressalta.