Luis Camacho-19.nov.16/Xinhua | |
Mark Zuckerberg, criador do Facebook, participa de evento no Peru |
ANDRÉ MONTEIRO - Folha de São Paulo
O criador do Facebook anunciou nesta quinta-feira (16) que a empresa irá adotar novas medidas para apertar o cerco contra a disseminação de conteúdo sensacionalista na plataforma.
A rede social é a maior do mundo, com quase dois bilhões de usuários, e vem sendo alvo de críticas de que promove notícias falsas e que tem regras que dificultam a pluralidade de opiniões.
O anúncio foi feito em forma de um longo manifesto publicado por Zuckerberg na própria plataforma.
No texto, e empresário reconhece que "as duas preocupações mais discutidas no ano passado foram sobre a diversidade de pontos de vista que vemos ('filter bubble') e a precisão de informações ('fake news')", mas afirma estar mais preocupado com "o impacto do sensacionalismo e da polarização" ideológica, que levam "a uma perda de entendimento comum".
Durante a campanha presidencial americana, conservadores acusaram a empresa de ter um "viés liberal" na exibição das notícias mais importantes. Após a vitória de Donald Trump, a rede foi acusada de não ter atuado suficientemente para barrar a viralização de conteúdo falso que favoreceu o republicano.
Zuckerberg defende que as "mídias sociais oferecem pontos de vista mais diversos do que os meios tradicionais" e que leva a sério a disseminação de conteúdo falso, mas indica que ainda não encontrou método eficiente de combater o fenômeno.
"Estamos avançando com cuidado porque nem sempre há uma linha clara entre fraudes, sátira e opinião", afirma.
De concreto, o empresário anunciou que foram feitas mudanças no algoritmo do Facebook para tentar reduzir o alcance do sensacionalismo.
"Percebemos que algumas pessoas compartilham histórias com títulos sensacionalistas sem nunca ler. Em geral, se você ficar menos propenso a compartilhar uma história depois de lê-la, é um bom sinal de que o enunciado era sensacionalista."
Segundo o texto, a rede irá monitorar esses indicadores de leitura e compartilhamento para analisar as reportagens e os veículos que as publicam e reduzir sua exibição na linha do tempo dos usuários.
"Há muitos passos como este que tomamos e continuaremos a tomar para reduzir o sensacionalismo e ajudar a construir uma comunidade mais informada."
O manifesto de Zuckerberg também aborda outras iniciativas da empresa no sentido de "construir uma comunidade global". Segundo o texto, o Facebook do futuro terá a missão de "nos manter seguros, nos informar, promover o engajamento cívico e a inclusão".
CRÍTICAS
Alguns analistas de mídia receberam as novidades de forma cética, enxergando que trazem novos e maiores riscos ao jornalismo profissional.
"O Facebook já está com o dinheiro. Agora, Zuckerberg está deixando claro que quer que sua empresa tome várias das atuais funções –não apenas a receita de publicidade– das organizações jornalísticas tradicionais", afirmou Adrienne LaFrance na revista "The Atlantic".
"Ele usa linguagem abstrata mas o que ele está descrevendo na realidade é a criação de uma empresa com os objetivos clássicos do jornalismo. De certa forma, Zuckerberg está construindo uma empresa jornalística sem jornalistas."
No manifesto, o fundador da rede social diz que uma das preocupações da empresa é com a sustentabilidade da indústria de mídia, mas não cita planos específicos além dos que estão na Iniciativa de Jornalismo do Facebook, divulgada em janeiro.
"Uma indústria de notícias forte é crítica para a construção de uma comunidade informada. Devemos fazer mais para apoiar a indústria de notícias para garantir que esta função social vital seja sustentável –desde promover os veículos locais, desenvolver formatos melhores para dispositivos móveis, até melhorar a gama de modelos de negócios das organizações."