– Jorge William / Jorge William
Reeleito presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) diz que centrão não existe mais e base aliada reúne cerca de 400 deputados. Maia garante que, diferentemente de Eduardo Cunha, não fará chantagem com o governo. Apostando nas reformas, avalia se lançar candidato ao governo em 2018, mas desta vez no mesmo campo de Eduardo Paes. Sobre as citações a seu nome na Lava-Jato, as qualificou como “enredo falso”.
O senhor admite que era o favorito do Planalto?
Havia uma boa vontade, principalmente da equipe econômica, com a minha candidatura. Isso sempre reflete no Palácio do Planalto. As reformas econômicas são o alicerce do governo hoje. Então, na hora em que um presidente da Câmara tem isso como sua bandeira, é claro que há uma tranquilidade do governo.
Não complica tratar de duas reformas tão complexas de uma só vez?
Não, porque elas estão em ritmos distintos. Uma é projeto de lei (trabalhista) e a outra é emenda constitucional (previdenciária). São temas distintos, com quóruns distintos e prazos distintos. A Câmara precisa ser protagonista do processo de recuperação econômica do Brasil. É a única forma que a política tem de se recompor com a sociedade.
É realista o desejo do governo de aprovar a reforma da Previdência até o fim de junho?
Acho que é possível. O que o governo precisa fazer é antecipar logo as informações, esclarecer as polêmicas. Quanto mais transparência e quanto mais conseguir dar clareza aos pontos polêmicos, mais rápido a Câmara estará preparada para votar essas matérias.
Tem algum ponto que te incomoda na reforma da Previdência?
O que me incomoda é a situação do meu estado hoje, em que a Previdência quebrou e os aposentados não recebem a aposentadoria. O que me preocupa é que daqui a alguns anos, se nós não aprovarmos a reforma da Previdência, muitos pensionistas e aposentados não vão receber suas aposentadorias.
O que acha da idade mínima?
Sou 100% a favor, eu vou ser afetado por ela, tenho menos de 50 anos. Todo mundo está vivendo mais, acho que há um gatilho interessante: se a expectativa de vida aumenta, aumenta a idade mínima. As pessoas vivem mais, têm que trabalhar mais. E do meu ponto de vista eu teria feito para os novos (contribuintes) um sistema no qual o recebimento futuro teria uma relação clara com aquilo que você contribuiu, gerando um valor mínimo. Mas foi feito de outra forma. Agora o que tem que fazer é o debate da transição. Os jovens não estão olhando para 65 anos.
Mas dá para unir a base em torno dessa votação?
Se o governo tiver a capacidade de fazer o mesmo trabalho em conjunto que a gente fez na PEC do Teto, com mais tempo, com mais tranquilidade, a gente vai aprovar a reforma da Previdência com certeza.
Primeiro tem que curar as feridas com o centrão?
Acabou o centrão. Teve um candidato, que é querido na Casa, o Jovair, que teve um bom resultado para o número de partidos que o apoiava. Agora, resultado de eleição é da vida. Esses 100 votos não têm unidade. Ninguém está mal atendido nem com espaço, nem com execução orçamentária.
Sua vitória não quer dizer que o governo terá facilidade para aprovar a reforma da Previdência?
Nem facilidade, nem dificuldade. Mas o governo tem uma base de 400 deputados e a maioria dos deputados da base está atendida. As pessoas votaram em mim porque entenderam que eu seria o melhor para presidir a Câmara neste momento, mas amanhã pode ser o Jovair. Eu não tenho 293 votos contra o governo, como ele não tem 100 votos contra o governo. A gente não tem o comando desses votos no caso de uma votação de interesse do governo.
O senhor teve embates com o líder do governo, André Moura (PSC-SE). Quem seria o líder ideal?
Meu líder ideal é a Gisele Bündchen (risos). Seria melhor um nome que estivesse afinado com o presidente da Câmara. André Moura, sem dúvida, não é. O líder do governo não foi imparcial nesse processo eleitoral, mas não fiz pressão para tirá-lo antes e não farei agora.
André Moura foi escolhido sob influência de Eduardo Cunha, cenário que mudou.
Não sei. Eu acho que eu produzo melhor com um líder mais afinado comigo. Não é o caso do André Moura. Mas é uma decisão do presidente, não tem problema nenhum. Como não teve problema quando eu fui convidado líder e, depois, desconvidado.
O que muda da sua gestão para a de Cunha?
A minha natureza é oposta. É uma pauta conservadora, mas sem excessos. Uma presidência de diálogo. Não vou tratar a pauta da Câmara numa relação de chantagem com o Executivo. O Eduardo Cunha fez chantagem: ou me dá a liderança do governo ou vai ter hostilidade. Esse tipo de ambiente não existe comigo. Significa que o presidente Michel Temer pode dormir tranquilo.
O que o senhor considera “conservador, mas sem excessos”?
Sou contra a legalização das drogas. Considero que a maioria das pessoas que usa uma droga mais pesada começa pela maconha. Não acho que isso vai resolver o problema da sociedade, ao contrário, vai ampliar. Prefiro que a gente tenha uma estratégia, como o Michel Temer fez agora com a criação do Ministério da Segurança Pública, para tratar efetivamente o tema. União homoafetiva, sou a favor, mas sou contra o casamento porque acho que é um falso embate. Casamento é um tema das igrejas, não da sociedade civil. O aborto, com as situações específicas já declaradas pelo Supremo, eu sou a favor.
A anistia ao caixa 2 volta à pauta?
Não volta porque não há maioria para tratar esse tema na Casa. Se tivesse, já teria sido tratado. Houve interesse de alguns parlamentares de separar o que era corrupção do que era caixa dois. Como não houve consenso sobre o texto, esse tema está fora da pauta.
Nem o projeto que criminaliza abuso de autoridade?
Não, porque é para quando o juiz comete crime. Nenhum juiz da Lava-Jato cometeu crime. Então, não tem relação uma coisa com a outra. É para o juiz que molestou a sua enteada não ser somente aposentado compulsoriamente.
O que achou de Moreira Franco ter ganhado foro privilegiado?
Se ele já respondesse processo, estivesse para ser denunciado, eu diria que usou um instrumento para obstruir uma investigação. Não é o caso. Acho que Moreira é um quadro que tem muita confiança do presidente, já era considerado ministro e agora vai comandar outras áreas que são decisivas para o governo. É diferente de Lula, até porque no caso dele ficou caracterizado que havia um movimento.
O que muda na relação com o Senado com a eleição do Eunício?
O Renan foi um bom presidente do Senado, eu tenho uma relação ótima com ele, inclusive ele me ajudou muito na eleição para presidente da Câmara. O Eunício tem outro perfil, tenho uma boa relação com ele, mas sempre tive relação mais próxima com o Renan. Os botafoguenses (Maia e Renan) sempre se unem.
Falando em “Botafogo” (apelido de Maia na planilha da Odebrecht), o quanto essas citações ao seu nome nas delações preocupam?
Preocupam zero. É claro que é chato, ninguém gosta, mas é um enredo falso que será desmontado de forma rápida. Quem decide se a delação deve ficar sob sigilo é o ministro relator. O que eu sou contra, e acho que deveria ter uma punição dura, são os vazamentos.
O Supremo decidirá se réus podem ocupar a linha sucessória. É uma espada na sua cabeça?
Algumas questões têm de ser respondidas. O presidente da Câmara e do Senado ficam (impedidos), mas e o vice-presidente da República? Não é tão simples. E ser réu não necessariamente tira da pessoa as condições de presidir uma Casa.
O senhor pretende disputar o governo do Rio em 2018?
Eu quero ser um bom presidente da Câmara. Sendo um bom presidente da Câmara, posso estar preparado para outros projetos. Governar o Rio, disputar eleições majoritárias como um todo. Não nego que seria bom ser governador do Rio. Se eu conseguir transformar a Câmara em protagonista das reformas, acho que eu vou ter cacife para muita coisa.
E Eduardo Paes seria seu adversário ao governo?
Não vou disputar com o Eduardo Paes, eu vou estar no mesmo campo dele. Já brigamos demais.