Com atitudes que ignoram as exigências éticas da sociedade, políticos ampliam\
fosso que os separa da opinião pública e levantam questão: até onde eles vão?
Na quinta-feira passada, agentes federais bateram à porta da casa de Márcio Lobão, presidente de uma subsidiária do Banco do Brasil, em busca de provas de que recebera propina em nome de seu pai, o senador Edison Lobão. Uma batida policial é sempre um constrangimento, mas o senador saiu-se do episódio com aquela indiferença olímpica tão própria de certos políticos. Em democracias mais maduras, um fato dessa grandeza teria implicações dramáticas. Em Brasília, não aconteceu nada. Edison Lobão foi premiado com um silêncio generalizado e cúmplice. Continua no comando da Comissão de Constituição e Justiça do Senado e terá a honra de presidir a sabatina do indicado a ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O suspeito vai questionar as intenções do seu futuro juiz.
Parece que os políticos deixaram de enxergar e de ouvir as exigências de uma opinião pública que, desde 2013, dá sinais de exaustão com a roubalheira dos cofres públicos e os comportamentos abertamente imorais. Eles não estão propriamente mudos, cegos ou surdos — estão, sim, em luta disfarçada para sobreviver aos próprios delitos. À luz da mensagem do presidente Michel Temer de que só afastará do cargo quem for denunciado – o que pode ocorrer só depois do fim do mandato -, os ministros sentem-se livres para se movimentar, alguns com desenvoltura, como Alexandre de Moraes, que confraterniza abertamente com investigados. Ou o ministro Eliseu Padilha, o “Primo” nas planilhas da Odebrecht, flagrado durante uma palestra admitindo abertamente que a escolha do ministro da Saúde foi apenas um toma lá dá cá – não foi nem admoestado pela confissão incômoda.
(Com reportagem de Bruna Narcizo e Renato Onofre)
Íntegra na VEJA