sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Da glória às ruínas

Cidade brasileira que mais recebe turistas, o Rio de Janeiro convive com hotéis icônicos em completo estado de abandono. Um deles aguarda os primeiros hóspedes há 64 anos

Da glória às ruínas
HOTEL GLÓRIA Construção: 1922 Onde: Glória, zona Sul Dimensão: mais de 600 quartos, 18 elevadores, 1 teatro e 1 piscina Curiosidade: primeiro hotel 5 estrelas do País Abandonado: desde 2013

Eliane Lobato - IstoE

É difícil aceitar que a Cidade Maravilhosa, destino brasileiro preferido tanto por turistas domésticos quanto de fora do País, conviva há décadas com hotéis abandonados. Atualmente, dois esqueletos assombram as lindas paisagens cariocas. Jamais inaugurado, o Gávea Tourist, em São Conrado, se tornou uma ruína que hoje é usada apenas como paredão para a prática de rapel. O Hotel Glória, no bairro de mesmo nome, foi comprado por Eike Batista com a ideia de dar lugar a um luxuoso “6 estrelas”. Desde o ano passado, acumula poças d’água que viraram berços de mosquitos em plena epidemia de dengue e zika. Na Barra da Tijuca, o suntuoso Trump Hotel funciona apenas parcialmente. É um paradoxo que o Rio de Janeiro, cidade que recebe mais de 1,5 milhão de turistas estrangeiros por ano, tenha reservado um destino tão triste a alguns de seus hotéis históricos.
TRUMP HOTEL Construção parcial: 2016 Onde: Barra da Tijuca, zona Oeste Dimensão: 13 andares, 171 suítes com varandas irregulares e uma piscina de vidro suspensa em cima de uma boate Curiosidade: Seria o primeiro hotel com a marca do presidente americano Donald Trump na América do Sul, mas ele saiu do empreendimento abandonado: 40% do hotel não foi concluído
TRUMP HOTEL Construção parcial: 2016 Onde: Barra da Tijuca, zona Oeste Dimensão: 13 andares, 171 suítes com varandas irregulares e uma piscina de vidro suspensa em cima de uma boate
Curiosidade: Seria o primeiro hotel com a marca do presidente americano Donald Trump na América do Sul, mas ele saiu do empreendimento abandonado: 40% do hotel não foi concluído
Contrastando com o recente abandono, alguns desses empreendimentos viveram tempos de resplendor. O Hotel Glória, por exemplo, hospedou o físico alemão Albert Einstein (1879-1955) no quarto de número 400, em maio de 1925. O lugar também rendeu manchetes por escândalos envolvendo celebridades. Foi assim com a eterna diva hollywoodiana Ava Gardner (1922-1990). Em 1954, ela chegou ao hotel caindo de bêbada e, num acesso de fúria, saiu quebrando obras de arte. Em 2008, quando foi comprado pela EBX, empresa de Eike Batista, o Hotel Glória parecia destinado a um futuro tão ou mais nobre quanto seu passado. O plano de demolir tudo para erguer um novo hotel durou até o ano passado, quando o empresário precisou vender o prédio para o fundo de investimentos Mubadala, de Abu Dhabi. Até agora, o novo dono não revelou o cronograma de recuperação.
Já o drama do Gávea Tourist Hotel, arcabouço erguido em área protegida de Mata Atlântica há 64 anos, aguarda a autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para cumprir seu destino. Ele começou a ser construído em 1953, teve as obras interrompidas em 1972 e foi vendido em 2011 para a GV2 Produção, que tem a intenção de reformá-lo. A inauguração estava prevista para 2020. Segundo Jamil Elias Suaiden, diretor da empresa, a burocracia impede que o projeto avance.
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GÁVEA TOURIST HOTEL Construção: 1953 Onde: São Conrado, zona Sul Dimensão: 13 andares, 30 mil metros quadrados de área construída Curiosidade: Nunca foi concluído, mas um restaurante e uma boate chegaram a funcionar na década de 1960 Abandonado: desde março de 1972
Recuperacão
Depois de 36 anos vivendo na forma de escombros, o lendário Hotel Paineiras ganhou vida no fim do ano passado como Centro de Visitantes Paineiras. Inaugurado em 1884, o hotel recebeu o imperador Dom Pedro II (1825-1891). Décadas depois, seus hóspedes mais famosos seriam os craques da seleção brasileira de futebol, entre ele Pelé e Garrincha. Em 1980, o Paineiras, que pertencia a órgãos públicos municipais, foi fechado. Em 2008, passou para o controle da secretaria de Patrimônio da União até virar o atual centro cultural. Em outro caso de admirável recuperação, o Hotel Nacional, projetado por Oscar Niemeyer na orla de São Conrado, reabriu em dezembro como Gran Meliá Nacional depois de permanecer 21 anos fechado.
Na maldição de hotéis problemáticos do Rio, o Trump é o caçula. O projeto original previa que o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrasse com a marca, e a empresa proprietária, LSH Barra Empreendimentos Imobiliários S.A, assumisse a obra. Em 2016, ele foi parcialmente inaugurado, e ainda não está concluído. Embora mantenha o nome, o edifício de 171 quartos com piso de mármore importado da Turquia e papel de parede holandês, não tem mais nenhuma ligação com a Trump Organization. A LSB, por sua vez, enfrenta investigação por fraude em fundos de pensão. A presidente da Associação Brasileira de Agentes de viagens (ABAV), Teresa Cristina Fritsch, acha lamentável que o Rio tenha perdido espaços e aponta alguns caminhos para devolver vida a estes lugares: “Cassinos legalizados é uma delas. Mas a principal é a recuperação econômica do Estado e do País.”
Alto padrão com vista para o mar
Emiliano traz modelo de luxo e bem-estar da matriz paulistana
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Na contramão dos hotéis total ou parcialmente abandonados, o Emiliano Rio abriu as portas recentemente na Avenida Atlântica, em Copacabana, no mesmo endereço onde o Consulado da Áustria funcionou entre 1927 e 2009. O prédio de 13 andares tem 90 apartamentos voltados para espetacular orla e seu inconfundível calçadão em ondas. A decoração, retrô, segue o estilo dos anos 1950 e foge do padrão das redes internacionais. O modelo é o mesmo do irmão mais velho, o Emiliano da rua Oscar Freire, em São Paulo, que se tornou uma referência de luxo e bem-estar.