Para transformar em realidade o mantra que entoou durante a campanha, e continua a repetir — “Fazer os Estados Unidos grandes novamente” —, o presidente eleito Donald Trump precisa batalhar em várias frentes. A principal delas é a dos acordos internacionais e das correntes de comércio estabelecidos entre o país e o mundo. O Nafta, sigla em inglês de Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, assinado com México e Canadá, saiu da campanha eleitoral como alvo prioritário. Pois foi devido ao Nafta que, entre outras indústrias, montadoras americanas de veículos, mas não só, ultrapassaram a fronteira atrás de custos mais baixos em terras mexicanas.
Trump e defensores não consideram as vantagens que os americanos passaram a ter com a globalização — empregos mais bem remunerados, liderança tecnológica sedimentada e preços mais baixos de uma infinidade de bens importados.
Mas o discurso da campanha vingou junto aos deserdados da globalização, parte ponderável dos habitantes do Noroeste do país, emblematicamente chamado de “cinturão da ferrugem”, devido ao esvaziamento industrial, cubo símbolo é uma Detroit decadente. Mas não bastará a vontade política para os EUA voltarem à época de potência industrial nos séculos XIX e XX.
Neste aspecto, o governo Trump já começou: a Ford desistiu de ampliar a linha de montagem das caminhonetes de luxo Lincoln MKC, em Lousville, Kentucky, instalando uma outra no México. Em nota e entrevistas de executivos, a montadora deu crédito de confiança a Trump e foi anunciado o recuo da Ford. Houve um acerto com a turma de Trump.
O presidente eleito promete corte de impostos, mas há, também, padrões estabelecidos de consumo para veículos, pelo governo Obama, que as montadoras gostariam que fossem revistos. Outra iniciativa em favor das montadoras terá de ser, como promete Trump, não dar sequência ao acordo de comércio transpacífico, pelo qual montadoras asiáticas, já bastante eficientes, ganharão ainda mais competitividade. Estarão dadas, assim, as condições de uma guerra comercial global, com o erguimento de barreiras protecionistas, e cujo desfecho será uma recessão planetária. Assim, o eleitor de Trump pode não reaver o emprego.
Outro caso emblemático em curso é o esforço de Trump para que a Carrier, fabricante de sistemas de refrigeração residenciais e empresariais, também não transfira uma fábrica para o México, com a perda empregos em Indiana. Anuncia-se que foi bem-sucedida a negociação. Sempre é possível acenar com vantagens fiscais, mas, no caso da Carrier, pesa também o fato de a controladora da empresa ser a United Tecnologies, fornecedora importante de turbinas para caças da força aérea americana. Funciona aqui o evidente poder de barganha do maior comprador de equipamentos militares do mundo, a Casa Branca.
Mas há riscos regulatórios, políticos e econômicos, pelo fato de o presidente distribuir benefícios a algumas empresas e não a todas, num estilo intervencionista fracassado em outros cantos do mundo. Não será fácil tornar realidade promessas feitas do palanque.