| André Tambucci/Fotos Públicas/BBC BRASIL | |
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| Vem Pra Rua e MBL convocam ato em defesa do pacote anticorrupção do MPFDA BBC BRASIL |
Com a BBC Brasil
A presença de militantes que defendem ideologias de esquerda nos protestos marcados para este domingo(4) em diversas cidades brasileiras rachou movimentos sociais durante a semana.
De um lado, o Vem Pra Rua, que organizou o ato, defendeu que até manifestantes de esquerda são bem-vindos no protesto que defende a Operação Lava Jato e a aprovação do projeto das Dez Medidas Contra a Corrupção proposto pelo Ministério Público Federal.
Mas o MBL (Movimento Brasil Livre), que vinha alinhado ao Vem Pra Rua nos atos pelo impeachment de Dilma Rousseff, desta vez se mostrou indignado com a proposta e chegou a pensar em não participar do ato.
"Quer dizer que gente que saiu às ruas pedindo a saída de Dilma Rousseff, defendeu a Lava Jato até aqui, agora está topando conversar com a extrema esquerda para eventualmente defender um Fora Temer. Como assim?", questionou Renan Santos, do MBL, em vídeo publicado no Facebook.
Após a demonstração pública de descontentamento do MBL, o líder do Vem Pra Rua, Rogério Chequer, foi também às redes sociais se explicar.
"O Vem Pra Rua não é a favor de Fora Temer. Nós não temos nenhum interesse de tirar o Temer do poder", afirmou Chequer em vídeo.
Em entrevista à BBC Brasil, Chequer disse que não pode controlar quem participa de seus atos, mas que as pessoas ligadas à esquerda e que estão alinhadas ao Fora Temer não estão alinhadas com suas posições. "Espero que pessoas desalinhadas não se interessem em vir", disse.
Ele afirmou inclusive que o governo do presidente Michel Temer tem "intenções extremamente positivas para o Brasil".
"A aprovação da PEC do Teto é uma delas. Um ajuste inevitável, goste ou não, mesmo as pessoas que serão de alguma forma afetadas e devem ser protegidas por um plano de transição. Ninguém vai ter direitos se essa reforma não for feita, porque o Estado vai quebrar antes", afirmou.
ACORDO
Para o professor de políticas públicas da USP Pablo Ortellado, a convocação do Vem Pra Rua ainda pode atrair algumas pessoas de esquerda.
"Acredito que, pela primeira vez, deve haver alguma presença mais significativa de pessoas de esquerda numa manifestação anticorrupção, mas não sei se elas serão bem recebidas e acho que isso não será suficiente para mudar o caráter desses protestos e o estado de polarização no Brasil. Algo assim só aconteceria se houvesse um acordo entre forças organizadas dos dois campos, o que parece que não vai acontecer tão cedo", ponderou o professor.
Ortellado diz que não sabe se será possível resgatar o consenso que uniu o Brasil nos protestos de 2013.
"Para isso, os grupos anticorrupção precisariam acomodar a defesa dos serviços públicos –que se expressaria, por exemplo, na rejeição aos cortes em saúde e educação da PEC 55– e os grupos que defendem os direitos sociais precisariam abraçar de maneira mais aberta as medidas de combate à corrupção, inclusive quando afetam o PT. É um xadrez difícil com tanta desconfiança de ambos os lados e tantos interesses políticos em jogo", disse.
Mas nenhum dos lados sinalizam para um acordo.
"O MBL não defenderá ato algum ao lado dessas pessoas. Enquanto indivíduos, eles são livres para saírem às ruas nos dias que eles quiserem, inclusive nas nossas manifestações. Mas nós não embarcaremos nas suas agendas políticas e nós não seremos usados como instrumentos para levantar a esquerda", disse Renan Santos em vídeo do MBL.
