O marido de Lilian Tintori, Leopoldo López, é um dos principais líderes da oposição venezuelana. Ex-prefeito de Caracas, está preso há 2 anos e 3 meses, condenado a 14 anos de prisão. Depois de depor numa audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, ela visitou os estúdios da Jovem Pan, onde concedeu uma entrevista exclusiva.
Reclamou do atendimento que recebeu – ou não recebeu – do governo brasileiro até agora. “Não deram apoio à Venezuela. Eu mandei várias cartas à presidenta e nunca recebi resposta. Pedimos várias reuniões e fomos atendidos pelo chanceler, pela equipe do chanceler numa oportunidade no ano passado. Mas não, não é um deputado, não é um chanceler, é a voz da liderança de todo um país irmão que precisa se manifestar. A Venezuela está esperando isso. A Venezuela está esperando essa solidariedade e essa atenção do Brasil”, apela.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Carlos Bezerra Jr. (PSDB), engrossou o apelo após a audiência pública. “Já solicitamos ao novo chanceler, José Serra, uma audiência para relatar o que ouvimos de Lílian Tintori e também seu apelo pela intercessão do Brasil. A Comissão de Direitos Humanos já fez uma moção de solidariedade ao povo venezuelano e pedindo a libertação imediata de todos os presos políticos no país”, diz o parlamentar.
Lilian Tintori tenta ser recebida pelo governo do presidente interino Michel Temer e a mudança no Brasil como uma esperança. “É muito importante para nós que o Brasil se manifeste. Que o governo do Brasil, faça o que ainda não fez durante toda a nossa luta pelos direitos humanos e a liberdade nos últimos 2 anos e 3 meses. Precisamos agora que o governo se manifeste, que peça a liberdade de todos os presos políticos e peça que pare a violação de direitos humanos que faz o governo de Nicolás Maduro aos venezuelanos. Precisamos de apoio, precisamos que a voz do Brasil seja ouvida. Somos países irmãos, estamos colados, nos une uma fronteira e, em Direitos Humanos, não existe essa fronteira, somos o mesmo. Em Direitos Humanos, todos devemos nos unir para que não aconteça mais o que ocorre na Venezuela. Na Venezuela, deram choques elétricos nos genitais de Gloria Tobón. Na Venezuela, Juan Manuel Carrasco foi violado por um militar com um fuzil no ânus. Na Venezuela, Geraldine Moreno foi assassinada por um militar, que disparou à queima-roupa, disparou no rosto e depois de dois dias Geraldine morreu e Rosa Orozco perdeu sua única filha porque essa filha foi assassinada por um militar. Há uma violação sistemática de direitos humanos”, relata.
Esta semana, a oposição venezuelana finalmente cravou a palavra “ditadura” no governo de Nicolás Maduro. Lílian Tintori concorda: “eu vivo a ditadura de perto porque Leopoldo (López) está preso, meu marido, faz 2 anos e 3 meses e é inocente, o condenaram a 14 anos sem provas nem testemunhas. É inocente e está preso, preso numa prisão militar, preso isolado em solitária sob tratamento cruel e desumano. É uma ditadura porque a mim também perseguem. Sou seguida por motos sem farol, carros sem placas, me hackeiam as contas de telefone, os emails, as cartas de correio. Mandam à minha casa aparelhos, drones, para gravar a mim e meus filhos. Vivemos os momentos mais difíceis. Já recebi duas vezes atentados contra minha vida, me ameaçam publicamente de morte”, denuncia.
O marido dela é um dos mais famosos, mas não é o único preso político da Venezuela. “Há mais de 100 presos políticos estamos numa ditadura. Os presos políticos são políticos, são prefeitos das metrópoles venezuelanas. O prefeito do Distrito Metropolitano de Caracas, Artur Ledezma, está preso. O prefeito de San Cristóbal, Daniel Ceballos, está preso. A forma como tratam o venezuelano, as mulheres hoje na Venezuela fazem filas de 10, 12 horas para conseguir comida. Não há! Tiraram todos os direitos fundamentais, os direitos dos venezuelanos. Hoje não são só os presos políticos que estão presos. Hoje todos os venezuelanos têm seus direitos presos”, reclama, em relato que coincide com os apresentados pela ONU, por ONGs internacionais de Direitos Humanos como a Human Rights Watch e por reportagens recentes da imprensa internacional, como esta e esta do The New York Times.
Quanto às manifestações convocadas para hoje, Lilian Tintori se mostra confiante. “As manifestações são sempre pacíficas. Sempre a convocação foi feita assim por Leopoldo López, meu marido. A manifestação, o protesto é um direito. E as nossas manifestações são pacíficas. Sempre vamos vestidos de branco, com nossos rosários, pedindo calma mas para conseguir um objetivo. O objetivo da manifestação na Venezuela esta semana é que se cumpram os prazos para o referendo revogatório. É uma manifestação pacífica que chama todos os venezuelanos às ruas a pedir a mudança pela via constitucional que é o referendo revogatório, cujo processo já iniciamos. Hoje, Nicolás Maduro está tentando impedir o referendo revogatório, mas ele é desejado por 94% dos venezuelanos. Hoje é impossível bloquear o sentimento nacional, hoje é impossível bloquear a vontade popular, o que querem as pessoas, o que querem os venezuelanos”, prega.
As manifestações pedem que seja cumprido o trâmite legal do referendo revogatório, que Nicolás Maduro tenta impedir. Caso a votação popular seja feita até o final do ano, abre-se a possibilidade de novas eleições. Se for adiada para o ano que vem, Maduro pode ser destituído mas seu vice assumiria a presidência da Venezuela.
Confira a entrevista completa no canal do Radioatividade no Youtube:



