quarta-feira, 20 de abril de 2016

Saída de Dilma do governo federal é alívio, afirma Marco Antonio Bologna

Zanone Fraissat/Folhapress
Marco Antonio Bolonha, presidente do banco Fator
Marco Antonio Bolonha, presidente do banco Fator


Joana Cunha - Folha de São Paulo

A iminência de saída da presidente Dilma Rousseff é um alívio e o vice Michel Temer poderá assumir em um ambiente mais favorável, com possível apoio para realizar medidas necessárias, queda de juro e atração de investimento. A avaliação é de Marco Antonio Bologna, que foi presidente da TAM e está hoje à frente do Banco Fator.

Para ele, Dilma perdeu a capacidade de atrair nomes de peso do setor privado a sua equipe econômica, mas Temer chega num momento em que "todo mundo quer contribuir". "É quase um salvamento", diz Bologna, que ressalta a carência de ortodoxia e pragmatismo na economia.

Folha - O mercado está aliviado? Com Dilma não se vê mais saída possível?
Marco Antonio Bologna - Há um esgotamento, um cansaço. Se não resolve o lado político, o econômico fica complicado. O impeachment leva tempo, mas pelo menos tira da frente um tema que vem deixando aquele imobilismo na tomada de decisão.
Sente-se um alívio em ver que há pelo menos o início de um rumo. Alívio é a palavra, porque fica esse vai não vai, com o governo imobilizado para tomar medidas necessárias e um ambiente ruim para negócios.
Estamos falando de uma transição que possa resgatar um pouco a normalidade.

Que melhoras vislumbram?
Um ambiente melhor na parte monetária, lembrando que a inflação já está mostrando fraqueza, pela própria debilidade de consumo.
E o mundo não está com movimento de taxa de juros para cima. Na economia americana, o Fed já mostrou que vai mais devagar. Acho que há ambiente favorável para cair juros. Qualquer um que estiver lá vai dar boas notícias na taxa de juros, o que é bom para quem deve e para quem toma dinheiro. E bom para as finanças, para reduzir endividamento total do país. Na área cambial também há um momento mais favorável.

E o problema? Onde está?
Na área fiscal. Sabe-se que o que precisa ser feito na área fiscal depende do Congresso. Entre os principais temas está a aprovação da DRU (Desvinculação de Receitas da União), que dá maior flexibilidade orçamentária. Isso precisa ser aprovado. E a CPMF, uma alternativa emergencial. A parte mais estrutural, que é mais explosiva quando você faz as projeções, é a Previdência. Além disso, precisa destravar as concessões.

Como o PIB voltará a crescer?
A exportação começa a contribuir, o superavit de balança já está dando na margem uma contribuição de PIB. Mas não é suficiente.
O mundo não está crescendo como deveria, então não dá para esperar que a volta do crescimento venha só da exportação. Faltam pontos de interesse ao investidor privado. O destravamento das concessões contribuiria para ter investimento na infraestrutura. Ter política de concessão mais amigável, não querer limitar taxa de retorno.

Ele terá apoio do Congresso?
Ele já pega um ambiente mais favorável. Vimos pela votação do impeachment na Câmara. E é um politico experiente. Além disso, há vontade do empresariado de que as coisas andem. Há um esgotamento. Muitos esperavam manifestações violentas e, no fim, foi pacífico, porque ninguém aguenta mais.
O esgotamento traz a vontade de virar a página, de andar com as medidas emergenciais e sinalizar a quem está esperando para investir.

O país continua interessante?
Sim. Mesmo reduzindo a taxa de juros, ainda tem juro real e um câmbio interessante para investidor estrangeiro. Há coisas que ainda estão com boa relação de preço e retorno. Uma pequena volta do investimento estrangeiro já significa muito dinheiro.

O choque de confiança dura quanto tempo?
Não sei se é choque de confiança, é um destravamento mesmo. Vai depender de como as coisas acontecerão. Vamos ter volatilidade, porque há o imponderável, mas do ponto de vista da virada de página política está claro que agora está começando. Só vai se concretizar nas eleições de 2018, mas isso já distensiona.

Ele vai conseguir atrair bons nomes à equipe econômica?
Sim. Está claro que não queremos nada heterodoxo. Vai atrair nomes que mostrem ortodoxia, objetividade, sem soluções jabuticaba, que não aguentamos mais. Até pelo ambiente atual, todo mundo quer contribuir para melhorar.
Ela já estava esgotada e já não tinha capacidade de atrair quem não fosse muito próximo. Mas aquele que chega vem num momento em que há vontade de fazer algo pelo país. É quase um salvamento. O ideal é que fosse um nome alinhado às boas práticas internacionais. Veja a Argentina: continua com problemas estruturais, mas mudou a percepção do risco e o dinheiro voltou a fluir.
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Raio-x Marco A. Bologna
Carreira
Presidente do Banco Fator e do conselho da TAM/SA
Trajetória
Antes de ser presidente da TAM, atuou no mercado financeiro em bancos como Inter American Express.
Grupo Fator/2015
Patrimônio consolidado: R$ 345 milhões
Gestão de ativos: R$ 3,8 bilhões
Gestão de private: R$ 3,5 bilhões
Funcionários: 250