sexta-feira, 1 de abril de 2016

Repasse a Ronan Maria Pinto pode ter relação com morte de Celso Daniel, diz Moro em despacho

Alana Fonseca - G1

celso daniel (Foto: globo news)Prefeito de Santo André Celso Daniel foi morto em 2002 (Foto: Globo News/Reprodução)




No despacho em que autoriza a prisão temporária do empresário Ronan Maria Pinto, divulgado nesta sexta-feira (1º), o juiz Sérgio Moro argumenta que "é possível" que o esquema de corrupção da Petrobras tenha relação com a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), em 2002.
Ronan é dono do jornal "Diário do Grande ABC" e de empresas do setor de transporte e coleta de lixo e alvo da 27ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta sexta.
A relação do esquema de corrupção com o assassinato foi feita com base em umatentativa de delação premiada de Marcos Valério Fernandes de Souza na Lava Jato.
Marcos Valério foi apontado, no julgamento do mensalão do PT, como o operador do esquema. Condenado a 37 anos de cadeia, o publicitário Marcos Valério está preso desde 2013 em regime fechado.
Marcos Valério alegou que Ronan foi beneficiário final de um empréstimo de R$ 12 milhões do banco Schahin.
Ainda conforme Marcos Valério, R$ 6 milhões foram repassados a Ronan porque ele ameaçava envolver figuras políticas importantes do Partido dos Trabalhadores (PT) nas investigações do assassinato de Celso Daniel.
Leia abaixo a parte em que Moro cita a possível relação:
"Já Ronan Maria Pinto foi, como adiantado, condenado criminalmente, sem trânsito em julgado, por sentença da 1ª Vara Criminal de Santo André no processo 00587-80.2002.8.26.0554, por crimes de extorsão e corrupção ativa, em continuidade delitiva, no aludido esquema de corrupção e extorsão na Prefeitura de Santo André (evento 7, comp39). É ainda possível que este esquema criminoso tenha alguma relação com o homicídio, em janeiro de 2002, do então Prefeito de Santo André, Celso Daniel, o que é ainda mais grave.
Se confirmado o depoimento de Marcos Valério, de que os valores lhe foram destinados em extorsão de dirigentes do Partido dos Trabalhadores, a conduta é ainda mais grave, pois, além da ousadia na extorsão de na época autoridades da elevada Administração Pública, o fato contribuiu para a obstrução da Justiça e completa apuração dos crimes havidos no âmbito da Prefeitura de Santo André"
G1 tenta contato com a defesa de Ronan Maria Pinto. Em outras ocasiões, ele disse não ter envolvimento com a morte.
Carbono 14
A 27ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta sexta-feira e batizada de Carbono 14, identificou um dos beneficiários do esquema de corrupção na Petrobras: o empresário paulista Ronan Maria Pinto.
Os recursos vieram de um empréstimo fraudulento que o pecuarista José Carlos Bumlai obteve junto ao Banco Schahin em outubro de 2004.
Bumlai já foi preso pela Lava Jato e é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No ano passado, ele admitiu fraude no empréstimo, que totalizou R$ 12 milhões, e disse que o objetivo era pagar dívidas de campanha do PT e "caixa 2", sem citar nomes.
Investigadores ainda não confirmaram quem foram os destinatários finais dos outros R$ 6 milhões.
O empréstimo com o banco foi pago por meio da contratação fraudulenta do Grupo Schahin como operador do navio-sonda Vitória 10.000, pela Petrobras, em 2009, ao custo de US$ 1,6 bilhão. Como foi favorecido para obter o contrato, parte do lucro dele na operação quitou o débito.
Ronan foi preso em Santo André, na Grande São Paulo, e será levado à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Ao todo, a operação cumpriu 12 mandados judiciais e foi chamada de Carbono 14, porque remete a episódios antigos e não esclarecidos.
Veja abaixo um resumo da 27ª fase:
– Objetivo: descobrir os beneficiários do esquema investigado.
– Mandados judiciais: 2 de prisão, 2 de condução coercitiva e 8 de busca e apreensão.
– Presos temporários: Ronan Maria Pinto, empresário, e Silvio Pereira, ex-secretário geral do PT.
- Conduções coercitivas: Breno Altman, jornalista, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT.
– O que descobriu: Um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões obtido por José Carlos Bumlai no banco Schahin, em 2004, tinha como um dos beneficiários finais Ronan Maria Pinto, que recebeu R$ 6 milhões.
– O que falta apurar:
A razão do pagamento a Ronan Pinto;
Qual é a relação entre o repasse e o esquema de corrupção em Santo André;
Para onde foram os outros R$ 6 milhões do empréstimo.