Prevaleceu, ontem, a Lei de Ibsen (deputado Ibsen Pinheiro que presidiu a cassação de Collor em 1992 e, dois anos depois, foi cassado no escândalo dos Anões do Orçamento):
“O que o povo quer, esta Casa acaba querendo”. A maioria da população queria se livrar de Dilma. Isso, nas democracias parlamentaristas da Europa, ocorre toda hora. Não gostou, troca. Portanto, o desejo do eleitor de fazer permuta não é coisa de republiqueta de banana.
O problema é que em nosso modelo presidencialista isto é encrenca na certa. Cheira, no olfato político da situação, a golpe. Não se diz mais quartelada, porque desta vez não houve subversão nos quarteis, fato raro na nossa História e digno de celebração pelos que amam a democracia.
A saída apontada ontem pela Câmara, formada, é pena, por centenas de ratatuias e poucas dezenas de honrados, não era a preferida das ruas. Muito pelo contrário. Michel Temer representa, até prova em contrário, um tipo de política que causa asco e nojo. É claro que, ao contrário de Dilma, ele tem condições de restabelecer um mínimo de confiança dos agentes econômicos. Botar a roda da economia para funcionar não é pouco, notadamente para os 10 milhões de desempregados.
Mas o temor é o comprometimento de um eventual governo Temer em relação às reformas econômicas e políticas de que o país precisa. É preciso ter coragem para enfrentar a questão previdenciária e dar descarga neste modelo político que, de tão desgraçado, ungiu Eduardo Cunha presidente da Câmara.
O medo, para concluir, é com a postura de Temer com o prosseguimento da Lava-Jato, uma das poucas notícias boas que os jornais podem oferecer aos seus leitores. Sem isto, o ovo da serpente continuará intocável.