O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e a presidente Dilma Rousseff se encontraram a portas fechadas na tarde de segunda-feira (18) no Palácio do Planalto.
Ambos anunciaram a reunião, dando a ela um tratamento de rotina da relação harmônica entre Poderes. Até aí, tudo normal.
Minutos antes do encontro chegara ao Senado um carrinho carregado de pilhas de documentos sobre o pedido de abertura de processo de impeachment da petista, aprovado na noite anterior pelo plenário da Câmara dos Deputados.
Basicamente, logo depois, a presidente da República, sob acusação de crime de responsabilidade, encontrou-se de maneira privada com o presidente da Casa que a partir de agora julgará o seu caso.
Pode parecer nada demais diante da inaceitável permanência de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara, da algazarra estudantil dos deputados na votação de um impeachment, ou de dezenas de políticos citados na Lava Jato circulando normalmente pelo Congresso.
Mas quando o assunto é transparência, o excesso deveria ser regra. Sobretudo na política.
Numa entrevista coletiva no Senado, pouco antes do encontro com Dilma no Palácio, questionei Renan se ele considerava normal, transparente, uma reunião privada com a presidente justamente no dia em que a Casa presidida por ele recebeu o processo contra ela.
O senador respondeu não saber direito o que de fato seria tratado com Dilma. Pedi então que, se possível, ele contasse depois a nós, jornalistas, o teor do encontro. Renan encerrou a entrevista.
Como era de se esperar, após a reunião, a versão do senador foi a de que tão somente informou a presidente que cumprirá o rito do processo de impeachment, com isenção e neutralidade.
Traduzindo, promete não descumprir regras para acelerar o processo, mas avisa que não vai postergá-lo. Tenta agradar governistas e o grupo a favor do afastamento da presidente.
É muito provável que a conversa entre o presidente do Senado e a presidente da República tenha se limitado a essa versão oficial do peemedebista. Não há elementos, pelo menos por ora, para duvidar dele.
Mas é muito provável também que nunca saberemos exatamente o que trataram a portas fechadas dois chefes de Poderes no palácio presidencial um dia depois de 367 deputados votarem a favor do impeachment.
Pressionado pelo grupo pró-impeachment em razão da proximidade política estabelecida com Dilma, Renan tem dito a senadores que não quer manchar sua biografia na tramitação do caso.
O presidente do Senado não começou muito bem. Ele teria legitimidade para evitar um encontro com Dilma no Palácio num dia tão atípico, mesmo que tivesse sido convidado por ela. Ou, no mínimo, poderia exigir, em nome da transparência, que a íntegra do sigiloso encontro fosse divulgada.