quinta-feira, 3 de março de 2016

"Agora é pra valer", editorial da Folha de São Paulo

A Superterça, dia em que mais de uma dezena de Estados americanos realiza prévias para escolher quais candidatos disputarão a Presidência pelos dois principais partidos dos EUA, é um divisor de águas na corrida eleitoral. 

Postulantes que se saiam bem nessa ocasião precisam ser levados a sério, mesmo que seu perfil sugira o contrário.

Entre os democratas, Hillary Clinton assume a dianteira. Ela triunfou em 7 Estados, contra 4 de Bernie Sanders. A ex-secretária de Estado e ex-primeira-dama acumula 1.052 delegados, contra 427 do adversário. Precisa de 2.382 para assegurar a indicação.

Rivalidades à parte, a sigla não terá dificuldade de sair unida. Os dois candidatos não chegaram a trocar golpes baixos em público, e a presença de Sanders dá a Clinton a oportunidade de levar seu discurso um pouco para a esquerda nesta fase inicial –o que tende a envolver a militância na campanha.

Em contraste, o quadro é de caos no lado republicano. Como indicavam as pesquisas, Donald Trump saiu-se vencedor na Superterça. Conquistou 7 Estados, contra 3 de Ted Cruz e 1 de Marco Rubio. O magnata tem 319 dos 1.237 delegados necessários para garantir a vaga.

Trump, porém, não será capaz de unir o partido. Analistas apostam em cenários que vão da cristianização, para usar o vocabulário político brasileiro, à ruptura formal.

Com seu discurso belicoso, politicamente incorreto e radical, o empresário galvaniza o eleitorado republicano, mas é visto como um irresponsável não só pela cúpula da agremiação mas também pelos conservadores mais ideológicos.

Ocorre que, a esta altura, talvez seja tarde demais para impedir que Trump leve a indicação. Não surgiu nenhuma alternativa moderada ao polêmico pré-candidato.

No plano nacional, a situação mostra-se ainda pior para os republicanos. Quase todas as pesquisas indicam que Trump, que não hesita em xingar minorias das quais precisa para ser eleito, perderia para qualquer postulante democrata.

Ainda que, uma vez garantido no pleito, ele venha a medir melhor suas palavras, a mudança brusca soaria pouco convincente, reforçando sua imagem de oportunista.

A confirmar-se uma disputa entre o milionário e a ex-secretária, ela sairia com alguma vantagem. Em princípio, bastaria não cometer nenhum grande erro na campanha para chegar à Casa Branca.