sábado, 6 de fevereiro de 2016

Fiocruz nega que dificulte colaboração estrangeira nas pesquisas sobre zika


Laboratório da Fiocruz, no Rio de Janeiro - Divulgação/Fiocruz


O Globo



A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) enviou nota na tarde deste sábado negando que esteja dificultando o processo de cooperação de outros países nos trabalhos de pesquisa relacionados ao vírus zika. Esta semana, a agência de notícias Associated Press (AP) informou que autoridades de saúde da Organização das Nações Unidas (ONU) e dos Estados Unidos reclamaram que o Brasil não tem compartilhado dados e amostras suficientes para se investigar a associação entre o vírus e o surto de microcefalia.

“A Fiocruz nunca, em nenhum momento, recebeu qualquer notificação da OMS (Organização Mundial de Saúde) ou do CDC (Centro de Controle de Doenças do governo americano) acusando a instituição de estar dificultando o acesso a amostras do vírus zika e de pacientes infectados, além de “dados numéricos confiáveis sobre a epidemia”. A instituição tem trabalhado, ao longo de seus 115 anos de existência, em cooperação com diversos países e organismos internacionais — inclusive com a própria OMS e o CDC —, o que continuará fazendo neste momento de emergência internacional”, afirma a nota, enviada pela assessoria de imprensa.

Neste sábado, em artigo publicado no GLOBO, o médico Luis Fernando Correia afirmou que “curiosamente” o anúncio feito nesta sexta-feira pela Fiocruz, de que foi detectada atividade do vírus zika em amostras da saliva e da urina de dois pacientes, ocorreu na sequência da divulgação das críticas de autoridades estrangeiras à postura do Brasil em relação às pesquisas. Correia disse ainda que “em tempos de epidemia de um vírus que ainda não conhecemos bem, qualquer novidade se transforma em notícia. Mas isso pode trazer desinformação e riscos para todos”.

Também em nota, a Fiocruz afirmou que a divulgação faz parte do compromisso da instituição com a saúde pública:

“As evidências científicas sobre a presença do vírus zika ativo (com POTENCIAL de causar infecção) em saliva e em urina foram anunciadas publicamente tendo em vista o compromisso de mais de um século da Fiocruz com a saúde pública, com a ciência, com a sociedade e com base no princípio da cautela. Existe um enorme esforço de investigação em diversos países, na busca de obter respostas sobre o vírus zika, incluindo possíveis vias alternativas de transmissão”.

Em seu artigo, intitulado “E o mosquito, onde fica?”, Correia também alertou para que não seja perdido o foco no combate ao Aedes aegypti: “Lembrem-se: sem mosquito não há transmissão dessas doenças”.

A Fiocruz, por sua vez, ressaltou que a divulgação da possível contaminação por saliva ou urina não tira o foco na eliminação do principal agente de disseminação do vírus: “A contextualização e as implicações da evidência foram amplamente abordadas, assim como a continuidade do enfoque no combate ao mosquito Aedes aegypti — o vetor de transmissão já consagrado. Lembramos também que a todo momento foi enfatizado que as medidas de precaução sugeridas são direcionadas às grávidas, pois a gravidade da microcefalia justifica o princípio da cautela”.

A nota também afirmou que a possibilidade de transmissão via saliva também é considerada pelo CDC, dos Estados Unidos, em relação ao recente caso de zika diagnosticado no Texas. “O princípio da cautela, diante da emergência internacional, e a responsabilidade da Fiocruz, como órgão estratégico vinculado ao Ministério da Saúde, justificam os cuidados sugeridos às grávidas neste momento de tantas incertezas”.