quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Empreiteira articulou lobby de Lula com o 'amigo' Maduro





Nicolas Maduro e Lula durante encontro em São Paulo
Nicolas Maduro e Lula durante encontro em São Paulo(VEJA.com/AFP)

Carolina Farina e Laryssa Borges - Veja


Novos documentos em posse dos investigadores da Operação Lava Jato apontam que o mais famoso "caixeiro-viajante" do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, não fez lobby no exterior apenas para ajudar aempreiteira Odebrecht. A Polícia Federal encontrou uma troca de emails entre executivos da Andrade Gutierrez, na qual eles afirmam que a empresa contava com as "habilidades" do petista para conseguir contratos na Venezuela, comandada pelo bolivariano Nicolás Maduro.
Preocupado com o futuro dos contratos da empresa no vizinho sul-americano, o executivo Sérgio Lins Andrade encaminhou, em março de 2014, um e-mail ao presidente afastado da empreiteira, Otávio Marques de Azevedo, e a outros colegas. A mensagem levava anexada uma reprodução de jornal com a notícia: "Dilma quer distância da Venezuela". Lins Andrade avaliava que a posição da presidente, considerada mais refratária aos lobbies praticados pelo antecessor, poderia colocar em risco os negócios da empresa.
Em resposta, o executivo Flávio Gomes Machado Filho afirma que a Andrade deve, de fato, tomar cuidado com as atitudes de Dilma em relação ao país vizinho. Ele diz ainda que o presidente venezuelano Nicolás Maduro estaria incomodado com a petista. E sugere: pedir a ajuda a Lula, a quem Maduro considera um "amigo", escreveu o executivo. "Nosso ponto focal de apoio tem que ser o ex-presidente Lula", afirma. Machado Filho decide, então, agendar um encontro com Lula para traçar a estratégia da Andrade Gutierrez na Venezuela e selar o apoio do ex-presidente no país.
A cúpula da Andrade Gutierrez foi presa na 14ª fase da Operação Lava Jato, que levou para atrás das grades também empreiteiros da Odebrecht, entre os quais o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht. Segundo o Ministério Público Federal, a Andrade Gutierrez utilizou práticas de corrupção e pagamento de propina como um verdadeiro "modelo de negócio".
De acordo com os procuradores da força-tarefa do petrolão, a construtora tem executivos que cometem crimes "de modo profissional". Nesta categoria, o MP elenca, por exemplo, o presidente da companhia, Otávio Marques de Azevedo. "A Andrade Gutierrez utilizava o pagamento de propinas como modelo de negócio, e Flavio David Barra e Otávio Marques de Azevedo eram responsáveis por, em nome da empreiteira, praticar crimes de corrupção e lavagem de dinheiro", disse a acusação. "Mesmo depois de revelada a Operação Lava Jato, inclusive com a prisão de diversos empreiteiros em novembro de 2014, a Andrade Gutierrez continuou com a sistemática de pagar vantagens indevidas em contratos públicos. O presidente Otávio Marques, que poderia fazer cessar a conduta à época nada fez, e permitiu que o 'modelo de negócio' de sempre continuasse intacto", completou.
O envolvimento da Andrade Gutierrez na Lava Jato não se resume apenas ao esquema de fraudes na Petrobras. Segundo as investigações, a empreiteira teria cometido irregularidades também no eletrolão. Depoimentos de delação premiada do executivo Dalton Avancini, que integrava os quadros da construtora Camargo Correa e que concordou, em acordo de delação premiada, em detalhar o bilionário esquema de corrupção na Petrobras e em estatais revelam o pagamento de propina em Angra 3.