
Não demorou muito para a própria presidente Dilma desdizer o lema “pátria educadora”, lançado por ela na posse no segundo mandato, para ser o eixo do novo governo. A fim de evitar que haja o mínimo de 171 votos na Câmara exigidos para o impeachment, Dilma atendeu seu principal consultor político e criador, Lula, e, numa reforma ministerial, ampliou de seis para sete o número de pastas do PMDB, encolheu o peso do PT no primeiro escalão e entregou a condução política do governo aos lulopetistas Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), mantendo Edinho Silva, também ligado a Lula, na Secretaria de Comunicação. Nessa dança das cadeiras, o Ministério da Educação entrou como contrapeso. Voltou para ele Aloizio Mercadante, do PT, defenestrado da Casa Civil como desejava há tempos o próprio Lula.
Nada condizente com um governo que fundara a “pátria educadora”. A escolha para o MEC de Renato Janine Ribeiro, professor da USP, intelectual conhecido, ligado ao PT, fora bem recebida. Ele substituiu o ex-governador Cid Gomes, abatido num choque com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e cujas credenciais para o posto eram o bom trabalho feito na Educação, no Ceará.
Já as graves deficiências na Educação que sabotam o país continuam à vista de todos. Há avanços, mas quase sempre lentos diante da necessidade de se recuperar o tempo perdido. Há carências de toda ordem no ensino básico. Uma das mais graves é a má formação ainda de uma parcela ponderável de alunos do Fundamental, o antigo Primário.
Em cada 100 crianças em idade para estarem alfabetizadas, 22 não leem como deveriam, 35 não escrevem e 57 não demonstram o domínio de Matemática que precisariam ter, segundo a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), do MEC. O indicador que sintetiza este drama educacional é a taxa de “analfabetismo funcional”, estágio em que a pessoa não entende de forma correta o que lê, tampouco escreve com o mínimo de correção, nem executa operações simples de matemática. Dados do MEC mostram que o índice já foi de 39%, mas caiu para 27% em 2011. Porém, continua alto. É sobre uma base frágil, portanto, que se assenta o restante do ciclo básico. Organizações da sociedade e o Estado pactuaram metas para que o ensino no Brasil esteja em 2022 no mesmo nível em que hoje se encontra a OCDE (entidade que congrega os países desenvolvidos). Passos têm sido dados, mas há obstáculos. Um dos mais difíceis de superar é o ensino médio, onde o rendimento escolar apresenta mais problemas. Não por acaso, nele se mantém elevada a evasão escolar, 10% em média.
Há quem resuma a questão educacional a verbas orçamentárias. Não é simples assim, como demonstram os vários indicadores disponíveis. Muito precisa ser feito na melhoria de gestão.
OS PONTOS-CHAVE
1
Proporções elevadas de alunos ainda não leem, escrevem e fazem contas como deveriam
2
Foi positivo o lançamento da Base Nacional Comum, para enfim haver um currículo único
3
Na reforma ministerial, o MEC foi contrapeso, sinal de desprestígio, apesar do discurso da presidente
4
Há avanço, mas ele é lento, diante do enorme tempo perdido, e não ocorre de maneira uniforme
5
O ensino médio é o que apresenta as maiores deficiências; não por acaso, há nele alta evasão