sábado, 18 de julho de 2015

Obama e os clichês da dupla Chamberlain & Churchill

Com Blog do Caio Blinder - Veja


Analogias preguiçosas com dois personagens da história britânica
Analogias preguiçosas com dois cartolas da história britânica
Onze em dez críticos de Barack Obama recorrem a analogias preguiçosas para denunciar a frouxidão da política externa americana. Os clichês históricos estão de volta com o acordo sobre o programa nuclear iraniano acertado esta semana.
Entre os mais manjados estão: 1) Obama é o novo Neville Chamberlain, o primeiro-ministro britânico que tomou o caminho do apaziguamento na reunião com Hitler em Munique, em 1938 e 2) Saudades de Winston Churchill, o sucessor de Chamberlain, que em 1942 fulminou a política de apaziguamento com a frase : “Entre a desonra e a guerra, escolheram a desonra e terão a guerra”.
Não custa lembrar que para ir à guerra contra Hitler, Churchill apelou para a desonra que foi a aliança com Stálin. E com muita honra, Churchill se defendeu dos críticos  que o acusaram de ter feito com um pacto com o diabo, dizendo: “Se Hitler invadisse o inferno eu, ao menos, faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns”.
Portanto, cuidado com as analogias preguiçosas. A preguiça começa com o disparate de comparar Hitler com o aiatolá Khamenei ou de conferir o mesmo calibre ao poder de fogo (nuclear ou não) do Irã ao do regime nazista. Hitler tem seu quadro privilegiado na galeria da vilania humana. Não vamos banalizar o mal supremo com o delinquente líder supremo que manda no Irã.
Sem dúvida, existe um espírito de acomodação na política externa de Obama, mas, de novo, é analogia preguiçosa meramente rotulá-la de apaziguamento. A história irá julgar a ambição de Obama de ser um novo Metternich (veja coluna de quarta-feira), no esforço de criar uma nova balança de poder no Oriente Médio, conferindo legitimidade ao Irã.
O ponto essencial aqui é alertar sobre o risco de tratar 1938, da desonra de Chamberlain, como o único ano da história com lições úteis. O presidente mais venerado pelos republicanos nos EUA é Ronald Reagan. Ele não fez pacto com o diabo comunista, mas se mostrou ansioso para negociar e conseguir acordos nucleares com o que definiu de Império do Mal, a União Soviética. Na sua autobiografia, Reagan escreveu: “Eu não tinha muita fé nos comunistas. Ainda assim, era perigoso continuar para sempre o impasse nuclear Leste-Oeste”.
Não estou aqui fazendo analogias preguiçosas entre Reagan e Obama (quem as faz agora é o próprio presidente de plantão), mas apenas colocando tons de cinza no cenário. O professor de Harvard, Graham Allison, menciona que documentos recentemente liberados revelam o núcleo da estratégia de segurança nacional de Reagan.
Tinha três elementos: resistência externa ao imperialismo soviético, pressão interna na URSS e engajamento com Moscou em “negociações para tentar alcançar acordos que protejam e fortaleçam os interesses dos EUA e que sejam consistentes com o princípio de estrita reciprocidade e interesse mutuo”.
O jogo das relações internacionais é complexo e acordos são imperfeitos. Muitos conservadores nos anos 80 estavam desolados com Reagan. O jornalista George Will acusou o ex-presidente de “acelerar o desarmamento moral” e William Buckley alertou que o tratado que os EUA firmaram com a URSS sobre mísseis nucleares intermediários era um “pacto suicida”.
Reagan estava pronto para negociar com o Império do Mal, assim como Churchill se dispôs a fazer um pacto com o diabo. Afinal, de forma acaciana, o ex-primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin lembrou que negociações de paz são feitas com adversários e não com amigos.
Dito tudo isso, não sei se vou apaziguar os 11 em dez críticos de Obama que recorrem a analogias preguiçosas. Sei que é preciso discutir as consequências do acordo nuclear iraniano levando em conta muitas lições históricas e não apenas Neville Chamberlain e Winston Churchill. Clichê por clichê, termino com o seguinte: “Estou sempre disposto a aprender, mas nem sempre gosto que me ensinem”. O autor? Um tal de Winston.