sexta-feira, 12 de junho de 2015

"Dilma nos EUA, de pires na mão", por Patrícia Campos Mello

Folha de São Paulo


Um site vistoso da Secretaria de Comunicação Social da Presidência convoca potenciais investidores para o evento "Infrastructure Brasil", dia 29 de junho, em Nova York. Será na véspera do encontro da presidente Dilma Rousseff com o presidente Barack Obama na Casa Branca.

Abrilhantando o seminário de NY, uma procissão de ministros: o titular do Planejamento, Nelson Barbosa, Eliseu Padilha, da Aviação Civil, Antonio Carlos Rodrigues, dos Transportes, Edson Coelho Araújo, da Secretaria dos Portos, e Luciano Coutinho, presidente do BNDES.

Dilma fará um discurso de encerramento.

No cardápio, o superpacote de concessões. Ministro após ministro vai tentar convencer os investidores presentes –espera-se um quorum razoável apesar das vacas magras– a aplicar dinheiro em projetos de infraestrutura no Brasil. O site fala em crescimento médio do país de 4% ao ano (média embelezada, digamos), crescimento econômico estável (oscilante?) e "desafios do lado da oferta" que o governo está enfrentando com uma "ampla agenda de reformas" (sic).

"Hoje o Brasil está prestes a entrar em um novo ciclo de desenvolvimento", garante o prospecto. E assegura que o novo programa inclui reformas no marco regulatório que "aceleram o processo de aprovação de projetos, diversifica fontes de financiamento, fortalece os marcos regulatórios".

Tudo muito bonito. Mas, por enquanto, o alardeado pacote de concessões tem poucas especificidades.

A esperança do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é chegar a Nova York com definições mais claras sobre os editais e mudanças no marco regulatório para tornar os investimentos mais interessantes.

O advogado Fabio Falkenburger, sócio da área de aviação do Machado Meyer, acha difícil que haja editais antes de 30 de junho. Mas talvez haja indicações concretas de como vai ser a "modelagem".

"As pessoas estão interessadas no Brasil, mas muito cautelosas por causa da situação econômica e dos escândalos. É muito positivo que o governo esteja querendo ajustar, mas ainda precisamos ver o que há de concreto", diz Carl Meacham, diretor do programa de Américas do Center for Strategic and International Studies (CSIS), que trabalhou muitos anos no Senado com o ex-senador republicano Richard Lugar e circula bem no Congresso.

Segundo Gabriel Rico, presidente da Amcham, há vantagens para potenciais investidores americanos: o câmbio está favorável com a desvalorização do real, juros nos EUA estão bastante baixos para captar financiamento e empreiteiras brasileiras passam por dificuldades.

Mas é vital os termos serem mais amigáveis para as concessões para motivar as construtoras.

Antes da ofensiva nos EUA, o governo brasileiro se prepara para uma rodada prévia de "reconstrução de confiança" durante o Fórum de CEOs, que se realiza em Brasília na semana que vem e terá a presença da secretária de Comércio dos EUA, Penny Pritzker, e de presidentes de empresas dos EUA e do Brasil.

Essa reconstrução de confiança deve começar do básico, da lista de empresas que fazem parte do Fórum de CEOs –na última formação, estavam presentes Andrade Gutierrez, Camargo Correa e Odebrecht.

Saia justa à vista.