Numa votação considerada histórica, a Câmara dos Comuns, do Parlamento britânico, aprovou nesta terça-feira (3) uma lei que permite a reprodução assistida com o DNA de três pessoas.
A técnica, desenvolvida por especialistas em Newcastle, combina o DNA dos pais com uma pequena quantidade de DNA da mitocôndria de uma outra mulher, substituindo o da mãe.
Com isso, segundo os cientistas, seriam evitadas doenças graves que poderiam ser transmitidas ao bebê pela mitocôndria (a usina de energia da célula) materna diagnosticada como "defeituosa".
O procedimento é palco de controvérsia no Reino Unido, que agora pode se transformar no primeiro país a legalizar esse tipo de técnica.
Ao todo, 382 membros do Parlamento votaram a favor e 128 contra.
A lei precisa passar por uma votação até o fim do mês na Câmara dos Lordes (a câmara alta), que deve ser apenas ratificar a votação dos Comuns, esta sim considerada crucial para que o projeto avançasse.
Com a aprovação final, os primeiros bebês poderão nascer em 2016.
A mídia britânica apelidou o estudo de a criação do "bebê de três pais". Hoje, a legislação local proíbe que embriões geneticamente alterados sejam implantado em uma mulher.
Setores das igrejas Anglicana e Católica têm manifestado oposição ao uso do material genético de três pessoas para concepção. Alegam, entre outras coisas, que o estudo não é seguro, muito menos ético porque, entre outras coisas, destrói embriões. A Igreja da Inglaterra pede que o debate seja aprofundado antes de qualquer aprovação.
Ao mesmo tempo, políticos, entidades médicas e ativistas se colocam a favor da lei sob o argumento de que salvará vidas no futuro e de que é irrelevante a transmissão genética do DNA mitocondrial, neste caso, da mulher doadora - representa apenas 0,1% do DNA total.
Segundo a mídia britânica, cerca de 150 casais podem ser beneficiados a cada ano com a técnica, ou 2.500 mulheres em idade reprodutiva no Reino Unido.
Uma cada 200 crianças seria vítima de uma falha decorrente da mitocôndria.
Geralmente, as doenças afetam coração e atividades musculares, causam cegueira e podem levar à morte.
O governo britânico, em tese, tem apoiado o projeto de lei, mas evitou dar uma orientação oficial aos seus representantes no Parlamento. Por meio do porta-voz, o primeiro-ministro David Cameron disse ser um "forte" defensor desse tipo de doação mitocondrial. O projeto vem sendo discutido nos últimos cinco anos no Reino Unido.
Pela legislação, a doadora do DNA mitocondrial permaneceria anônima e não teria qualquer direito sobre a criança.