sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Tsunami monetário: nova rodada de estímulos do Japão anima mercados

Com Blog Rodrigo Constantino - Veja


O Yen, a moeda japonesa, desabou para uma mínima de seis anos, enquanto as ações do mundo todo dispararam após o Banco do Japão (BOJ) expandir inesperadamente os estímulos monetários. O BOJ disse que vai aumentar a compra de bonds do governo em mais de US$ 700 bilhões. Para adicionar lenha na fogueira, o fundo de pensão público japonês, o maior do mundo, subiu sua meta para a participação de ações em sua carteira.
Foi a primeira mudança de política desde que Haruhiko Kuroda iniciou seu programa de compras recordes de ativos em abril do ano passado. O anúncio pegou todos de surpresa. Apenas 3 dos 32 analistas pesquisados pela Bloomberg esperavam um aumento dos estímulos agora.
O índice de ações Topix subiu 4,3%, maior alta desde junho de 2013, e o Nikkei 225 fechou na máxima de sete anos. Em termos nominais, pois o Yen despencou em relação ao dólar (gráfico invertido, dólares em Yen):
Yen em dólar. Fonte: Bloomberg
Yen em dólar. Fonte: Bloomberg
Qual o efeito disso para o Brasil? A própria presidente Dilma já usou a expressão “tsunami monetário” no passado, e é a mais adequada mesmo. Esse tipo de estímulo comprova aquilo que venho dizendo há anos: essa “crise internacional” não afeta negativamente o Brasil, e sim o contrário: representa uma dádiva ao nosso país, ao menos no curto prazo.
Quando Dilma cita Japão ou Alemanha para “provar” sua narrativa de crise externa como causa de nossa estagflação, ela ignora que a crise, dessa vez, tem seu epicentro nos países desenvolvidos, e que a reação deles acaba beneficiando os mercados emergentes. O oposto do que aconteceu na era FHC, quando a crise tinha seu foco justamente nos países em desenvolvimento, afetando negativamente o Brasil, no meio do furacão.
Quando o Japão inicia uma nova rodada agressiva de expansão monetária, isso é como uma injeção brutal de liquidez nos mercados mundiais. Como há vasos comunicantes em um mundo globalizado, essa montanha de recursos passa a buscar alternativas mais atraentes em países emergentes, como o Brasil. Por isso o fluxo de investimentos diretos aumenta, apesar de nossa fragilidade.
Os melhores amigos de Dilma e do PT são os banqueiros centrais dos países ricos. São eles que criam esse excesso de liquidez no mundo, que vai desesperado atrás de oportunidades em outros quintais mais arriscados, que ainda têm yield, algum retorno sobre o investimento.
Como numa festa, o excesso de liquidez (álcool) costuma relaxar nos presentes o critério de julgamento dos ativos disponíveis, e os investidores passam a olhar com mais benevolência para as alternativas. Até mesmo uma “bruaca” consegue se dar bem num cenário desses, confundida com uma top model. Tudo graças ao excesso de liquidez.
Claro que isso não é impune. Com o tempo, essas medidas de estímulos monetários tendem a produzir uma bolha especulativa. Foi exatamente isso que aconteceu com o Nasdaq e a bolha de tecnologia, depois com a bolha imobiliária, e agora talvez com a bolha de mercados emergentes.
Sabemos que essas coisas não costumam terminar bem. Mas a euforia é boa enquanto dura. Há uma sensação de prosperidade que é ilusória, mas que seduz muita gente no processo. Duro é no dia seguinte, quando o sujeito acorda ao lado da “baranga” e descobre que sua aposta não foi fruto de análises racionais e ponderadas, e sim do desespero alimentado pela liquidez abundante.
Para quem tem apenas um martelo, tudo se parece com um prego. Os bancos centrais dos países ricos só sabem agir com base nesse instrumento, mas não é razoável achar que dá para colocar esses países na rota do crescimento sustentável novamente com criação artificial de dinheiro. Não existe almoço grátis.
Ou esses países partem para reformas estruturais que tornariam suas economias mais competitivas e reduziriam o fardo do estado inchado, ou essas rodadas de estímulo vão apenas comprar tempo, aumentando a fatura a ser paga à frente. Melhor Dilma surfar na onda enquanto for possível, pois quando for a hora do “caixote”, não vai ser nada bonito de se ver. O tsunami deixa um rastro de destruição por onde passa…