Será curioso observar o comportamento dos congressistas na sessão da CPI mista da Petrobras que ocorre hoje (17).
Constituída por deputados e senadores e encarregada de investigar desvio de recursos da empresa, a Comissão Parlamentar de Inquérito receberá Paulo Roberto Costa. O ex-diretor de Abastecimento da estatal dará seu segundo depoimento em menos de quatro meses.
Na primeira ocasião, em 10 de junho, não teve dificuldades. Perante uma comissão formada só por senadores e boicotada pela oposição, Costa minimizou a importância de suas declarações: "Não me considero homem-bomba".
Seus inquiridores acreditaram –ou assim fingiram. Deram-se por satisfeitos com o que lhes disse o ex-diretor, inclusive quando, sustentando que a Petrobras não era um balcão de negócios, repudiou a alegação de que a estatal abrigaria uma organização criminosa.
O próprio Costa, porém, encarregou-se de mostrar o quanto os senadores, por comodismo governista ou interesses escusos, exageravam na demonstração de candura.
Preso no dia 11 de junho, após terem sido descobertas contas secretas que possuía na Suíça, o ex-diretor da Petrobras aceitou um acordo de delação premiada. Ou seja, em troca de reduzir sua pena, revelaria em juízo o que sabe. E deu a entender que sabe muito.
Trânsito na empresa ele tinha. Começou a trabalhar na Petrobras em 1977. Alcançou a diretoria de Abastecimento, por indicação do PP. Permaneceu no posto de 2004 a 2012, com apoio do PT e do PMDB.
Nem por isso é necessariamente verdade o que disse na delação. Segundo se noticiou, o equivalente a 3% dos contratos da estatal eram desviados. Estariam envolvidos governadores, senadores, deputados e ex-ministros de Estado –todos aliados da gestão petista.
Factível o esquema é; comprovado, contudo, não está. A mesma pessoa que negou a corrupção com uma mão a afirmou com a outra. Essa contradição ainda precisa ser esclarecida, e os congressistas da CPI mista terão a oportunidade de fazê-lo. Não há razão, todavia, para crer que isso aconteça.
Primeiro, Costa poderá exercer o direito de nada responder, a fim de não sacrificar a delação premiada, que exige sigilo sobre as informações prestadas. Mais importante, os parlamentares não têm interesse em uma investigação rigorosa.
Grandes financiadores de campanha negociam com a Petrobras, e não será em meio à eleição que políticos tocarão em tema espinhoso para tantos partidos. No máximo haverá o conhecido teatro das CPIs, no qual congressistas simulam indignação, e o depoente pouco acrescenta ao que já se sabe.
O silêncio de Paulo Roberto Costa, como se vê, é conveniente para a situação e para a oposição, que estarão livres para fazer as perguntas mais duras –mesmo as que jamais gostariam de ver respondidas.