Diante dos maus presságios do Banco Central (BC) sobre a economia brasileira,
a presidente Dilma Rousseff poderá escolher entre duas soluções. A mais simples
e mais de acordo com seu padrão de governo será chamar uma benzedeira. A outra,
um pouco mais trabalhosa e bem mais ortodoxa, será mudar a política econômica.
Em qualquer caso será conveniente rezar para os resultados aparecerem num prazo
bem curto. Segundo as novas projeções do BC, a economia crescerá menos que no
ano passado, a inflação será maior e as contas externas continuarão em mau
estado. As novas estimativas aparecem no Relatório de Inflação, um estudo
trimestral sobre as condições econômicas do País e sobre o cenário externo.
Os
cálculos agora apontam uma expansão de 2% para o Produto Interno Bruto (PIB), em
2014, e uma alta de preços de 6,1% neste ano, 5,5% em 2015 e 5,4% no primeiro
trimestre de 2016. Se os números se confirmarem, dentro de dois anos a inflação
oficial ainda estará bem longe da meta, de 4,5%.
A cada novo relatório a convergência para a meta é empurrada para mais tarde.
Tudo se passa como se a taxa de 4,5%, já muito alta pelos padrões
internacionais, fosse um objetivo meramente retórico, jamais levado a sério
pelas autoridades. Esse adiamento poderia fazer sentido, se uma inflação nesse
nível pudesse favorecer o crescimento econômico. A experiência, tanto brasileira
quanto internacional, nem de longe sustenta essa hipótese.
Se os fatos confirmarem a nova projeção do BC, a presidente Dilma Rousseff
contabilizará em quatro anos de mandato um crescimento econômico médio de 2% ao
ano, muito abaixo dos padrões dos países emergentes. Até há pouco, as previsões
do BC indicavam para este ano uma expansão de 2,3%, igual à de 2013.
Mas os números ficam mais feios quando se examinam os detalhes da projeção. O
melhor desempenho ainda será o da agropecuária (3,5%), embora muito menor que o
do ano passado (7%). O crescimento da produção industrial passará de 1,3% em
2013 para 1,5%. Mas essa pequena melhora dependerá em boa parte da mera
recuperação da indústria extrativa mineral - um avanço de 4% depois de um recuo
de 2,8% no ano passado. O setor de transformação, em outros tempos o mais
dinâmico e o líder da inovação no Brasil, deverá produzir apenas 0,5% mais que
em 2013. Será um desempenho miserável, depois de uma contração em 2012 e de um
crescimento de 1,9% no ano passado.
Na construção civil haverá uma desaceleração de 1,9% para 1,1%, apesar dos
planos de infraestrutura e do programa de moradias, aparentemente levados pouco
a sério pelo pessoal do BC. A indústria de produção e distribuição de
eletricidade, gás e água deverá melhorar, com a expansão passando de 2,9% em
2013 para 3,7%.
O terceiro grande setor, o de serviços, avançará 2,2%, pouco mais que no ano
passado (2%). Mas essa ainda é, no Brasil, uma área muito menos moderna e menos
produtiva que nas economias mais avançadas e já na chamada fase pós-industrial.
Do lado da demanda, o consumo das famílias deve ser um pouco menos dinâmico
que no ano passado, com expansão de apenas 2%. O consumo do governo continuará
prosperando e deverá avançar 2,1% (1,9% em 2013). O investimento em capital
fixo, isto é, em máquinas, equipamentos, edificações e obras de infraestrutura,
poderá aumentar 1%. No ano passado cresceu 6% e mesmo assim o País ainda
investiu menos de 20% do PIB, uma taxa muito distante da meta oficial - ainda
modesta - de 24%.
As novas projeções para as contas externas haviam sido publicadas no começo
da semana. O BC elevou de US$ 78 bilhões para US$ 80 bilhões o déficit estimado
para a conta corrente do balanço de pagamentos e cortou de US$ 10 bilhões para
US$ 8 bilhões o superávit comercial. O mau estado das contas externas está
ligado principalmente ao fraco desempenho da indústria no comércio exterior.
A piora das previsões do BC é compatível com os números divulgados pelas
várias fontes oficiais e privadas. Refletem a baixa qualidade da política
econômica e a teimosia da presidente e de sua equipe. Até quando?