Perdi o ano, admite Haddad
Em Brasília
"Perdi o ano", desabafou ele, em seu gabinete, ao comentar a sucessão de derrotas, em 2013.
Até agora, porém, não há sinais de que a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, vá ajudar Haddad a recuperar as finanças da Prefeitura a curto prazo.
Preocupado com a percepção externa de que o Brasil pode estar sendo negligente com o ajuste fiscal, o governo Dilma decidiu não mais apoiar a proposta que prevê a mudança retroativa do indexador das dívidas de Estados e municípios.
O projeto de lei complementar, assim como está, é a esperança de Haddad para recuperar a capacidade de investimento da cidade, após a Prefeitura sofrer um baque com a decisão do Supremo Tribunal Federal, que barrou o aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
A simples troca do indexador da dívida (de IGP-DI mais 9% ao ano por IPCA mais 4%, limitada à taxa Selic), em caráter retroativo, pode aliviar em R$ 24 bilhões o débito da Prefeitura, que hoje é de R$ 56 bilhões. A equipe econômica, no entanto, não quer a aprovação da proposta pelo Senado.
Prestes a completar um ano de governo e com a imagem desgastada desde os protestos de junho, Haddad não esconde mais a mágoa com o governo federal e com dirigentes do PT.
Patrocinadores do "homem novo" na política, todos temem agora o impacto de sua baixa popularidade nas campanhas de Dilma e do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, candidato ao Palácio dos Bandeirantes.
A estratégia de Padilha, por exemplo, é começar a campanha pelo interior do Estado e Região Metropolitana, até a esperada recuperação de Haddad. Motivo: o PT faz de tudo para evitar que o índice de rejeição do prefeito, ex-ministro da Educação de Dilma, contamine a repaginada aposta do partido no "homem novo".
Nos bastidores, Haddad avalia que sofre cobranças injustas, que aliados do PMDB são mais bem tratados do que ele pelo Palácio do Planalto e os petistas não o defendem nem divulgam medidas positivas de sua gestão, como o Bilhete Único Mensal e a ampliação das faixas exclusivas para ônibus.
O problema, no diagnóstico do prefeito, não é a política, mas, sim, a absoluta impossibilidade de tomar crédito, até mesmo para oferecer contrapartidas em programas, como o PAC das Cidades.
O pacote de investimentos do governo federal destinou R$ 8 bilhões para obras de mobilidade urbana - como construção de corredores de ônibus - e também para drenagem e recuperação de mananciais. Algumas dessas obras, porém, exigem desapropriações, que não são financiadas pelo PAC.
"Se a dívida da Prefeitura não for renegociada, a cidade ficará estagnada e quebrará em 2030", afirmou o secretário das Finanças de São Paulo, Marcos Cruz, numa referência ao ano do fim do contrato.
"Politizou-se essa discussão, mas atrelar a dívida à eleição de 2014 não tem cabimento porque não se trata de um projeto com resultado imediato. O maior beneficiário com essa renegociação será o próximo prefeito."