sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Augusto Nunes - 'O clube dos cafajestes cucarachas'

 A COP30 teria sido bem mais divertida se ocorresse em 2009


Lideranças políticas latino-americanas reunidas em ato público, em gesto simbólico de unidade e alinhamento ideológico | Foto: Reprodução 

O estranho desfile de gente imitando bicho promovido pela COP30 confirma que o presidente da República e a primeira-dama foram traídos pelo calendário. Se a COP de 2009 tivesse ocorrido no Brasil, e não na Dinamarca, a multidão que zanza por Belém do Pará seria presenteada pelo cortejo dos chefes de governo que conviviam no Clube dos Cafajestes Cucarachas. 

A comissão de frente seria formada por uma argentina (Cristina Kirchner, a Viúva de Tango), um venezuelano (Hugo Chávez, o Bolívar de Hospício), um boliviano (Evo Morales, o Lhama de Franja), um hondurenho (Manuel Zelaya, o Chapéu sem Cabeça) e um paraguaio (Fernando Lugo, o Reprodutor de Batina). Além de Lula e Janja, naturalmente. Esta coluna publicará nesta e nas próximas semanas a capivara resumida da turma. Comecemos pelo bispo que governou o Paraguai: 

O reprodutor de batina Que padre Amaro, que nada: em matéria de sacerdote mulherengo, Fernando Lugo é o cara. Jovem, bonito, recém-ordenado, Amaro cede à tentação e engravida Amélia, paroquiana de 23 anos. Admita-se: a enrascada em que se mete o personagem criado pelo escritor português Eça de Queiroz não é tão incomum no mundo real. Já as façanhas do paraguaio Lugo existiram de verdade, embora pareçam coisa de ficcionista doidão. 

Ele foi padre, tornou-se bispo e era o presidente da República quando se descobriu que, entre um comício e uma missa, multiplicava os rebanhos que conduzia emprenhando adolescentes. A primeira vítima do bispo que reinava na diocese de San Pedro foi Viviana Carrillo. Ainda criança, preparava-se para ser crismada no dia em que, na casa da tia, conheceu pessoalmente aquele cinquentão solteiro. 

Tinha 16 anos quando o conheceu biblicamente. Tinha 26 ao ficar grávida de Guillermo, que Lugo reconheceria em abril de 2011, às vésperas do impeachment que encerrou sua temporada no poder. Se tivesse parado em Viviana, empataria com Amaro, que não foi além de Amélia. Deve ter achado pouco, e continuou a desencaminhar ovelhas do rebanho. 


Fernando Lugo, ex-bispo e ex-presidente do Paraguai, protagonizou escândalos reais dignos de ficção ao envolver-se com jovens paroquianas e admitir a paternidade às vésperas do impeachment | Foto: Reprodução

Dois dias depois do desfecho da batalha judicial vencida por Viviana, que garantiu a Guillermo o uso do sobrenome Lugo, entrou em cena a vendedora ambulante Benigna Leguizamón, 27 anos. Vinda de Ciudad del Leste, chegou à capital com um filho de 6 anos a tiracolo e uma ideia fixa na cabeça: obrigar o presidente a submeter-se a um exame de DNA. Benigna jurou que não pretendia reivindicar o posto de primeira-dama, ocupado pela mãe do Reprodutor de Batina. Fazia aquilo por amor ao filho: “Lucas precisa saber quem é o pai e melhorar de vida”, explicou. 

A jovem mãe solteira contou que em 2003, à procura de consolo espiritual e amparo financeiro, foi queixar-se ao bispo. Rendeu-se em poucos dias a murmúrios nada religiosos. Conseguiu um filho, concebido na cama que continuava a acolher Viviana, e uma ajuda financeira equivalente a R$ 10 por mês. “É muita sovinice”, lastimou Benigna. Os paraguaios ainda convalesciam do segundo espanto quando o acervo de assombros foi ampliado pela aparição de Damiana Morán, 37 anos, dona de uma creche instalada na diocese de San Pedro. Carregando no colo um bebê com menos de um ano e meio, apareceu em Assunção, avisou que não reivindicava testes de DNA nem pensava em mesadas. Tampouco exigiria que Lugo assumisse a paternidade da cria.


Até trocar de vez o púlpito pelo palanque, ele não se preocupou com a ira do Papa ou da Divina Providência


“Estou aqui para melhorar as coisas”, prometeu. Piorou-as notavelmente ao revelar detalhes do que qualificou de “belíssima história de amor”. A paixão explodiu logo depois de Damiana, então militante esquerdista, juntar-se à campanha que transformaria o “Bispo dos Pobres” em presidente da República. O nome de Lugo não aparecia na certidão de nascimento de Juan Pablo, mas a mãe garantiu que o nome composto foi escolhido pelo pai. Em homenagem ao Papa João Paulo II. A terceira revelação de Damiana foi mais alarmante: mais mulheres estavam a caminho da capital — a maioria levando como única bagagem outro filho de bispo. Lugo cancelou uma viagem aos Estados Unidos, devolveu o título de bispo ao Vaticano, anunciou que assumiria a paternidade de todos os frutos que gerou, denunciou “uma conspiração em marcha” e marcou uma visita ao Brasil.

 

Damiana revelou a “belíssima história de amor” com Lugo e expôs a existência de outros filhos do ex-bispo, detonando o escândalo que implodiu sua presidência | Foto: Reprodução 


Se tivesse abandonado a vida dupla depois da primeira rendição ao império dos sentidos, seria apenas mais um na multidão. Em vez disso, o Reprodutor de Batina passou mais de dez anos absolvendo durante o dia fiéis atormentados por pecados que o confessor colecionava. Pela naturalidade com que espancou o Direito Canônico, não teme o Juízo Final. É improvável que perca o sono com a justiça dos homens. Até trocar de vez o púlpito pelo palanque, ele não se preocupou com a ira do Papa ou da Divina Providência. O que o teria levado a romper oficialmente quaisquer vínculos com a Igreja Católica? 

Talvez a certeza de que o político Fernando Lugo faria coisas muito mais infames do que as que andou fazendo o bispo Fernando Lugo. Aos 74 anos, descansa em casa depois de ter exercido um mandato de senador. Hoje só é candidato a um zero com louvor no Juízo Final.

Revista Oeste