J,R Guzzo: 'Lula transformou a catástrofe gaúcha numa quermesse do PT'

 

Presidente Lula e ministro Paulo Pimenta durante sua posse para a Secretaria de apoio à reconstrução do Rio Grande do Sul| Foto: Ricardo Stuckert/PR


Não se pode dizer que este é o pior momento do governo Lula porque o governo Lula está o tempo inteiro no seu pior momento, dia e noite, desde que começou dezessete meses atrás. Mas agora, com a tragédia das enchentes do Rio Grande do Sul, Lula, sua mulher e os bajuladores mais extremistas do seu círculo íntimo estão indo a novos extremos em matéria de desleixo com o ser humano, oportunismo e falta de escrúpulos.

Diante das mortes, da destruição e do drama de quem perdeu tudo que tinha na vida, a corte que se pendura no presidente da República está, desde o começo, com uma ideia fixa e maligna: aproveitar a desgraça do povo gaúcho para tirar proveito político pessoal. Não conseguiram pensar em outra coisa até agora: como transformar as ações de socorro, e, sobretudo, as verbas que prometem, em vantagem para as próximas eleições.


Desastres naturais, em todo o mundo, são ocasiões em que o governo tem de se mostrar eficaz, não falar de si e respeitar o luto das vítimas.


Não houve, também neste caso, a menor preocupação em manter um mínimo de decoro. Indo direto ao foco de infecção mais evidente: Lula inventou um “Ministério Extraordinário” para “cuidar” da crise (os 38 que ele já tem não são suficientes) e entregou o cargo de ministro-interventor a ninguém menos que o seu candidato ao governo do Rio Grande do Sul nas próximas eleições.

É um novo recorde, em matéria de uso da máquina e do dinheiro público para fazer campanha eleitoral. A cada cinco minutos o novo plenipotenciário aparece nas emissoras de televisão amigas (ele é também o ministro das Comunicações, vejam só) falando bem de Lula, do Exército e de si próprio. Também está convencido de que o principal problema das enchentes são as notícias de que ele e o governo não gostam – quer polícia, processo e prisão. Simula atividade todos os dias, persegue prefeitos da oposição e não faz nada: não existe nenhuma providência útil que possa ser atribuída a ele.

É o contrário. Ele próprio revelou que está perdido e não tem ideia do que fazer. “A cada hora aparece um problema novo, e a gente não sabe nem para que lado mexer”, disse ele dias atrás. “Eu acho que nós temos de nos fixar em alguma área específica. Mas não sei exatamente que área seria essa.” O resto das autoridades, em geral, vai na mesma toada. Sua prioridade máxima é aparecer para o público e dar a impressão de que estão fazendo um grande trabalho.

Levam microfones na lapela e estão sempre com o celular na mão para postar vídeos e áudio com seus atos de heroísmo. O interesse não é fazer, trabalhar e ajudar. É exibirem a si mesmos. Faz sentido montar um cenário e um “evento” para mostrar os gatos gordos do governo oferecendo, como se tivessem saído do seu próprio bolso, purificadores de água? Se querem mesmo ajudar, por que não entregam os aparelhos, simplesmente, sem essa palhaçada toda?

Desastres naturais, em todo o mundo, são ocasiões em que o governo tem de se mostrar eficaz, não falar de si e respeitar o luto das vítimas. Lula transformou a catástrofe gaúcha numa quermesse do PT, com coros de “Lulalá”, fotos com cachorrinho no colo e a primeira-dama rindo de tudo como se estivesse numa festa em sua homenagem. É esse o Brasil que estão construindo.


J,R Guzzo, Gazeta do Povo

Servidora ocupa imóvel funcional há mais de 50 anos

Os três Poderes mantêm centenas de imóveis funcionais para autoridades não pagarem aluguel - Foto: reprodução.

Uma servidora pública ocupa desde 1973 imóveis funcionais do governo federal. Aposentada, não é possível saber a função de Vera Lúcia Riani, inquilina da União, já que o campo é marcado como “função inexistente” no Portal da Transparência, que registra ainda que ela ocupa o mesmo imóvel, sem ser incomodada, desde outubro de 2010. Há ainda outros três inquilinos que desfrutam da regalia desde os anos 1970. Todos vinculados ao Ministério da Defesa. Ao menos dois são pensionistas.

Inquilino secreto

Há casos nebulosos, como um imóvel ocupado desde julho de 1980, que tem CPF, cargo, nome e vínculo escondidos. Tudo taxado como “sigilo”.

Milicos dominam

Outros cinco imóveis são ocupados desde os anos 1980. Mais quatro têm inquilinos desde os 1990. A maioria vinculada aos militares.

Pequena cidade

O governo federal tem 1.345 imóveis funcionais, a maioria em áreas nobres de Brasília. Boa parte, 1.057, está ocupada por servidores.


Diário do Poder 

Ex-presidiário Lula ignora apelo para aplicar no RS a lei que salvou 11 milhões de empregos na pandemia

Especialistas preveem desemprego devastador em poucos dias no RS


A proposta foi feita nesta videoconferência com Luiz Marinho: duas semanas de espera.


O presidente Lula (PT) tem ignorado apelos do governador, Eduardo Leite (PSDB), e de representantes do setor produtivo como a Federação das Indústrias (Fiergs), para usar a lei que poderia salvar empregos e empresas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

Tudo o que o petista precisaria fazer era assinar decreto, prevista por lei em vigor, autorizando redução de jornada e salário e a suspensão temporária de contratos de trabalho, medida que salvou mais de 11 milhões de empregos durante a pandemia. Outra pré-condição para isso já existe: o Congresso Nacional aprovou o estado de calamidade pública para o Rio Grande do Sul.

A lei 14.437/2022, que autoriza o decreto presidencial em situações de emergência  provocada por calamidade, nasceu de uma medida provisória do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e talvez seja este o problema: não usar uma lei produzida pelo antecessor.

A falta de decisão do governo Lula deverá fazer a dor das famílias se aprofundar de modo desumano.

Além da autorização excepcional para redução de jornada de trabalho e de salários, a Fiergs também sugeriu a autorização excepcional para férias coletivas. Empregados e empregadores, de acordo com a proposta, poderiam negociar antecipação das férias, usufruir férias coletivas, flexibilizar o banco de horas e suspender os recolhimentos do FGTS.

Previsão de desemprego em massa

Se nada for feito, de acordo com especialistas, dentro de alguns dias o desemprego será devastador, assim como, de acordo com entidades que representam o setor produtivo, a perda de equipamentos das empresas é irreversível.

Uma mera linha de crédito não será suficiente para reativar essas empresas ou levá-las a comprar novas máquinas, de acordo com os líderes de entidades empresariais preocupados com a “solução” baseada no endividamento de empresas em dificuldades ou quebradas.

O governador Eduardo Leite já pediu, os empresários também e os trabalhadores precisam disso para não perderem o emprego. Porque todos sabem que nem é preciso esperar a água baixar para constatar que a grande maioria das empresas não conseguirá operar com normalidade.

Duas semanas sem resposta

Há duas semanas, a direção da Fiergs se reuniu por videoconferência com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que alegou a necessidade de “tempo” para formular uma medida provisória.

Ou o ministro optou pela embromação ou, o que é mais grave, ignora que a MP para o caso foi editada no governo anterior e deu origem à lei 14.437/2022.

O ministro não sabe ou finge não saber que essa lei autoriza o Presidente da República a agir por decreto e com presteza. Mas, até hoje, desde aquela reunião de 6 de maio com diretores da Fiergs, nem Lula e nem Marinho deram qualquer resposta.

Sindicalismo atrasado contesta medida

Nos anos de 2021 e 2022, essas medidas foram adotadas em todo o País, mas, no caso do Rio Grande do Sul, envolveriam entre 2,5 e 3 milhões de trabalhadores afetados no Estado.

Lula e Marinho se negam a adotar essa providência que salvaria milhões de empregos dos gaúchos em razão de “princípios sindicais” mofados, atrasados

A pelegada do movimento sindical controlado pelo PT, sem consultar os trabalhadores, não apoiaram durante a pandemia a medida provisória de Bolsonaro que autorizou redução de jornada e salário e suspensão do contrato de trabalho, que salvou mais de 11 milhões de empregos. Os petistas kamais reconheceram o erro de não apoiar a medida que hoje querem negar aos trabalhadores gaúchos.

Diário do Poder

'Como a União Soviética tentou se aliar aos nazistas?', por Thiago Braga


Pacto de Amizade, sim, Amizade entre Hitler e Stálin| Foto: wikimedia commons


Todos os protocolos secretos que vimos na coluna anterior abriram o caminho para um plano ainda mais mordaz: Hitler convidou Stalin para participar do Eixo... Stalin aceitou o convite e enviou suas condições.

Molotov entregou por telegrama essas condições a Ribbentrop para a União Soviética fazer parte do Eixo.


Isso pegou muito mal: aquele que sempre se julgou o baluarte contra o fascismo, agora queria se aliar a ele


O negócio ficou tão feio para os comunistas que depois que os americanos descobriram os documentos alemães, os comunistas tiveram que negar e mentir sobre esses acordos até a queda do regime.


Rios de tinta de propaganda soviética escorreram para tentar apagar essa vergonha.


Na página 205 da obra "Stalin", do historiador russo Oleg Khlevniuk, vemos onde começou esse “argumentinho” furado e joga uma pá de cal nele sem pena. Veja se não é o mesmo “discurssinho” furado dos “stalinistas de apartamento” de hoje: “Tem se declarado, contudo, que Stalin nunca cogitou seriamente essa proposta de Hitler de formar um pacto quadrilateral e que as demandas enviadas a Berlim, em 25 de novembro, eram apenas uma tática moratória, projetada com a intenção de ser inaceitável para a Alemanha.”

Mas faz todo o sentido mesmo: por que você acharia que depois de Stalin ter feito todos esses pactos vergonhosos com Hitler, destruído a Polônia, massacrado dezenas de milhares de poloneses, ter negado e escondido o que fez; e aí justamente nesse tratado, que acabou vazando, eles dizem que não queriam que os nazistas aceitassem as condições? Algo de errado não está certo!

O professor explica como desde aquela época os comunistas eram mentirosos; mas nem mentir eles mentem direito. O professor diz que o principal argumento usado pelos “minions” de Stalin é um relato que apareceu anos depois de um membro do partido Tchaadaiev, em uma reunião que aconteceu.

Agora presta atenção no lugar e na data, que são importantes: 14 de novembro de 1940 em Moscou. Nessa reunião ele tomou notas enquanto Molotov falava sobre as negociações em Berlim. Essa parece ser realmente uma prova definitiva de um membro de dentro do partido na presença de Stalin e Molotov relatando o que ouvia, certo? Errado!

Pois é! Já de cara tem dois problemões nessa nota de Tchaadaiev: o dia e o local. Como ele estaria em uma reunião em Moscou, junto com Stalin e Molotov no dia 14 de novembro, se no dia 14 de novembro Molotov ainda estava em Berlim retornando para Moscou? Pode ser que Tchaadaiev tenha errado o dia e o local né, mas aí nesse caso Stalin tinha que estar em Berlim também. Porém, a gente sabe que nessa época Stalin nem tirou o "traseiro" da mãe "Ráxia".

Vamos lembrar que Molotov e sua comitiva foram e voltaram de trem, e hoje o trem mais rápido de Berlim a Moscou leva 23 horas... Só! Então a menos que comunistas soubessem parar o tempo, nem "ferrando" ele chegaria em Moscou no mesmo dia que partiu de Berlim a tempo de ainda fazer uma reunião para discutir a proposta de Hitler.

Ou seja, Tchaadaiev mentiu muito, e ainda mentiu errado! E as mentiras não param: o professor Khlevniuk segue mostrando mais evidências dessa falsidade comunista. Stalin queria muito fazer parte do Eixo! Ele queria tanto, mas tanto, que para agradar Hitler, fez até propaganda nazista dentro da União Soviética. Na próxima coluna eu te conto melhor esse babado...



Thiago Braga, Gazeta do Povo

'Como Stálin escondeu sua cooperação com os nazistas durante a 2ª Guerra Mundial', conta Thiago Braga

 

Charge feita em protesto pelos Países Bálticos nos anos 80| Foto: Wikimedia Commons


Como vimos na coluna anterior, existem fontes oficiais soviéticas e estrangeiras confirmando a propaganda escancarada soviética a favor do nazismo, eliminando suas críticas e incentivando a cultura e aproximação do povo soviético aos nazistas: Stálin não queria entrar em guerra com a Alemanha e queria continuar expandindo seu império através desses pactos vergonhosos. Se isso representasse ser amigo dos nazistas, qual o problema?

Mas aí veio a Operação Barbarossa em 1941. Quem diria que seriam os nazistas a quebrar o "Pacto de Amizade" com os comunistas: esse ato é a materialização histórica de que foram os nazistas e não os comunistas que foram realmente honestos com sua ideologia. Os comunistas não atacaram a Alemanha, mas a contra-atacaram. Isso muda tudo, não é? A Alemanha atacou primeiro e atacou para destruir a União Soviética. Se a União Soviética não atacasse de volta seriam dizimados. Portanto, contra-atacar é o que todo e qualquer país e nação do mundo tentaria fazer. Foi o que a Polônia tentou fazer sendo esmagada pelos dois lados por aqueles regimes assassinos.


Stálin não queria entrar em guerra com a Alemanha e queria continuar expandindo seu império através desses pactos vergonhosos


Então, não foi o fato da ideologia comunista ser antinazista que fez com que os comunistas atacassem pra extirpar o mundo do mau nazista. Enquanto a paz estava rolando entre comunistas e nazistas, estava tudo bem para a União Soviética: sem precisar entrar em guerra, ele expandia seu império enquanto apoiava o império nazista e sua expansão na Europa. Novamente, como vimos as declarações emitidas pelo governo soviético de 1939 a 1941, eles elogiavam bastante o governo nazista, mesmo dentro de suas cúpulas mais fechadas. A teoria anti-nazista não se confirmou na prática imperialista soviética.

Mas um fã da USSR talvez questione: “Ah, mas um dia Stálin atacaria a Alemanha primeiro sim!” Aham... Mas não atacou, não é? A gente podia estar ouvindo isso até hoje. Essa é a história: Stálin preferiu continuar "mamando" os nazistas por quase 1/3 da Segunda Guerra Mundial, e ainda tentou entrar para o Eixo meses antes de ser invadido. Foi Hitler que negou! Não esqueça nunca disso! E essa não é só minha opinião não. O professor Max Hastings também concorda com isso aqui na sua obra "Inferno" na página 17: “Embora Stálin temesse Hitler e soubesse que um dia teria de lutar contra ele, tomou, em 1939, a decisão histórica de consentir com a agressão alemã em troca do apoio nazista ao seu programa de ampliação territorial.” E agora vem o cheque-mate do professor: “Quaisquer que fossem as desculpas dadas posteriormente pelo líder soviético, e apesar de seus exércitos nunca terem lutado em parceria com a Wehrmacht, o pacto nazi-soviético estabeleceu uma colaboração que persistiu até Hitler revelar seus verdadeiros objetivos com a Operação Barbarossa.”

É isso, não tem desculpinha, não: os comunistas apoiaram e receberam apoio dos nazistas até a hora que os nazistas atacaram. Foram os comunistas que alimentaram a máquina de guerra nazista por 1/3 da guerra e que criaram junto com eles a maior guerra da história. O professor Antony Beevor, na sua obra "Segunda Guerra Mundial", mostra a ajuda massiva que a USSR deu aos nazistas aqui na página 216: “durante o período do pacto molotov-ribbentrop, a união soviética forneceu ao reich 26 mil toneladas de cromo, 140 mil toneladas de manganês e mais de 2 milhões de toneladas de petróleo.” Portanto, o terror causado pela Alemanha e que Stálin sabia desde o início que ela seria capaz de fazer, foi financiado e apoiado pela USSR. Todos os pactos secretos e assistência econômica e material dada pelos soviéticos contribuiu para a Alemanha se tornar o monstro que ela se tornou e aplicar seu terror em massa. E essa amizade entre os dois regimes poderia ter durado 10 anos, 20 anos, 50 anos. Poderia estar durando até hoje. Só não durou porque os nazistas quebraram a amizade primeiro e traíram seus amigos comunistas. Então, Stálin não fez mais do que a obrigação dele de correr com o rabinho entre as pernas e se juntar aos aliados para derrotar a Alemanha nazista depois daquele horror em Stalingrado. Agora, ele e a USSR corriam risco de serem extirpados da terra.

Mas a vergonha já tinha sido revelada ao mundo: agora só restava a Stálin e os comunistas negarem e mentirem até a queda do regime.


Thiago Braga, Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr.: 'Lula & Janja RS Flood Tour 2024: quando a hipocrisia se sobrepõe à solidariedade

 

Primeira dama do covil, Janja estrela mais uma peça publicitária do desgoverno Lula: solidariedade teatral.| Foto: Reprodução/ Twitter


Caro leitor,


Vou te contar. Não é fácil essa minha vida de observador. Porque tem horas, dias, semanas em que eu preferia não ter observado muitas das coisas que observei. Que, por dever profissional, me dispus a observar com o fascínio melancólico de quem testemunha a decadência que o cerca. A hipocrisia tomou conta do país. A mentira. A dissimulação. O teatro que transformou a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul num desfile de trombetas que anunciam a perversidade falsamente virtuosa de Lula, Paulo Pimenta, Janja, Eduardo Leite, Luciano Huck e tutti quanti.

O fato é que vi e concluí: se o propósito da catástrofe era ensinar algo a um povo viciado em se indignar e a uma geração embriagada de hedonismo, ela fracassou miseravelmente. Ou melhor, nós é que fracassamos, incapazes que somos de trocar o prazer confortável da indignação estéril, ou o exercício do poder pelo poder, por algo verdadeiramente bom: a solidariedade desinteressada que é uma das expressões do amor divino.

Vi, por exemplo, Lula fazer política sobre 150 cadáveres e sobre os escombros daquilo que um dia foi o lar e o sustento de centenas de milhares de gaúchos. Não é novidade, você diz e eu concordo. Lula está acostumado a fazer política sobre caixões Nesse caso, porém, o que chama a atenção é a disposição de tantos em admirarem a maldade que se traveste de consolo ou amabilidade.

Amor teatral não é amor. É a instrumentalização da vulnerabilidade para fins políticos. É coisa de quem já não se considera mais um ser humano. Ou, por outra, é coisa de quem considera que os problemas do cidadão comum, do pobre mortal, não lhe dizem respeito, porque ele se sente acima dos demais. De nós, claro. Do Congresso. Da Constituição. Se duvidar, até de Deus. Afinal, não foi ele quem, na prática, nomeou Paulo Pimenta interventor no Rio Grande do Sul?

O Lula presidente concorda com o Lula às vésperas de ser preso e hoje é uma ideia. Uma ideia com consequências nefastas, mas ainda assim uma ideia. E pelo mesmo caminho vai a digníssima esposa dele, prestes a deixar de ser o que é para se transformar numa ideia de deslumbramento e hipocrisia. Ela que semana passada estava quase que literalmente dando bom dia para o cavalo Caramelo e nesta semana...

Nesta semana Janja incluiu no deprimente anedotário nacional duas imagens que são o puro purê da hipocrisia. Na primeira, ela se deixou fotografar no avião presidencial, cercada por cestas básicas destinadas aos flagelados pelas inundações. Detalhe: cada uma das cestas básicas viajou com o cinto de segurança devidamente afivelado. A salvo, portanto, de qualquer turbulência. Um autor mais inspirado era até capaz de imaginar o serviço de bordo ou o capitão avisando que atingiram a altitude de cruzeiro.

Enquanto eu digeria essa imagem, eis que me apareceu outra, agora em movimento. No filmete, vê-se Janja em primeiro plano, toda “elegante” sob o céu azul de quase-inverno, assistindo a um cordão humano que tira doações de um helicóptero para depositá-las ali perto. O vídeo parece publicidade porque publicidade é. Assim como é publicidade toda a Lula & Janja RS Flood Tour 2024.

Diante disso tudo (e eu nem falei do apresentador de TV ou do âncora de telejornal), fico me perguntando se tem alguém disposto a comprar esse heroísmo de ocasião, essa solidariedade de teleprompter, essa ajuda cenográfica, essa lágrima técnica que escorre das fuças sem-vergonhas das nossas autoridades e celebridades. Ora, mas que dúvida estúpida, a minha. Sempre tem, né? Sempre tem pessoas dispostas a se submeterem. Porque a liberdade gera angústia. Mas isso é assunto para outro texto. Outra carta, talvez.

Um abraço do

Paulo.



Paulo Polzonoff Jr., Gazeta do Povo

sábado, 18 de maio de 2024

J.R. Guzzo: 'Mostrar povo ajudando o próprio povo é crime para o consórcio que manda no país'

 

Pedido de investigação de supostas “fake news” contra o governo foi feito por Paulo Pimenta, responsável pela Secom do presidente Lula.| Foto: Lucas Leffa/ Secom PR


O PT e a esquerda nacional, nesta terceira passagem de Lula pelo Palácio do Planalto, desenvolveram uma paixão súbita pela polícia. Não deu para perceber esse tipo de coisa nas duas primeiras vezes. A esquerda, naquela época, pendia mais para o lado contrário – tinha o velho hábito de ver a polícia atrás dela, e não gostava, por instinto, de farda, gente com revólver na cinta e sirene tocando. Mas como nos ensina Machado de Assis em Quincas Borba, o sujeito só aprecia o valor do chicote quando o cabo está na sua mão.

A polícia, agora, não está querendo enfiar as “lideranças populares” no camburão. Está sob as suas ordens no plano federal, faz cinco vezes por dia suas orações rituais à democracia e vive à procura de ordens para obedecer. Caiu a ficha, ao que parece. O PT percebeu o que todo o regime de esquerda já nasce sabendo: se quiser realmente ter uma permanência mais duradoura no governo, é preciso armar uma ditadura em torno de si. Pode ser disfarçada ao máximo, mas tem de ser ditadura – e o maior sonho de todas as ditaduras de esquerda é ter a sua KGB.


Imagens que mostram gente do povo ajudando o próprio povo são excomungadas como “desinformação” destinada a esconder o brilho das operações do “Estado”.


A ânsia com que o governo Lula tem se jogado na cama da repressão está especialmente visível na sua conduta em relação às enchentes do Rio Grande do Sul. Diante da pior tragédia natural que o Brasil já viveu em sua história recente, a coisa em que eles mais pensam é aquilo: “Manda prender”. Abre inquérito criminal. Põe disque denúncia. Solta a Globo em cima. Chama a ministra Cármen Lúcia. Toca polícia.

Contra quem? Idealmente, contra o povo gaúcho – essa gente “branque”, “fasciste” e “safade” que teve o desplante de se organizar para socorrer a si mesma e se mostrou mais competente para isso do que o sagrado governo Lula. Mas como não é possível prender o povo inteiro, descontaram sobre o seu grande inimigo: as fake news. Exigem, para se ir direto ao resumo da ópera, que os cidadãos que se manifestam sobre o desastre nas redes sociais copiem o noticiário da TV Globo. Se não for assim, é fake news, e fake news tem de dar cadeia.

O chefe do pelotão de fuzilamento atual é o peixe graúdo que dirige a Secretaria de Comunicação, ou o Ministério de Verbas Para a Imprensa. Quer prender os autores de notícias que desagradam o governo, sobretudo as verdadeiras. Pediu investigação da Polícia Federal. Queixou-se ao ministro da Justiça – e dali a coisa subiu para os tribunais supremos, que não têm rigorosamente nada a ver com isso. Denunciou postagens publicadas nas redes sociais como “atividades criminosas”. Colocou a mídia oficial como força auxiliar da repressão.

Foi tão bem na sua missão que Lula o transformou em Ministro Temporário da Calamidade; está encarregado, agora, de anunciar as dádivas de verbas federais de acordo com os elogios feitos ao governo. Faz sentido. Um dos critérios para a denúncia de fake news foi o tipo de imagens postadas nas redes. As que mostram gente do povo ajudando o próprio povo, em vez do Exército e de outros “agentes públicos”, são excomungadas como “desinformação” destinada a esconder o brilho das operações do “Estado”. É um crime, para o consórcio que manda no Brasil.


J.R. Guzzo, Gazeta do Povo

Gustavo Franco: “Banco Central está fazendo tudo direitinho e espero que continue”

 

Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, elogia o trabalho de Roberto Campos Neto à frente da autoridade monetária.| Foto: Fernando Bizerra/EFE


Um dos mentores do Plano Real, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco tem comemorado os 30 anos do projeto que derrotou a hiperinflação. Com a autoridade de quem é considerado o guardião da âncora cambial – que, junto com os juros altos, formou a base para a estabilização –, ele elogia o trabalho do Banco Central sob o comando de Roberto Campos Neto e diz que a condução da política fiscal pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, inspira "muito cuidado".

Hoje sócio e senior advisor da Rio Bravo Investimentos, Franco conversou com a Gazeta do Povo na última quarta-feira (15), após falar sobre o cenário econômico brasileiro a convidados do Instituto Formação de Líderes e do Instituto Livre Mercado, em Brasília. Confira a entrevista:

Gazeta do Povo – Como o sr., que entende bem de inflação, avalia a mudança de guidance [sinalização sobre decisões futuras] e a condução da política monetária pelo Banco Central?

Gustavo Franco – Eu acho que estão fazendo tudo direitinho. Espero que continuem fazendo tudo certo daqui para frente.

Como vê a divisão de votos entre os membros do comitê sobre o tamanho da redução da taxa Selic?

Essa divisão é uma novidade para nós é que ainda precisa ser melhor entendida, já que o comitê tem uma cultura de colegialidade que é muito própria. [O Copom] sempre tomou decisões por consenso, com divergências são muito mais de dosagem do que de natureza. Este 5 a 4 [placar de votos], inclusive, é uma divergência sobre 0,25% ou 0,5%, mas na direção de reduzir. Não é que metade queira subir e metade queira descer. Isso não é tão preocupante e é comum em outros bancos centrais mais antigos. Tem decisões colegiados desse tipo, com votação apertada. Às vezes o presidente perde, nada disso é incomum. A gente é que tem que se acostumar. Isso é uma novidade do Banco Central independente. A lei complementar que avançou a independência do Banco Central tem apenas dois anos, não estamos acostumados. Mas não é anormal essa divisão.

O sr. não se preocupa com as possíveis interferências políticas e a pressão que o próprio presidente Lula e o PT já fizeram sobre a queda de juros?

Eu me preocupo, sim. Mas é o seguinte: todo mundo pode falar à vontade. O presidente da República, a presidente do partido, claro, todo mundo tem direito de opinar. Outra coisa diferente é o comitê não tomar decisão técnica que tem que tomar. Eu não tenho nenhuma dúvida que o comitê tem tomado decisões técnicas, que tem agido do jeito certo.

Como o sr. vê a possível indicação do diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, para a presidência do banco, considerando que ele já deu declarações heterodoxas sobre os juros?

O debate sobre a identidade do futuro presidente está apenas começando e eu não queria falar sobre nenhum nome. É cedo. Na verdade, não é muito cedo, mas ainda vão aparecer nomes. Espero que o presidente da República e o do Banco Central conversem entre si cheguem a uma solução boa. Eu só posso torcer para que isso aconteça.

O que o sr. teria a dizer para o presidente do BC, Roberto Campos Neto?

Bom, a principal recomendação, e não é ainda mais que isso, é que ele cumpra seu mandato até o fim. É importante que ele termine bem, como tem sido o serviço dele. É importante chegar até o fim o mandato que ele foi conferido e entregar a inflação na meta. É simples como isso.


É difícil encontrar um brasileiro que não gostaria de gastar menos com tributos. Mas será que você está aproveitando todas as oportunidades para isso?


O sr. é um liberal convicto. O que tem a dizer sobre investidas intervencionistas do governo Lula, como no caso recente da Petrobras e da mineradora Vale? Acha que temos retrocedido?

Olha, eu não queria falar sobre isso, não. Isso é muito fora do meu espectro.


Qual a sua avaliação da política fiscal e da condução do ministro da Fazenda, Fernando Haddad?

A condução da política fiscal inspira cuidados. Muito cuidado.


Quais? Que conselho o sr. daria ao ministro Haddad?

Sou um colunista regular de um jornal e dou minhas impressões sobre economia. Mas não são conselhos. São recomendações que eu dou para ele e para nós todos sobre a economia. São opiniões.


Tem expectativa de reformas econômicas ainda neste governo?

Não.


Considerando a política econômica, se a eleição fosse hoje, o sr. continuaria isento entre Lula e Bolsonaro?

Olha, eu votei nulo. É só isso que posso dizer.


Rose Amantéa, Gazeta do Povo


'Teatro macabro', por Flávio Gordon

 

A dupla Lula-Pimenta - Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República


“Então, termina sendo o abrigo uma espécie de paraíso.” (Luiz Inácio Lula da Silva, mandatário brasileiro, em 15 de maio de 2024)


Em São Leopoldo, um dos municípios mais afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, parece que o show da Madonna não terminou. Sim, tal como no evento-catarse na Praia de Copacabana, no qual pulularam tentativas kitsch de “arte” blasfema anticristã e propaganda esquerdista de DCE, recendeu a pornografia (só que política) o evento montado pelo regime lulopetista na cidade rio-grandense. Ali, como em tudo o mais promovido pelo PT, o que deveria ser uma reunião dedicada aos esforços de ajuda humanitária às vítimas da tragédia transformou-se em comício e ostentação teatral de virtudes inexistentes.

Quando da vitória do atual mandatário na heterodoxa eleição de 2022, lembro-me de ter publicado aqui na coluna um singelo poema de desgosto. Intitulado “De bode”, e composto por versos alexandrinos (pelo que quero dizer versos de 12 sílabas métricas, bem entendido, sem qualquer referência a personagens de nossa República Democrática Popular e Lagosteira), o poema destacava uma característica do atual mandatário brasileiro, a saber: o seu dom de “barganhar” e “apoucar” tudo no que se envolve. Pois não é que o sujeito conseguiu apoucar e apequenar um evento que, no caso de qualquer líder político respeitável, seria marcado por demonstrações de grandeza, solidariedade e desinteressada compaixão? E, como o vício político é contagioso, diga-se que o rebaixamento promovido pelo líder transbordou necessariamente para os seus acólitos. Como no verso de Antonio Machado: “Cuán difícil es, quando todo baja, no bajar también”.


O que deveria ser uma reunião dedicada aos esforços de ajuda humanitária às vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul transformou-se em comício e ostentação teatral de virtudes inexistentes


Pois muitos baixaram no indecente comício de São Leopoldo, evento-símbolo de uma série de posturas e medidas aviltantes tomadas por políticos, militantes e propagandistas de esquerda desde o início da tragédia. O sinal mais evidente desse rebaixamento geral foi o exibicionismo estatal e o ciúme satânico do governo em relação à caridade civil espontânea, sobre o qual já discorri na semana passada. Foi esse ciúme, por exemplo, que fez o líder do regime indicar para o cargo de ministro especial para a reconstrução do Rio Grande do Sul ninguém menos que Paulo Pimenta, antes ministro da propaganda e hoje governador rio-grandense de fato, uma vez que o timorato Eduardo Leite, auto-humilhado por sua própria ausência de virtudes, foi cassado sem oferecer resistência.

Sem qualquer feito digno de nota referente ao auxílio às vítimas das enchentes – e, a bem da verdade, sem qualquer feito digno de nota em geral, exceto o de disseminar teorias da conspiração como a da “fakeada” em Bolsonaro –, o sujeito foi premiado única e exclusivamente por sua obstinada dedicação a perseguir e censurar os críticos do regime, o que, por si só, basta para demonstrar a real preocupação lulopetista em relação à tragédia. A presença de uma tal criatura no evento, e sua promoção a “reconstrutor” do Rio Grande do Sul, foi um ato de escárnio com todos aqueles indivíduos e organizações que, diante da letargia paquidérmica e da ineficiência estatal, empenharam esforços heroicos para os primeiros socorros às vítimas. Pela postura tirânica do comissário Pimenta, fica claro que, em lugar de reconstruir o estado afetado, o que o governo quer reconstruir é a própria imagem, gravemente danificada aos olhos da sociedade. Esperando por um Plano Marshall, os gaúchos receberam o Plano Pepper.

A ostentação de generosidade e a afetação de empatia por parte do regime foram teatralizadas do início ao fim. E, dentre os muitos atores canastrões da peça, destaca-se a senhora Janja da Silva, uma espécie de ministra informal de propaganda e, segundo denúncia de uma ex-colaboracionista ressentida, comandante de uma verdadeira milícia digital pró-governo. Começando pelo sensacionalismo em torno do cavalo Caramelo, e culminando na inusitada foto do avião presidencial com kits de ajuda humanitária ocupando cada um dos assentos (numa clara subutilização do espaço), todas as iniciativas da primeira-dama visaram tão somente à autopromoção.

Diante de um tal teatro macabro – que contou com a animada presença de um cada vez mais militante e menos magistrado Luís Roberto Barroso –, não pude deixar de lembrar daquilo que, em O Caminho de Swann (primeiro volume de Em Busca do Tempo Perdido), Marcel Proust comenta sobre a bondade genuína:

“Quando tive mais tarde ocasião de encontrar, no curso da vida, em conventos, por exemplo, encarnações verdadeiramente santas da caridade ativa, tinham geralmente um ar alegre, positivo, indiferente e brusco de cirurgião apressado, essa fisionomia em que não se lê nenhuma comiseração, nenhum enternecimento diante da dor humana, nenhum temor de feri-la, e que é a fisionomia sem doçura, a fisionomia antipática e sublime da verdadeira bondade.”


O espetáculo grotesco de caridade estatal encenado em São Leopoldo foi repleto de exibicionismo moral, pieguice, narcisismo, espalhafato, autocomiseração, roubo de méritos alheios e autopromoção às custas das vítimas


Com uma evidente alusão bíblica, o trecho recorda a passagem dos Evangelhos na qual Jesus Cristo trata da autêntica caridade, também ela discreta, sem comiseração, sem doçura e, sobretudo, sem autopromoção:

“Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte não tereis galardão junto de vosso Pai Celeste. Quando, pois, deres esmola, não toques trombetas diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola fique em segredo; e teu Pai, que vê em segredo, recompensar-te-á.” (Mt,6,1-4)

Nada podia ser mais distante do espetáculo grotesco de caridade estatal encenado em São Leopoldo, repleto de exibicionismo moral, pieguice, narcisismo, espalhafato, autocomiseração, roubo de méritos alheios e autopromoção às custas das vítimas. Aos promotores de uma tal pantomima, resta, mais uma vez, o recado dos Evangelhos: “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade” (Mt,23,27-28).



Flávio Gordon, Gazeta do Povo

Devastado por chuvas, RS é o 2.º estado mais endividado do país; veja ranking

 

Casa destruída em Lajeado (RS): antes da catástrofe das chuvas, dívida do Rio Grande do Sul já era a segunda maior do país, na comparação com a receita.| Foto: Sebastião Moreira/EFE


A necessidade de reconstrução de cidades inteiras após a catástrofe provocada pelas inundações no Rio Grande do Sul trouxe à tona uma dificuldade histórica do estado em lidar com suas contas públicas. Com uma sequência de resultados primários negativos ao longo de décadas, o estado é o segundo mais endividado entre as 27 unidades federativas do país, atrás apenas do Rio de Janeiro.


Na segunda-feira (13), o governo federal anunciou uma moratória de três anos nas parcelas da dívida pública do Rio Grande do Sul, com perdão dos juros, fixados em 4%, por todo o período. Com maciço apoio parlamentar, a medida foi aprovada pela Câmara dos Deputados na terça-feira (14) e pelo Senado na quarta-feira (15).


Apesar de ter recuado nos últimos anos após medidas de ajuste fiscal promovidas pelo governo de Eduardo Leite (PSDB), a relação entre a dívida consolidada líquida (DCL) e a receita corrente líquida (RCL) do Rio Grande do Sul estava em 185,4% ao fim de 2023, acima do patamar de alerta previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que é de 180%.


Com isso, o ente federativo fica atrás apenas do Rio de Janeiro, cujo indicador é de 188,4% na atualização mais recente. Na sequência do ranking dos endividados estão Minas Gerais, com 168,4%, e São Paulo, com 127,9%.

Espírito Santo, Mato Grosso, Paraíba e Paraná, por sua vez, têm DCL negativo, o que significa que a dívida consolidada dos estados é menor que a disponibilidade de caixa e demais haveres financeiros.

Como mostrou reportagem da Gazeta do Povo, a situação fiscal desastrosa do Rio Grande do Sul resulta de uma série de fatores, entre os quais se destacam o baixo índice de crescimento econômico e o gasto excessivo com o funcionalismo público.

O quadro, no entanto, era ainda mais grave nas décadas passadas. Em 2005, a relação DCL/RCL chegou a 282,7%, o que significa que a dívida do estado atingiu quase três vezes sua receita corrente.

Conforme a LRF, o governo estadual que ultrapassa o limite de 200% na proporção da DCL sobre a RCL fica proibido de realizar operações de crédito interna ou externa, com algumas exceções. Caso a dívida se mantenha acima do teto após três quadrimestres, fica impedido ainda de receber transferências voluntárias da União.

No caso do Rio Grande do Sul, o indicador se manteve acima dos 200% até 2020. Em 2021 a proporção caiu para 182,6%, subindo para 199,3% em 2022, ano em que o governo estadual aderiu ao regime de recuperação fiscal (RRF).


Endividamento dos estados em relação à receita

Confira a seguir a relação entre Dívida Consolidada Líquida (DCL) e Receita Corrente Líquida (RCL) de cada estado, segundo o Tesouro Nacional.


A razão DCL/RCL é considerada zero quando a DCL é negativa.


UF DCL RCL DCL/RCL*

Rio de Janeiro R$ 166,13 bi R$ 88,17 bi 188,4%

Rio Grande do Sul R$ 104,9 bi R$ 56,58 bi 185,4%

Minas Gerais R$ 154,91 bi R$ 92 bi 168,4%

São Paulo R$ 293,47 bi R$ 229,42 bi 127,9%

Alagoas R$ 10,14 bi R$ 14,41 bi 70,3%

Piauí R$ 7,24 bi R$ 15,38 bi 47,1%

Bahia R$ 20,84 bi R$ 57,13 bi 36,5%

Santa Catarina R$ 13,66 bi R$ 41,09 bi 33,2%

Pernambuco R$ 12,07 bi R$ 37,81 bi 31,9%

Ceará R$ 9,5 bi R$ 31,96 bi 29,7%

Goiás R$ 11,33 bi R$ 38,36 bi 29,5%

Amazonas R$ 5,9 bi R$ 22,77 bi 25,9%

Rio Grande do Norte R$ 4,1 bi R$ 16,19 bi 25,3%

Acre R$ 2,05 bi R$ 8,51 bi 24,1%

Distrito Federal R$ 7,63 bi R$ 33,14 bi 23,0%

Sergipe R$ 2,88 bi R$ 12,59 bi 22,9%

Maranhão R$ 4,43 bi R$ 23,09 bi 19,2%

Mato Grosso do Sul R$ 3,12 bi R$ 19,74 bi 15,8%

Roraima R$ 366,45 mi R$ 6,82 bi 5,4%

Rondônia R$ 670,22 mi R$ 12,53 bi 5,4%

Tocantins R$ 599,53 mi R$ 13,08 bi 4,6%

Pará R$ 1,64 bi R$ 36,23 bi 4,5%

Amapá R$ 340,09 mi R$ 7,99 bi 4,3%

Espírito Santo R$ -1,48 bi R$ 22,34 bi 0,0%

Mato Grosso R$ -6,13 bi R$ 30,9 bi 0,0%

Paraíba R$ -195,39 mi R$ 16,77 bi 0,0%

Paraná R$ -2,87 bi R$ 59,51 bi 0,0%

Trajetória da dívida do Rio Grande do Sul

Veja abaixo o histórico da relação entre Dívida Consolidada Líquida (DCL) e Receita Corrente Líquida (RCL) do Rio Grande do Sul, segundo o Tesouro Nacional:


Trajetória da dívida pública do RS



Fonte: Tesouro Nacional e Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul.



Célio Yano, Gazeta do Povo



Usar tragédia é sujo e imoral, diz presidente do Novo sobre o comportamento do ex-presidiário Lula

 

Eduardo Ribeiro, presidente do Partido Novo (Foto: Diário do Poder)


O presidente do Partido Novo, Eduardo Ribeiro, classificou como “baixo, sujo e imoral” o aproveitamento político e eleitoral da tragédia no Rio Grande do Sul pelo governo Lula (PT), que indicou o pré-candidato ao governo gaúcho e ministro da Propaganda, Paulo Pimenta, que os gaúchos já chamam de “governador biônico”, como uma espécie de interventor “reconstruir o Estado”. Ao podcast do Diário do Poder, ele disse que o Novo irá expor a hipocrisia e insensibilidade do governo.

Gaúcho não perdoa

Usar a tragédia para fazer projeção de aliado político para as próximas eleições é baixo, ressaltou Ribeiro, “e o povo gaúcho não vai perdoar”.

Boas perguntas

“Não era [Lula] o grande defensor da democracia? De onde surgiu a ideia de criar ‘ministro da reconstrução’?”, questiona o presidente do Novo.

Intervenção para quê?

Ribeiro lembrou que Eduardo Leite foi eleito numa eleição difícil: “Precisa respeitar, está fazendo seu papel. Acerta, erra, mas tá lá”.

Diário do Poder

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Escolhido do ex-presidiário Lula para atuar no RS acumula fracassos e polêmicas na comunicação do governo

 

Presidente Lula e ministro Paulo Pimenta durante sua posse para a Secretaria de apoio à reconstrução do Rio Grande do Sul| Foto: Ricardo Stuckert/PR


Após 17 meses à frente da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, a Secom, o ministro Paulo Pimenta (PT) foi escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para chefiar a Secretaria Extraordinária da Presidência da República de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul. A indicação, no entanto, está longe de ser unanimidade, até mesmo entre aliados do governo, e enfrenta críticas. O fracasso da live semanal de Lula, a licitação da Secom sob suspeita, e o pedido para investigar críticos do governo no contexto da tragédia do RS foram alguns dos fatos que marcaram a passagem de Pimenta pela comunicação do governo petista.

Nos últimos meses, a comunicação governamental tem sido questionada pelo próprio presidente, que a responsabilizou por quedas seguidas em sua popularidade. Além disso, críticas ao pedido de investigação a perfis nas redes sociais que Pimenta fez à Polícia Federal por supostas fake news envolvendo os trabalhos do governo federal no Rio Grande do Sul e a existência de possíveis irregularidades em uma licitação da Secom são alguns dos fatos que marcaram de forma negativa sua passagem pela pasta que coordena a comunicação do Executivo.

No tropeço mais recente de sua gestão na Secom, Pimenta convocou a Polícia Federal (PF) para investigar publicações que supostamente teriam difundido desinformação a respeito da atuação do Executivo durante as operações de auxílio ao Rio Grande do Sul. Segundo o ofício encaminhado à PF, o ministro estaria preocupado com “o impacto dessas narrativas na credibilidade das instituições como o Exército, FAB, PRF e Ministérios, que são cruciais na resposta a emergências”. A solicitação gerou ampla repercussão negativa. A oposição classificou a medida como uma tentativa de censurar as críticas ao governo federal.

Já no dia 22 de abril deste ano, apesar de não citar diretamente o ministro ou a Secom, Lula demonstrou sua insatisfação com a comunicação do governo. Durante lançamento do programa Acredita, no Palácio do Planalto, o presidente sugeriu que fosse criado um canal do Governo Federal, como um SAC ou um 0800, por meio do qual a população pudesse fazer suas reclamações.

A proposta de Lula veio após a divulgação de mais uma pesquisa que revelou a piora nos índices de aprovação do presidente. Desde março, o Planalto avalia que a queda da popularidade do governo se deve à falta de divulgação adequada dos resultados das medidas implementadas pelo governo, o que gera a percepção negativa nas pessoas.

À época, o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec e da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), salientou que o governo petista tem dificuldades em se comunicar com a população brasileira e em entender o cenário da comunicação na atualidade, pois a sociedade está cada vez mais antenada às redes sociais e menos nos meios tradicionais.


Comunicação digital do governo tem suspeitas de ilicitudes e cancelamento de programação

No entanto, as falhas nas estratégias de comunicação de Pimenta não se limitam aos canais tradicionais. Em fevereiro desse ano, o ministro precisou prestar explicações ao presidente após uma publicação nas redes ser interpretada como uma indireta para o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL-RJ). A partir de então, a Secom reviu o uso de ironias e memes nas mídias sociais, principalmente no que diz respeito ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos.

No mês passado, uma megalicitação realizada pela Secom causou grande controvérsia. Tratava-se da contratação de quatro agências de mídia digital para cuidar da comunicação do governo federal nas redes. Mas, de acordo com portal O Antagonista, o resultado supostamento já era conhecido um dia antes da data oficial do seu anúncio. O valor do certame, R$ 197,7 milhões, também foi alvo de críticas. Congressistas afirmaram que chamariam Pimenta para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) pediu o cancelamento da licitação ao Tribunal de Contas da União, que segue investigando o caso.

Outra das apostas em mídias digitais do ministro que se mostrou aquém dos resultados almejados foi o programa “Conversa com o Presidente”, lançado em junho de 2023 e encerrado em dezembro daquele ano. A proposta consistiu em uma live semanal, apresentada no YouTube e dirigida pelo jornalista Marcos Uchôa, na qual Lula e seus convidados falavam dos projetos de governo e de seus resultados.

Não raro, o programa se transformou em uma plataforma para que Lula desferisse críticas e ataques a seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Além da vida curta, foram apenas 22 episódios em sete meses, a live semanal teve baixa audiência, com uma média de 85 mil visualizações no canal do presidente no Youtube. Com o cancelamento do programa, o apresentador Marcos Uchôa foi exonerado da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) em fevereiro deste ano.

Ainda em 2023, a Secom de Pimenta teve que lidar com outra saia justa com a EBC. O presidente da empresa à época, Hélio Doyle, compartilhou em suas redes sociais publicações ofensivas a Israel, após o país exercer seu direito de defesa em razão dos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro. Em uma das postagens, 10 dias após os atentados do Hamas, Doyle compartilhou uma publicação do ilustrador brasileiro Carlos Latuff  que afirmava que “não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante”. Doyle foi demitido no dia seguinte.


Uso político da catástrofe e pré-campanha

Parlamentares de oposição avaliaram que a escolha de Lula foi um movimento eleitoreiro antecipado, já que Pimenta não nega uma possível candidatura ao governo do estado em 2026. Soma-se a isso, o histórico de resultados pouco expressivos de Pimenta à frente da Secom, como já foi mencionado anteriormente.

Oficializado no cargo na quarta-feira (15), Pimenta está, desde então, à frente do novo órgão que tem a função de coordenar as ações federais para a reconstrução do Rio Grande do Sul e o diálogo com os demais ministérios, com o governo gaúcho e as prefeituras.

Durante sua posse, realizada em uma cerimônia em São Leopoldo, a maior cidade gaúcha governada pelo PT e que foi amplamente afetada pelas tragédias no estado, Pimenta disse que iria se dedicar da “melhor maneira possível” à nova função. “Não podemos falhar em nenhuma hipótese”, afirmou o titular da secretaria.

O deputado federal Luciano Zucco (PL-RS) afirma que fica difícil estabelecer uma interlocução honesta entre o governo federal e o governo do Rio Grande do Sul, diante da politização que tem sido feita da catástrofe, da qual a indicação de Pimenta é um exemplo.

O parlamentar avalia que a posse do ministro foi praticamente um evento de pré-campanha promovido por Lula. "Com direito a comício, o agora ex-ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, foi nomeado para o "ministério" Extraordinário da Reconstrução", afirmou.

Em entrevista à GloboNews, Pimenta afirmou que não se utilizará do cargo para promoção de seu futuro político. “Em primeiro lugar, não pretendo misturar agenda institucional e trabalho do governo com debate da eleição de 2026. Sei diferenciar as coisas e em nenhum momento vou abdicar do que precisa ser feito. O que eu farei em 2026 é uma discussão que não será colocada agora”, afirmou o ministro.

Apesar do discurso de Pimenta, Zucco afirma que a questão política permanece delicada, até mesmo pelo caráter estratégico da indicação de Lula. Ao tirar o ministro da Secom e enviá-lo para o RS, o presidente abre uma vaga na Esplanada e a possibilidade de negociação política para a ocupação desse cargo. Além disso, afasta do comando de uma pasta problemática o aliado com pretensões políticas no Rio Grande do Sul e o envia para o epicentro das atenções do momento.

De sua parte, o governador de estado, Eduardo Leite (PSDB-RS), nesta sexta-feira (17), optou por transformar a Secretaria de Parcerias e Concessões na Secretaria da Reconstrução Gaúcha, que será comandada por Pedro Capeluppi, funcionário de carreira da Secretaria do Tesouro Nacional e que foi assessor de Paulo Guedes, ministro da Economia no governo Bolsonaro.


Analistas apontam perfil negociador de Pimenta como motivo para indicação de Lula

Por outro lado, analistas e políticos ouvidos pela Gazeta do Povo, afirmam que a história de Pimenta no RS, onde já atuou como vereador, vice-prefeito, chefe de gabinete na Assembleia Legislativa e deputado estadual e federal, bem como sua capacidade de diálogo e negociação, fazem com que seja uma figura política adequada para assumir a interlocução do governo federal com o governo estadual e os municipais.

O deputado federal Pompeo de Mattos (PDT-RS) afirmou que houve consenso na Bancada Gaúcha da Câmara de que era preciso ter um interlocutor federal junto ao Rio Grande do Sul, mas que, no momento em que essa resolução foi para a prática, começaram a aparecer os "senões'.

O parlamentar avalia que, atualmente, não há pessoa mais articulada para fazer essa intermediação do que Paulo Pimenta, que ele vê até mesmo como óbvia. “É alguém que está mais bem sintonizado, que tem a melhor leitura sobre aquilo que está acontecendo aqui no Rio Grande”, disse o deputado.

Marcio Coimbra, atual presidente do Instituto Monitor da Democracia e que ex-diretor de Gestão Coorporativa da ApexBrasil no governo Bolsonaro, opina de forma semelhante. Ele destaca que Pimenta possui uma base muito sólida no Rio Grande do Sul, o que se evidencia em suas inúmeras eleições consecutivas para cargos públicos, o que não é comum no estado.

Da interação que manteve com o político durante um período em que trabalhou no Congresso, Coimbra descreve que Pimenta tem um perfil negociador, de diálogo, o que facilita seu trabalho na liderança da nova secretaria, que tem status de ministério.

Paulo Pimenta é natural de Santa Maria (RS) e se graduou em Jornalismo (1994) pela Universidade Federal de Santa Maria, onde foi presidente do Diretório Central dos Estudantes, entre 1985 e 1986. Foi eleito vereador da cidade em 1988 e se reelegeu em 1992, ambas as candidaturas já pelo PT, partido ao qual permanece filiado durante toda a sua carreira. Chegou à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul em 1999, onde esteve até a ano seguinte, quando retornou a Santa Maria para assumir o cargo de vice-prefeito.

Em 2002, Pimenta foi eleito deputado federal em sua primeira disputa para a Câmara dos Deputados, cargo para o qual foi reeleito em outras cinco eleições consecutivas. Em 2022, foi o 31º deputado mais votado em todo o Brasil, com 223 mil votos.

O político participou da equipe de transição do governo Lula e, no início do terceiro mandato do presidente, foi nomeado ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Diante da tragédia no Sul, foi designado por Lula para a Secretaria Extraordinária da de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.



Roberta Ribeiro, Gazeta do Pövo