Eduardo Riedel (PSDB) e Capitão Contar (PRTB), adversários na disputa pelo governo do MS no segundo turno| Foto: Reprodução / ALMS
Alinhados politicamente ao presidente Jair Bolsonaro (PL), os candidatos ao governo do Mato Grosso do Sul Capitão Contar (PRTB) e Eduardo Riedel (PSDB) venceram nomes tradicionais na política do estado para chegar ao segundo turno. Entre eles, o ex-governador por dois mandatos André Puccinelli (MDB), o ex-prefeito de Cuiabá Marquinhos Trad (PSD) e a deputada federal Rose Modesto (União Brasil).
A apuração do primeiro turno mostrou Contar com 26,71% dos votos válidos (384.275) e Riedel com 25,16% (361.981). Puccinelli foi o terceiro colocado na disputa com 17,18% (247.093), Rose veio logo atrás na quarta posição com 12,42% (178.599), enquanto Trad ficou em sexto lugar com 8,68% (124.795).
A boa votação de Contar se deve ao apoio de Bolsonaro, manifestado ao vivo no debate da TV Globo que encerrou a campanha de primeiro turno, em 29 de setembro. Provocado pela presidenciável Soraya Thronicke (União Brasil), que é do estado, a sair de cima do muro na eleição para o governo sul-mato-grossense, Bolsonaro pediu aos seus eleitores no estado que votassem em Contar.
O apoio presidencial causou ruído na campanha de Riedel, que até então era o candidato da senadora eleita Tereza Cristina (PP-MS) e do governo Bolsonaro. O presidente da República, que é postulante à reeleição, chegou a gravar um vídeo para as redes sociais reiterando o alinhamento com Riedel, a pedido de Tereza. Mas o estrago na campanha do tucano já estava feito. O slogan de Contar – "Capitão lá e Capitão aqui" – ganhou força dentro do eleitorado bolsonarista e o levou ao segundo turno.
Para o cientista político e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) Daniel Miranda, a eleição foi decidida no primeiro turno em dois fatores: a influência de Bolsonaro e a força da máquina pública.
"O grande mérito do Contar foi conseguir se apresentar e se colocar dentro do eleitorado de Bolsonaro como o principal representante. Assim ele venceu nas três maiores cidades do estado: Campo Grande, Dourados e Três Lagoas. O caso do Riedel é o da continuidade. Ele é do partido que governa o estado e venceu no interior, ganhando em 50 cidades. Então a força dele está na máquina governamental e no acordo com os prefeitos", explicou Miranda.
Para se ter uma ideia da influência de Bolsonaro no estado, a apuração do primeiro turno da disputa presidencial no Mato Grosso do Sul teve o candidato à reeleição em primeiro lugar com 52,7% dos votos válidos (794.206) contra 39,04% do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) (588.323).
Contar e Riedel têm trajetória política recente
Adversários no segundo turno, Contar e Riedel apresentam trajetórias distintas e curtas dentro da política antes das eleições deste ano.
Contar foi mais um novato a se beneficiar da força de Bolsonaro nas eleições de 2018 para se eleger. Em sua primeira disputa eleitoral, foi o deputado estadual mais votado naquele pleito, com 78.390 votos.
Durante o mandato como deputado estadual, Contar ganhou notoriedade nacional ao propor um projeto de lei que proibia coreografias de danças com cunho "obsceno ou pornográfico" nas escolas estaduais do Mato Grosso, sob justificativa de evitar a "erotização das crianças e adolescentes".
A proposta chegou a ser aprovada na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, mas foi vetada pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o veto foi mantido em nova votação na Casa.
Já Riedel tem a trajetória política ligada ao agronegócio, tendo sido presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), entre 2006 e 2012. Essa experiência aproximou o tucano de outras lideranças do setor, como a ex-ministra Tereza Cristina, fundamental para o apoio do governo ao candidato no primeiro turno.
O empresário foi convidado pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB) para chefiar a Secretaria Estadual de Infraestrutura, cargo que ocupou nos dois mandatos do colega de partido, até deixar a pasta para ser o candidato de Azambuja para o governo do Mato Grosso do Sul.
Qual o futuro político das lideranças derrotadas
André Puccinelli, Rose Modesto e Marquinhos Trad saem com menor força das eleições deste ano. As três lideranças declararam no início do segundo turno o apoio em Capitão Contar, em detrimento do candidato da situação Eduardo Riedel.
Puccinelli tem 74 anos e deve retornar à aposentadoria política após a derrota. "Entendendo que a renovação ficou espelhada no sentimento popular de Mato Grosso do Sul. Em razão disso, venho manifestar minha esperança no programa de governo do Capitão Contar", declarou o emedebista em nota.
Além de declarar apoio a Contar, Rose Modesto também anunciou a saída do União Brasil após o primeiro turno. "Após consultar minha base política, tomei a decisão de deixar o União Brasil por conta do desrespeito, da falta de diálogo e do descumprimento de compromissos firmados pela direção do partido com candidatos a deputado estadual e deputado federal de nossa chapa durante a campanha", afirmou, em nota.
Já Trad apontou que as denúncias de assédio sexual em meio à campanha e o apoio formalizado de Bolsonaro para Contar no debate da Globo foram decisivos para a derrota. "Eles (eleitores) viam, em todas as posições no plano de governo e em todos os debates, que havia duas pessoas firmes contra tudo o que está acontecendo nesses oito anos no estado. Ou era o Marquinhos, ou era o Renan Contar", disse em coletiva de imprensa.
Para o cientista político Daniel Miranda, Rose é entre as três lideranças quem sai mais fortalecida da disputa, enquanto Trad deve ser o candidato mais prejudicado com a derrota.
"Marquinhos Trad foi prefeito de Campo Grande e reeleito em primeiro turno em 2020. Avalio que até pelo indiciamento por um escândalo sexual, ele saía muito pequeno dessa campanha, prejudicando seus próximos passos políticos. Já para a Rose Modesto eu vejo maior futuro político. Como daqui dois anos tem eleições novamente, acredito que o caminho dela seja tentar novamente a disputa aqui, até pela ausência de grandes nomes", diz o cientista político.
Jorge de Souza, Gazeta do Povo