quarta-feira, 8 de julho de 2020

Com supersafra, Brasil se consolida como maior produtor mundial de soja

Com a supersafra deste ano, revisada para cima pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil retoma dos Estados Unidos o posto de maior produtor mundial de soja. As projeções americanas indicam que o Brasil se consolidará na posição também na próxima safra, reforçando o bom desempenho da agropecuária brasileira, mesmo em meio à pandemia provocada pelo vírus chinêscovid-19.

Soja
O Brasil é o maior produtor mundial 
de soja Foto: Germano Rorato/Estadão
- 24/8/2018
No total, o Brasil deverá colher um recorde de 247,4 milhões de toneladas de grãos na safra que se encerra neste ano, 2,5% acima de 2019, conforme o IBGE. Para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), cujas estimativas atualizadas foram divulgadas também nesta quarta-feira, a produção total da safra 2019/2020 deverá atingir o recorde de 251,4 milhões de toneladas. O IBGE espera as maiores safras da história também para o café e para o algodão.
A produção de soja será a principal responsável pela supersafra deste ano. Na estimativa do IBGE, foram colhidas 119,9 milhões de toneladas na safra encerrada ainda no primeiro semestre, 5,6% acima da produção de 2019. Já nos cálculos da Conab, foram 120,88 milhões de toneladas, aumento 5,1% ante a safra de 2018/2019.
Em 2018, o Brasil já havia batido os Estados Unidos como maior produtor mundial de soja, mas por uma diferença muito pequena. Ano passado, os produtores brasileiros de soja enfrentaram problemas climáticos e perderam para os americanos – o recorde na produção nacional total foi garantido pelo milho. Agora, a produção americana de soja na safra 2019/2020 foi de 96,68 milhões de toneladas, na estimativa mais recente do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês, equivalente a um ministério).
Para a próxima safra, 2020/2021, o Brasil deverá ficar novamente na frente, já que os Estados Unidos deverão produzir 112,3 milhões de toneladas de soja, enquanto os produtores brasileiros deverão colher 131 milhões de toneladas, renovando o recorde, ainda nas projeções do USDA, que abrangem o mercado global – as primeiras projeções do IBGE e da Conab para a safra 2020/2021 deverão sair no fim deste ano.
O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de junho, do IBGE, elevou em 0,5% a estimativa do total de soja colhido no Brasil este ano. A produção recorde de soja só não foi ainda maior porque, nos últimos meses, o LSPA veio reduzindo suas estimativas para a colheita no Rio Grande do Sul. Na estimativa de junho, a produção gaúcha ficou em 11,2 milhões de toneladas, tombo de 39,3% em relação a 2019.
“Era para o Brasil ter colhido uma safra muito maior de soja. O problema todo foi que o Rio Grande do Sul sofreu muito com a falta de chuvas, de dezembro a maio”, afirmou Carlos Antônio Barradas, analista de agropecuária do IBGE. “Não fosse a seca no Rio Grande do Sul, a produção de soja passaria de 125 milhões de toneladas”, completou o pesquisador.
A disponibilidade de terras e a tecnologia de ponta, que leva eficiência ao campo, ajudam a explicar os sucessivos recordes na produção agrícola nos últimos anos, segundo Barradas. Além disso, na conjuntura atual, a alta do dólar torna os preços brasileiros ainda mais competitivos em relação a outros países produtores, impulsionando as exportações. No primeiro semestre, o País exportou 60,3 milhões de toneladas de soja, aumento de 38% em comparação com a primeira metade de 2019, ressaltou, em nota, a Conab.
O dólar alto também aumenta a renda dos produtores nacionais, já que eles ganharão mais em reais pelas quantidades vendidas lá fora. Capitalizados, poderão investir mais na próxima safra, o que ajuda a sustentar as projeções do USDA de novo recorde de produção em 2021.
No caso do milho, outro destaque na produção nacional de grãos, as projeções para a safra 2019/2020 começaram com queda, considerada uma acomodação em relação ao recorde colhido ano passado. Só que, nos últimos meses, as expectativas em relação à segunda safra, que é colhida no segundo semestre, vêm melhorando. De maio para junho, o IBGE elevou sua projeção para a safra 2019/2020 em 0,8%, para 97,5 milhões de toneladas, 3,0% abaixo do recorde do ano passado – ainda assim, será o segundo maior ano para a produção de milho na série histórica do IBGE.
Com ou sem recorde nacional, a produção brasileira de milho ainda está muito longe da americana, diferentemente do que ocorre na soja. As mais recentes projeções do USDA apontam para a colheita de 406,3 milhões de toneladas de milho na safra 2020/2021 nos Estados Unidos. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial, logo atrás da China, com 260 milhões de toneladas, conforme o USDA.
Já a safra de recorde de café manterá o Brasil como maior produtor mundial. A estimativa do IBGE para a produção brasileira em 2020 foi revista em 3,1% na passagem de maio para junho. Agora, o instituto espera uma produção total de 3,5 milhões de toneladas, 18,2% acima do registrado em 2019 – a alta é expressiva porque o café é colhido a cada dois anos e 2020 concentra a maior parte da colheita nessa lógica de ano sim, ano não.
Segundo Barradas, do IBGE, a boa concentração de chuvas em Minas Gerais, maior produtor nacional – com 72,3% da produção em 2020 – explica o recorde no café, também impulsionado pelo dólar elevado, já que o País exporta em torno de 50% do que produz.

“Nos últimos anos, o Brasil tinha perdido mercado global de café, com problemas climáticos nas safras de 2015 e 2016. Agora, com grandes safras e aproveitando o dólar, que está alto, os produtores brasileiros estão reconquistando mercado”, afirmou o pesquisador do IBGE.

Vinicius Neder, O Estado de S.Paulo