domingo, 24 de maio de 2020

Conheça as regras de conduta pública que passaram a vigorar em países que estão saindo do confinamento causado pelo vírus chinês

Em Paris, pessoas caminham de máscaras no Trocadero, nas proximidades da torre Eiffel Foto: Gonzalo Fuentes / REUTERS / 16-05-2020

Em Paris, pessoas caminham de máscaras no Trocadero, nas proximidades da torre Eiffel Foto: Gonzalo Fuentes / REUTERS / 16-05-2020


A pandemia provocada pelo vírus chinêsCovid-19, obrigou nações ao redor do planeta a fecharem fronteiras e suspenderem o comércio não essencial. Cinquenta e oito por cento da população mundial de 7,8 bilhões de pessoas chegou a ficar confinada em casa. O governo espanhol, ao anunciar seu plano de desconfinamento, o chamou de uma transição à “nova normalidade”. À medida que o número de contaminações pelo vírus chinês diminui em alguns países, eles afrouxam as restrições e, aos poucos, as pessoas começam a voltar às ruas. É o caso, por exemplo, de AlemanhaPortugal e França.
O projeto End Coronavírus (Acabe com o coronavírus), mantido por pesquisadores de universidades americanas e que discute as melhores formas de conter o contágio, formulou diretrizes para uma reabertura segura após as quarentenas. Elas vão desde o uso de máscara em público a restrições de locomoção dentro do território de um país, para evitar que pessoas transitem entre regiões com diferentes taxas de contágio. O projeto também recomenda um relaxamento gradual, acompanhado de testagem massificada da população e do rastreamento de novas infecções.
O cientista de sistemas Yanner Bar-Yam, fundador do projeto, reforça que o relaxamento das restrições só deve ser feito quando o país conseguir alcançar uma taxa mínima de contaminação comunitária — “o mais próximo de zero”, explica Bar-Yam. Ele teme que a reabertura precoce possa causar uma segunda onda de infecções, principalmente na Europa.
— O lado bom é que, se você fizer a coisa certa, um isolamento correto, conseguir rastrear novos casos e testar a população maciçamente, isso dura só algumas semanas — afirma o pesquisador.

Países que conseguiram controlar a Covid-19 fazem retomada gradual das atividades Foto: Arte O Globo
Países que conseguiram controlar a Covid-19 fazem retomada gradual das atividades Foto: Arte O Globo
Países que conseguiram controlar a Covid-19 fazem retomada gradual das atividades Foto: Arte O Globo
Países que conseguiram controlar a Covid-19 fazem retomada gradual das atividades Foto: Arte O Globo
Países que conseguiram controlar a Covid-19 fazem retomada gradual das atividades Foto: Arte O Globo
Países que conseguiram controlar a Covid-19 fazem retomada gradual das atividades Foto: Arte O Globo

Temor de uma nova onda

Nova Zelândia foi um dos poucos países a anunciar que não registra mais contaminações dentro do seu território. O isolamento imposto pelo governo da primeira-ministra Jacinda Ardern foi um dos mais rígidos do mundo, fechando escritórios, escolas, bares e restaurantes, incluindo entregas.
Já na Coreia do Sul a doença foi controlada com uma estratégia agressiva de “rastrear, testar e tratar”. Embora tenha registrado um novo foco de infecções no início de maio, após a reabertura de bares e boates, o governo fala em uma “quarentena da vida cotidiana”, com medidas rígidas de precaução para a volta gradual das aulas e o funcionamento da indústria e do comércio.
— Na hora de entrar e sair do prédio, eu tenho que medir a temperatura para verificar se estou com febre. O curso manda esse relatório para o governo diariamente. Também tenho que usar máscaras todo o tempo e esterilizar a sala a cada 50 minutos — diz Ariane Annunciação, professora de português e cultura brasileira em Daejeon.
No Japão, o governo não impôs o confinamento, mas recomendou regras de conduta seguidas pela população. A suspensão do estado de emergência foi antecipada para 14 de maio — exceto em Tóquio, Osaka e mais seis cidades mais atingidas pelo vírus — e a normalização das atividades é acompanhada de “um novo estilo de vida”: usem máscara, fiquem a dois metros de distância uns dos outros, lavem as mãos, troquem de roupa ao voltar para casa, trabalhem de forma remota, evitem o transporte público na hora do rush.

Lágrimas diante do mar

Na Europa, países fortemente afetados pela pandemia e que adotaram quarentenas rígidas — como ItáliaEspanha e França, que juntas somam mais de 89 mil mortes — começaram, no início deste mês, a aliviar as restrições. Na Itália, os ônibus devem circular com 50% da lotação, e alguns restaurantes, que só puderam voltar a servir nas mesas na semana passada, medem a temperatura dos clientes.
— Saí para jantar e na entrada do restaurante eles mediram a minha temperatura. Também não há mais cardápios, você precisa baixá-lo pelo celular ou usar um descartável. O garçom usa máscara e luva e não pode tocar no seu copo nem em nenhum utensílio da mesa — conta a médica Bruna David, moradora de Milão — São muitas formalidades, mas com o tempo você acaba relaxando. As pessoas estão felizes de poderem sair, mas ainda estão assustadas.
A Alemanha, que testou mais do que a maioria dos seus vizinhos europeus e não teve tantos óbitos, adotou em março medidas para restringir a locomoção das pessoas. Hoje, em reabertura paulatina desde meados de abril, o novo cotidiano alemão é marcado pelo uso de máscaras e pelo controle do distanciamento social.
— Há um sistema de fichas para entrar no mercado. Quando elas acabam, você não pode entrar na loja e precisa esperar numa fila do lado de fora. Também só é permitido entrar com um carrinho, que é desinfetado ainda na entrada — explica o brasileiro Pedro Fior, que mora em Konstanz, na fronteira com a Suíça.
Na Espanha, a maioria das regiões começou a reabrir locais públicos. Na última semana, Barcelona liberou as areias da praia para caminhadas, durante o período das 6h às 20h.
— No primeiro dia do desconfinamento, eu peguei minha bicicleta e fui em direção à praia, às 7h. Quando vi o mar, caiu uma lágrima de alegria. Foi muito emocionante a sensação de sair e não ser perseguida pela polícia — conta Ana Luisa Guy de Medeiros, brasileira que mora na cidade há cinco anos.
Com informações de Camila Zarur e Thayz Guimarães, O Globo