sábado, 23 de maio de 2020

Celso de Mello e a infâmia: os “bolsonaristas fascistóides”, por José J. de Espíndola

São “bolsonaristas fascistóides, além de covardes e ignorantes". (Celso de Mello, ministro do STF, sobre pessoas que supostamente têm abarrotado as caixas de mensagens de juízes de tribunais de Brasília com mensagens anônimas, segundo Mônica Bergamo)
Não, longe de mim defender quem anonimamente manda mensagens a quem quer que seja, ameaçando-o do que for. É um gesto de covardia (o anonimato é sempre covarde) e covardes não têm minha defesa, têm minha repulsa. Mas repudio com maior ênfase a frase deste ministro destacada acima, pela sua generalidade, impertinência e - pela proteção de que desfruta o ministro - algo também de covarde.
Certamente que nem todo bolsonarista (entendido aqui como aquele que votou em Bolsonaro e apoia muitas de suas políticas, embora possa discordar dele em vários pontos) é fascistóide, e isto não parece ter sido distinguido na fala de Celso de Mello. No popular, ele parece ter jogado merda no ventilador para atingir a todos os que não votaram no seu candidato (teria sido Haddad?).
Sempre combato os membros de seitas políticas, seja ela o comunismo, o fascismo, o peronismo, o lulopetismo, o chavismo ou (conforme parece se comportar uma parcela dos eleitores de Bolsonaro) o bolsonarismo.
Toda seita política é nefasta por causa do necessário culto a uma personalidade, a um líder, a um semideus que ela inevitavelmente encarna. Como todas as demais seitas religiosas, a seita política é dogmática. É este dogmatismo, inerente também às seitas políticas, que confere infalibilidade e perfeição ao líder, o faz imune a qualquer erro e o põe – independentemente das circunstâncias – acima de qualquer suspeita e de crítica.
As democracias consolidadas dispensam esta perfeição de líder. Dispensam semideuses e mitos. Mas eles são indispensáveis às ditaduras e a projetos de ditaduras, como foi o do governo Lula da Silva.
Jair Bolsonaro deveria cuidar de não se tornar um semideus, um “mito”. Não é isto que seus 58 milhões de eleitores desejam dele.
Querem apenas um governo competente – nas várias áreas da administração pública – honrado e desejam ter, acima de tudo, um presidente que saiba distinguir e separar questões familiares e questões de Estado.
E, quando essas questões aparecem lado a lado, ponha-se firmemente ao lado do Estado do qual é chefe.
O Marechal Castelo Branco deu uma demonstração exemplar disto que falo. Pouco após assumir o governo em 1964, ficou sabendo que seu irmão, um servidor público, havia recebido dos colegas, um carro importado. Sem hesitar, telefonou ao irmão mandando devolver o carro. “Devolva logo, senão mando te prender”, conta a história.
Este é o meu lado, a minha posição inarredável. Tenho publicado vários artigos que são testemunhos do que acima afirmo.
Agora, aquela expressão “bolsonaristas fascistoides”, colocada lá em cima, vinda de um membro do STF, é totalmente inadequada, inoportuna, descabida, desproporcional e denunciadora de intenções políticas, portanto nada jurídicas.
No caso, o autor daquela expressão é o “Pavão de Tatuí” - paráfrase perfeita de Augusto Nunes ao título “Águia de Haia, conferido antes a Ruy Barbosa. É o “Ministro dos Embargos Infringentes” /1/ – membro da Facção-Pró-Crime do STF, segundo a expressão de J. R. Guzzo - tão caro aos criminosos do PT e aos membros do alto escalão da bandidagem de colarinho branco do Brasil.
O STF é, supostamente, uma suprema corte. Oficialmente, não há dúvidas quanto a isto; qualitativamente, está muito longe disto. Mesmo assim, não cabe a um dos seus membros descer a este nível, muito menos publicamente.
Celso de Mello é o ministro relator do caso do vídeo envolvendo Bolsonaro, Moro e seus ministros. Com aquela declaração pública perde – se é que as tinhas – as condições jurídicas e morais para julgar qualquer coisa a respeito do tal vídeo. Juiz fala nos autos e não através de bate-boca pela imprensa contra ou a favor dos investigados.
Mas, estamos no Brasil, um país sem ética e sem vergonha. Por isso Celso de Mello certamente continuará “julgando” o presidente que, por ser Bolsonaro será também, necessariamente, bolsonarista e, quem sabe, segundo o Pavão da Tatuí, um “fascistoide.”
Sim, estamos no Brasil, ora pois!
REFERÊNCIA:

José J. de Espíndola

Engenheiro Mecânico pela UFRGS. Mestre em Ciências em Engenharia pela PUC-Rio. Doutor (Ph.D.) pelo Institute of Sound and Vibration Research (ISVR) da Universidade de Southampton, Inglaterra. Doutor Honoris Causa da UFPR. Membro Emérito do Comitê de Dinâmica da ABCM. Detentor do Prêmio Engenharia Mecânica Brasileira da ABCM. Detentor da Medalha de Reconhecimento da UFSC por Ação Pioneira na Construção da Pós-graduação. Detentor da Medalha João David Ferreira Lima, concedida pela Câmara Municipal de Florianópolis. Criador da área de Vibrações e Acústica do Programa de Pós-Graduação em engenharia Mecânica. Idealizador e criador do LVA, Laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC. Professor Titular da UFSC, Departamento de Engenharia Mecânica, aposentado.


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