O presidente Jair Bolsonaro deu uma bronca pública no presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Joaquim Levy, e ameaçou demiti-lo na próxima segunda-feira, 17, caso ele não suspenda a nomeação do advogado Marcos Barbosa Pinto para o cargo de diretor de mercado de capitais do banco de fomento.
Bolsonaro ameaça demitir Levy
"Levy nomeou Marcos Pinto para função no BNDES. Já estou por aqui com o Levy", disse o presidente neste sábado, 15. "Falei para ele: demite esse cara (Pinto) na segunda ou eu demito você (Levy) sem passar pelo Paulo Guedes (ministro da Economia)", afirmou o presidente.
Bolsonaro deu a declaração ao sair do Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência, em direção à base militar. Ele viaja na tarde deste sábado para Santa Maria (RS), onde participa de uma cerimônia militar à noite.
"Governo tem que ser assim: quando coloca gente suspeita em cargos importantes e essa pessoa, como Levy, já vem há algum tempo não sendo leal àquilo que foi combinado e àquilo que ele conhece a meu respeito, ele (Levy) está com a cabeça a prêmio há algum tempo", continuou o presidente.
Ao ser questionado por uma jornalista se estava demitindo publicamente o presidente do BNDES, Bolsonaro negou. "Você tem problema de audição?", questionou à repórter.
Na sexta, durante café da manhã com jornalistas, Bolsonaro demitiu o presiente dos Correios, general Juarez Cunha, por ter se comportado como "sindicalista" ao ser contrário à privatização da estatal, avalizada pelo presidente.
Agora, o que irritou Bolsonaro foi o presidente do BNDES ter colocado Pinto - que já tinha trabalhado como assessor do BNDES durante o governo PT, de 2005 a 2007 - na diretoria que terá como foco a venda de participações da BNDESPar, braço de participações do banco de fomento.
Pinto foi chefe de gabinete de Demian Fiocca na presidência do BNDES (2006-2007). Fiocca era considerado, no governo federal, um homem de confiança de Guido Mantega, ministro da Fazenda nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
O próprio Levy foi ministro da Fazenda de Dilma entre 1º de janeiro e 18 de dezembro de 2015, primeiro ano do segundo mandato da petista.
Queimado
Antes mesmo da crítica de Bolsonaro, o presidente do BNDES já estava enfrentava desgaste dentro da própria equipe econômica, como mostrou o Estado. Levy resistiu à devolução de R$ 100 bilhões do banco ao Tesouro, como exigiu a equipe econômica. "Não sei se ele quer, mas vai ter de devolver", disse Guedes ao Estado na sua primeira entrevista exclusiva à imprensa nacional. Com a declaração, o chefe da Economia do governo Jair Bolsonaro tornava público um embate já em curso no ministério.
A previsão era que o banco estatal pagasse R$ 26,6 bilhões em 2019, de acordo com cronograma definido durante o governo Temer – desde 2015, já foram devolvidos mais de R$ 300 bilhões. Mas Guedes quer mais. “Despedalar” o BNDES, como gosta de repetir o ministro, foi assunto na campanha e se tornou meta de governo.
A medida, que reduz o tamanho do banco, se encaixa no plano liberal de Guedes e contribui para baixar a dívida pública federal. Também cai muito bem na turma bolsonarista, que vê no BNDES um símbolo da era petista. Para esse grupo, o banco estatal que emprestou bilhões à Venezuela, a Cuba e a empreiteiras como a Odebrecht precisa quitar o quanto antes sua conta com a União.
Para Bolsonaro, Levy fez pouco em relação a uma das primeiras promessas do presidente, que foi abrir a “caixa preta do BNDES”. O banco, sob sua gestão, limitou-se à reedição de uma lista já conhecida de maiores devedores. Mas causou barulho nas redes sociais.
Responsável pelo convite a Levy, que deixou o posto de diretor no Banco Mundial para assumir o comando do BNDES, Guedes costuma reforçar a interlocutores que o tem em boa conta. Bancou seu nome junto a Bolsonaro, que não gostou da ideia de ter um ministro “petista”. Os dois chegaram a discutir durante uma reunião na casa de Bolsonaro no Rio. O presidente eleito resistiu, mas, diante da posição firme de Guedes, capitulou ao Posto Ipiranga.
O ministro elogia com frequência a formação técnica de Levy – ambos têm doutorado pela Universidade de Chicago. A pessoas próximas já disse que ele seria um bom nome para a presidência do Banco Mundial caso o Brasil tivesse o direito de indicar o próximo mandatário da instituição ou algum cargo no exterior. Preocupa o ministro, contudo, que Levy esteja influenciado pelas pressões do que chama de “burocracia do banco”, segundo relatou recentemente a pessoas próximas.
Camila Turtelli e Adriana Fernandes, O Estado de S.Paulo