quarta-feira, 26 de junho de 2019

50 anos do Pasquim, que desafiou a moral, os bons costumes e a ditadura militar

Quando chegou às bancas, no dia 26 de junho de 1969, o tabloide Pasquim reivindicou para si um espaço único na imprensa brasileira. Com um time de craques, que incluía Millôr Fernandes, Ziraldo e Henfil, o semanário utilizava inteligência e deboche para fazer resistência à rigorosa censura imposta pelo regime militar, intensificada com o AI-5. 
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Charge de Ziraldo para O Pasquim Foto: Antologia Pasquim
Pasquim ousava no conteúdo e na linguagem que ocupavam suas 32 páginas. Capas provocativas, coloquialismos e entrevistas curiosas faziam parte do pacote. “O nosso negócio era ser do contra. Contra a ditadura, contra as capas (não confundir com contracapas) e a linguagem solene dos jornalões no final dos anos 1960”, escreveu Jaguar na introdução de uma edição comemorativa lançada em 2009.
O tabloide chamou a atenção dos militares ao desafiar o conservadorismo. Na edição nº 22, a famosa entrevista com Leila Diniz, musa do prazer na década de 1960, foi publicada com asteriscos que substituíam os inúmeros palavrões que preenchiam suas falas. Foi quando a ditadura passou a acompanhar a publicação mais de perto – a partir do 39º número do Pasquim, a censura fazia seu trabalho diretamente na redação. 
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Ivan Lessa e Jaguar, membros da equipe do Pasquim Foto: Antologia Pasquim
A perseguição tornou-se violenta em 1970, quando Ziraldo, Tarso, Francis, Cabral, Maciel, Fortuna, Jaguar, o fotógrafo Paulo Garcez e o funcionário Haroldo passaram dois meses presos (ou "gripados", como noticiava o jornal, driblando o cerco). E, se algum texto conseguisse enganar o censor, a edição era confiscada na banca. Isso assustou anunciantes e prejudicou a circulação. A empresa passava, ainda, por dificuldades administrativas.
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Reprodução de charge do Pasquim censurada Foto: Divulgação
Pasquim chegou 1.072 vezes às bancas, em 22 anos de existência. Em seu quadro, contou com nomes como Sérgio Cabral, Tarso de Castro, Claudius, Fortuna, Ivan Lessa, Paulo Francis, Luiz Carlos Maciel e Sérgio Augusto, colunista do Estado. Deixou um precioso legado: textos mais soltos na imprensa diária e um incentivo ao humor escrachado e inteligente.

Relembre capas clássicas do Pasquim

Edição número 22
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Leila Diniz na capa do Pasquim Foto: Antologia Pasquim
Edição número 151
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Elke foi capa da edição 151
Edição número 158
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Capa da edição 158 do Pasquim
Edição número 161
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Capa da edição 161 do Pasquim Foto: Antologia Pasquim
Edição 333

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Rogéria retratada como Monalisa Foto: Antologia Pasquim

O Estado de S.Paulo