sábado, 23 de março de 2019

Bolsonaro diz que atritos existem porque alguns não querem largar a velha política

SANTIAGO
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) criticou neste sábado (23) a “velha política” e os recentes atritos enfrentados pelo governo na condução da reforma da Previdência. Para ele, a responsabilidade agora está com o Parlamento.
Bolsonaro falou três vezes sobre o impasse político durante visita a Santiago, onde está em viagem oficial.
Ele comentou o tema em café da manhã com empresários, em discurso ao lado do presidente do Chile, Sebastián Piñera, e também em rápida entrevista coletiva.
O presidente brasileiro respondeu às declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem criticado a falta de articulação política para a aprovação das mudanças nas aposentadorias.
“Os atritos que acontecem no momento, mesmo eu estando calado e fora do Brasil, acontecem na política lá dentro porque alguns, não são todos, não querem largar a velha política”, afirmou Bolsonaro.
Presidente Jair Bolsonaro em evento do Palácio La Moneda, sede do governo chileno
Presidente Jair Bolsonaro em evento do Palácio La Moneda, sede do governo chileno 
Claudio Reyes/AFP
Em Brasília, ainda pela manhã deste sábado, Maia disse que o presidente precisa mostrar o que é a “nova política”. Ele ainda afirmou que o presidente deveria assumir responsabilidades e não terceirizar a articulação política.
Para Bolsonaro, porém, a reforma da Previdência não é uma questão de governo, mas de Estado.
“A responsabilidade no momento está com o Parlamento brasileiro. Eu confio na maioria dos parlamentares”, afirmou.
“A bola está com ele [Maia], já fiz a minha parte, entreguei, o compromisso dele é despachar e o projeto andar dentro da Câmara, nada falei contra o Rodrigo Maia, muito pelo contrário, estou achando que está havendo um tremendo mal-entendido”, afirmou.
Sobre as críticas do presidente da Câmara, Bolsonaro disse não entender o tom agressivo.
“Nunca o critiquei, eu não sei por que ele de repente está se comportando dessa forma um tanto quanto agressiva no tocante à minha pessoa”, disse o presidente. 
“Agora, o que é articulação? O que é que está faltando eu fazer? O que foi feito no passado não deu certo e não seguirei o mesmo destino de ex-presidentes, pode ter certeza disso.”
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Michel Temer (MDB) estão presos. O petista foi condenado na Lava Jato, e o emedebista está em preventiva.
“Eu até perdoo o Rodrigo Maia pela situação pessoal que ele está vivendo. O Brasil está acima dos meus interesses e do dele. O Brasil em primeiro lugar", afirmou Bolsonaro.
Maia é casado com a enteada de Moreira Franco, ex-ministro de Temer e ex-governador do Rio, que também foi preso nesta semana por ordem do juiz Marcelo Bretas, da Lava Jato no Rio.
 
Ele disse que governa “sem acordos político-partidários” e que “escolheu um ministério técnico”, em que as pessoas “querem participar por patriotismo, e isso desagradou os políticos tradicionais”.
Ainda ao alfinetar a “velha política”, afirmou que “somos os campeões de corrupção, o que está exposto aí perante a mídia, grande parte é verdade”.
​O presidente reforçou o discurso de que as mudanças nas aposentadorias são importantes para a superação da crise econômica.
“Temos a chance de sair dessa situação em que nós nos encontramos com as reformas. E a primeira delas, a mais importante, é essa, a da Previdência”, disse.
Bolsonaro defendeu também uma ampliação da reforma trabalhista. “Devemos beirar a informalidade porque a nossa mão de obra talvez seja uma das mais caras do mundo.”
“Estamos a caminho da quarta revolução industrial, a mão de obra física fica cada vez mais dispensável e nós temos uma série de profissões que deixarão de existir”, disse.
O presidente afirmou ainda que chegou à Presidência por dois milagres, um deles.
Um deles foi “ter sobrevivido a um atentado político, uma tentativa de homicídio”, e o outro foi ter feito campanha  com poucos recursos e “sendo massacrado pela mídia, com acusações homofóbicas, racistas, fascistas, essas coisas chatas que não colaram perante a opinião pública brasileira”.
Segundo Bolsonaro, se a eleição tivesse sido ganha por Fernando Haddad (PT), “ele não estaria aqui conversando com vocês, ele estaria conversando com o Maduro”.
O presidente disse estar feliz por visitar o Chile e que depois irá a outro país que admira, Israel.
“Por que o que é Israel? É um mar de areia, nem petróleo tem. E olha o que eles são. E o Brasil, que tem tudo e olha o que nós somos. Onde está o erro nisso, qual é o nosso problema? Está na classe política.”

Sylvia Colombo, Folha de São Paulo