sábado, 23 de março de 2019

"A saída virá das ruas", por Ruy Fabiano

As prisões do ex-presidente Michel Temer e de seu ex-ministro e ex-governador do Rio de Janeiro, Moreira Franco, devolveram o protagonismo à Lava Jato – e, com ele, o pânico e desequilíbrio que infunde ao meio político-empresarial. Mais dois figurões em cana.
Ao menos duas perguntas se impuseram desde então: quais serão os próximos (fala-se na ex-presidente Dilma) e em que medida isso afetará as relações do presidente Bolsonaro com o Congresso.
Lá tramita, afinal de contas, a proposta central de seu governo, a reforma da Previdência, cujo destino determinará de maneira inapelável o seu futuro e o do próprio país.
Mesmo não sendo o presidente o responsável pelas prisões, é óbvio que sua figura serve de estímulo e garantia aos que, no Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal, combatem a corrupção.
Ele faz contraponto ao papel defensivo (e ostensivo) que o STF tem exercido em relação aos réus. Foi eleito com esse compromisso, de fazer a fila andar.
Para melhor cumpri-lo, tornou o símbolo dessa operação, o hoje ex-juiz Sérgio Moro, seu ministro da Justiça.
A promessa de passar o país a limpo – isto é, saneá-lo institucionalmente – não é nova; é até recorrente. Serviu a que Lula e o PT surgissem, prosperassem e chegassem ao poder.
Mas não infundiram temor, pois, pela conduta em prefeituras e governos estaduais, que precedeu a conquista do poder federal, sabia-se que não a cumpririam. Era puro marketing.
Com muita rapidez, assimilaram as práticas que condenavam e as levaram ao paroxismo. Nunca antes. Em nome da governabilidade, mantra que justifica as piores atrocidades morais, instituíram a corrupção sistêmica. O resultado está sendo exposto pela Lava Jato.
Foram quatro mandatos sem oposição efetiva, cooptada pela “governabilidade”. Nenhum dos partidos relevantes eximiu-se de cumplicidade: PMDB, PDT, PSDB, PP etc.
Bolsonaro, em sua campanha, prometeu, no quesito moralidade, o mesmo que o PT quando na oposição. A diferença é que não se trata de marketing. E os expoentes da assim chamada velha política – que é velha mas revela imenso talento em renovar-se – já não têm dúvidas quanto a isso. Resta-lhes o velho truque de criar dificuldades para vender facilidades. Não está funcionando.
O aparato da mídia convencional, partícipe desse processo, perdeu relevância com o advento das redes sociais, de que é prova inconteste a própria eleição de Bolsonaro, a que se opôs sem êxito.
O grande desafio de Bolsonaro é unir a frente híbrida e desarticulada que o elegeu e mantê-la sob pressão popular. Mais uma vez, a solução terá de vir das manifestações de rua.
Sem essa pressão, a única capaz de pôr fim à resistência fisiológica do Congresso e à intocabilidade imperial do STF, não há como sanear o establishment institucional – e, por extensão, não há como viabilizar nem o projeto de Paulo Guedes, nem o pacote anticrime de Sérgio Moro. A política tende à acomodação.
A saída para o governo é trocar os gabinetes pelas ruas e fazer uso inteligente da Ágora contemporânea, as redes sociais.
Ruy Fabiano é jornalista

Com Blog do Noblat, Veja