Hugo Chávez tinha horror de gente rica. “Ser rico é ruim, é desumano. Eu condeno todos os ricos”, disse certa vez o comandante. Ninguém sabe se o patriarca do bolivarianismo acreditava mesmo no que dizia, mas certamente, se estivesse vivo, teria problemas em casa. Hoje, enquanto a maioria dos venezuelanos administra a pindaíba, os filhos da elite chavista vivem como nababos, circulando em jatinhos privados, se hospedando em hotéis de luxo e posando com maços de dólares nas redes sociais.
A mais conhecida face da nova elite bolivariana é María Gabriela Chávez, chamada pelo pai carinhosamente de “Heroína”. Filha mais velha do ex-presidente, ela mora em Nova York, onde ostenta o cargo de vice-embaixadora na ONU. De acordo com a revista Forbes, María é a mulher mais rica da Venezuela e esconde uma fortuna de US$ 4 bilhões em bancos americanos e europeus.
A caçula de Chávez é Rosinés. Ela não ganhou apelido fofo do pai, mas foi a única que frequentou escola privada – ela tinha 3 anos quando Chávez assumiu o poder. Hoje, a jovem estuda na Universidade Sorbonne, em Paris, e é assídua nas redes sociais, postando fotos ao lado de celebridades e carros de luxo.
Em 2012, Rosinés causou furor na internet ao publicar uma foto no Instagram segurando um leque de notas de dólar. A imagem irritou os venezuelanos, que sofriam restrições para comprar moeda estrangeira. A mãe, a jornalista Marisabel Rodriguéz, que se divorciou de Chávez em 2003, defendeu a filha no Twitter. “Eu disse a ela que o erro não foi tirar a foto. Foi publicá-la em um meio onde há pessoas ignorantes que não respeitam os outros.”
Como pai, Chávez sempre foi próximo das meninas, mas mantinha uma relação confusa com seu único filho. “De todos eles, o maior enigma é Hugo Rafael”, escreveram Alberto Barrera e Cristina Marcano no livro Hugo Chávez Sin Uniforme. Nos corredores do Palácio de Miraflores é notório que Huguito, como é conhecido o rapaz, tem espírito rebelde. O pai era apaixonado por beisebol, mas o garoto prefere futebol e se diz fã de Lionel Messi. Desde criança, odeia a política e raramente comparecia a atos oficiais. Hoje, seu passatempo é usar os aviões do Estado para flanar com os amigos em ilhas do Caribe.
Os pimpolhos de Chávez, porém, não os únicos sócios da nova burguesia bolivariana. Daniella Cabello, filha de Diosdado, um dos homens mais importantes do chavismo, também é assídua no Instagram. Aos 26 anos, ela é socialite em Caracas. Nas redes, se apresenta como influencer e cantora. Na semana passada, o jornalista Vladimir Kislinger postou no Twitter o cartão de embarque de uma viagem de Daniella para Xangai, com escalas em Havana e Moscou. A socialite viajou ao lado do irmão, Tito, usando o sobrenome da mãe, Contreras, para evitar constrangimento.
Nicolasito, filho de Nicolás Maduro, também prefere viver em Caracas, onde acumula cargos de deputado, coordenador de uma escola de cinema e diretor de uma agência ligada à vice-presidência. Em 2015, ele foi filmado no casamento de um empresário, no Hotel Gran Meliá, na capital, Caracas, dançando enquanto notas de dólares eram jogadas sobre sua cabeça.
Maduro ainda tem dois enteados, filhos da sua mulher Cilia Flores. Um deles é Yoswal Flores, de 30 anos, sem profissão conhecida. Desde que o padrasto chegou ao poder, ele só viaja em jatos privados e adquiriu uma estranha paixão por carros de luxo e motocicletas de alta cilindrada. Em 2017, ao lado do irmão, Walter Flores, torrou US$ 45 mil em 18 noites no Hotel Ritz, um dos mais caros de Paris.
Enquanto isso, os venezuelanos parecem viver em outra dimensão. Esta semana, o jornalista Jorge Ramos, da Univisón, maior TV em espanhol dos EUA, filmou alguns jovens comendo lixo em Caracas. Maduro não curtiu. Mandou prender a equipe e colocou todo mundo no primeiro voo para Miami. Como dizia o comandante Chávez, “o capitalismo é mesmo o reino do egoísmo”.
Cristiano Dias, O Estado de S.Paulo