segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Vídeo mostra corre-corre em prisão do terrorista Battisti, comparsa de Lula, na Bolívia; assista

SANTA CRUZ DE LA SIERRA
Relatos de testemunhas da prisão do italiano Cesare Battisti na Bolívia contrariam a versão oficial da polícia de que a captura aconteceu de forma completamente pacífica e discreta. Dois tiros foram disparados para o alto quando ele já estava dominado, segundo duas pessoas que presenciaram a ação, no sábado (12).
Cesare Battisti é levado por policiais ao chegar ao aeroporto de Roma
Cesare Battisti é levado por policiais ao chegar ao aeroporto de Roma nesta segunda (14) - Xinhua/Alberto Lingria
Imagens e depoimentos obtidos pela Folha nesta segunda-feira (14) dão conta de correria na rua na hora em que os disparos foram escutados. A polícia boliviana, responsável pela detenção, recusou pedidos de entrevista ao longo do dia para falar sobre o caso.
As cenas foram registradas pelas câmeras de uma oficina de motos que fica perto do local da prisão. O sistema de segurança, porém, não alcança o local exato da captura —feita na calçada de uma escola, que na hora estava fechada.
O dono da oficina, Osvaldo Antezan Blanco, 35, narrou as cenas ao exibi-las à Folha. As imagens do circuito de segurança não têm áudio, mas na gravação feita pela reportagem também são ouvidos sons de uma TV que estava ligada e do motor de uma moto que era consertada.
A sequência começa com Battisti passando por uma ponte de concreto sobre o córrego que corta a avenida. Um homem de preto está logo atrás dele, mas se apressa e cruza o asfalto antes do italiano. Esse homem, que caminha em direção à câmera, era um policial, de acordo com Blanco.
Battisti, de camiseta preta e calça azul escura, atravessa a avenida na sequência, na diagonal, e chega à calçada, perto de onde estava o carro da polícia boliviana. 
De acordo com o mecânico e com a dona de casa Yalili Seas, 27, que também se apresenta como testemunha da prisão, dois agentes saltaram do veículo com armas apontadas para o italiano e anunciaram a prisão.
Os dois dizem ter visto Battisti se ajoelhar e, logo depois, ser imobilizado. Um dos agentes então segurou as mãos do preso para trás e deu dois tiros para o alto. O barulho provocou tumulto, com pessoas correndo em pânico para se proteger. Dois rapazes se afastam em uma moto, como registram as imagens.
"Quando vi, parecia que a polícia estava perseguindo alguém que já conhecia", diz Blanco. "Foram dois tiros para o alto. [Battisti] não tentou correr, nada."
Os registros do circuito mostram o carro que, segundo o dono da oficina, era o da polícia deixando a avenida quatro minutos depois do momento em que Battisti atravessa a via. É um veículo branco do tipo furgão.
"Estava tudo tranquilo e de repente ouvimos os dois tiros", relembra Yalili. "Aí todos ficamos assustados e corremos. Ele [Battisti] parecia uma pessoal normal andando na rua. Eu não fazia ideia de quem era", acrescenta ela.
Os policiais não voltaram à região depois da captura, segundo as testemunhas. A avenida onde tudo aconteceu tem mais movimentação de carros do que de pedestres. O episódio foi algo atípico na pacata rotina.
"Se era uma pessoa perigosa, provavelmente os policiais dispararam por algum motivo. Ele poderia estar armado talvez", afirma o mecânico, que só foi descobrir horas depois, pela televisão, quem era o capturado.
"Ele é um criminoso?", pergunta ele à reportagem, curioso por mais detalhes. Minutos depois, o telejornal na TV da oficina passa a falar sobre o caso do condenado europeu. Todos no espaço com chão tingido de graxa ficam em silêncio para assistir.
Blanco conta que já tinha visto o italiano nas redondezas. "Vi esse homem umas quatro ou cinco vezes passando. Sempre de óculos escuros. Era um tipo diferente dos que há por aqui."
A sensação de estranhamento é a mesma de outros habitantes de Santa Cruz. Incógnito, Battisti não teve tempo de se tornar tão conhecido no país quanto é na Itália, onde foi condenado por quatro assassinatos (ele se diz inocente e vítima de um julgamento fraudulento), ou no Brasil, onde viveu os últimos anos e se tornou peça do xadrez político.
A polícia boliviana, que efetuou a prisão em coordenação com policiais italianos, também parece disposta a deixar o caso adormecer logo. Jornalistas locais e estrangeiros tentam nos últimos dois dias obter declarações oficiais das autoridades, mas seguem sem respostas.
Muito do que se sabe foi divulgado pela imprensa italiana. Ministros do governo federal deram entrevistas, mas não entraram nas minúcias da operação feita para deter o italiano, que estava no país ilegalmente.
Informações sobre o esconderijo dele são ainda desconhecidas. Uma das versões é a de que ele se mudava constantemente de endereço na cidade para tentar despistar os investigadores.
Battisti havia chegado à Bolívia cerca de um mês antes, segundo as estimativas. Em uma carta com data de 18 de dezembro, ele pediu asilo político ao governo de Evo Morales, dizendo-se perseguido no Brasil. A solicitação foi negada.


Joelmir Tavares, Folha de São Paulo