quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Para economistas, Campos Neto deve manter agenda de Ilan para o Banco Central

Capacidade técnica e alinhamento de pensamentos com o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. São essas as características de Roberto Campos Neto destacadas por economistas ouvido pelo GLOBO, que avaliam que ele terá capacidade de manter o trabalho que vem sendo feito desde 2016 por Ilan Goldfajn no Banco Central. 

A indicação de Campos Neto, que é atualmente diretor de tesouraria do Banco Santander , foi elogiada pelo presidente da instituição no Brasil, Sérgio Rial: "Roberto Campos Neto é um profissional com sólida formação e profundo conhecimento da área econômica. Desejamos a ele muito êxito no desempenho de sua nova função, tão importante para o desenvolvimento do País”, declarou, em nota enviada pelo Santander. 

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, que foi diretor do BC entre 2006 e 2010, acredita que Campos Neto poderá dar continuidade ao trabalho feito por Ilan. 
—  Ele tem forte background econômico e nos mercados e uma grande rede de contatos internacionais. Tem todas as condições para continuar o excepcional trabalho do presidente Goldfajn, que tem tido uma gestão brilhante no BC — disse.
Na avaliação de Luiz Otavio de Souza Leal, economista-chefe banco ABC Brasil, a visão mais baseada no mercado de Campos Neto, que tem forte experiência na área de tesouraria (captação e aplicação dos recursos de bancos), fará com que ele saiba identificar e encontrar as soluções para os problemas de política monetária que vierem a aparecer. 
— Não acredito que o BC vá mudar muito em termos de postura. O Campos Neto é muito técnico. O importante é saber qual será a diretoria. Se a atual será mantida ou não. Em geral, os diretores ficam para fazer a transição, então é provável que uma parte boa deles permaneça — avaliou. 
Na expectativa dos economistas, Campos Neto deve manter a Agenda BC+, que é um conjunto de iniciativas formulada na gestão Ilan e que tem como objetivo reduzir os custos do crédito no país, ou seja, fazer com que o spread bancário (diferença entre o custo de captação e o que é efetivamente cobrado dos clientes) fique mais baixo. 
A independência do BC, que é consenso no mercado, também deve se manter em pauta. No entanto, Leal acredita que ela pode ser votada antes mesmo do início do novo governo.
— Acredito que o Ilan quer deixar isso como legado e tem feito movimentos intensos para convencer os parlamentares de que isso é importante. Não me surpreenderia se essa votação acontecesse ainda em 2018 — disse Leal, acrescentando que isso é importante para evitar interferência política, como parece ter ocorrido na gestão de Alexandre Tombini, antecessor de Ilan. 
Eduardo Velho, economista da GO Associadas, lembra que quando começou a ser ventilado, o nome de Campos Neto sofreu algumas ressalvas no mercado pela sua falta de experiência acadêmica - diferente de Ilan —, mas que isso não é essencial para a função. 
— O importante é que ele é alguém muito alinhado com o Paulo Guedes. É um economista ortodoxo da linha liberal. Não segue a linha acadêmica, mas o BC já teve outros presidentes que não tinham essa característica, como Henrique Meirelles e Armínio Fraga — avaliou, afirmando que ele tem perfil para manter a inflação sob controle e o câmbio flutuante. 
No meio acadêmico, economistas ouvidos pelo GLOBO avaliaram a indicação de Roberto Campos Neto para o Banco Central e a permanência de Mansueto de Almeida no Tesouro como um sinal de manutenção das políticas monetária e fiscal. Campos é visto como um profissional com sólidos conhecimentos em macroeconomia e experiência no mercado e no setor bancário, que deve se manter fiel ao cumprimento do regime de metas de inflação. Mansueto é lembrado pelo compromisso com o reequilíbrio das contas públicas.
Para Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-Rio, Campos Neto deve dar continuidade ao trabalho de Ilan Goldfajn, que ele diz ter recuperado a credibilidade do BC após o surto inflacionário da gestão de Alexandre Tombini, no governo Dilma Rousseff, reduzindo a taxa básica de juros ao seu nível histórico mais baixo, 6,5%.  
— Eu não conheço Campos, mas ele é um macroeconomista com experiência em mercado financeiro e (o sucesso dos seus atos) depende mais da equipe, que acredito que será mantida, como o Carlos Viana (de Carvalho, um dos diretores do BC), que é técnico. Estamos numa fase tranquila em relação às expectativas para a inflação.  
Cunha acredita que Mansueto tende a ampliar sua atuação ao integrar o superministério de Paulo Guedes: 
— Acredito que ele irá para coisas mais importantes. Paulo Guedes terá status de superministro  e Mansueto tem chances de ser um ministro dentro dessa nova estrutura do Ministério da Fazenda. 
O economista Claudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, admite que a recusa de Ilan ao convite para permanecer no BC frustra os agentes econômicos, não apenas pelos resultados da política monetária nos juros e na inflação, mas pela agenda microeconômica, como o incentivo à maior competição no setor bancário. Mas ele acredita que Campos Neto tem condições de manter o trabalho: 
— Pelo que conversei com economistas, ele é praticamente uma unanimidade. Tem competência técnica e experiência no mercado financeiro, o que é muito bom. Também é uma pessoa afável no trato. Espero que a atual diretoria do Banco Central fique. 
A economista Margarida Gutierrez, especialista em contas públicas, destacou que o futuro presidente do BC tem uma trajetória profissional respeitada no mercado:  
— Ele tem preocupação com o regime de metas de inflação e certamente praticará uma política que mire isso. Ele não tem que inventar nada, pois a inflação está baixa. Ilan reconquistou  a credibilidade do Banco Central e ele só precisa manter esse prestígio.  
Margarida também elogia a permanência de Mansueto no Tesouro:  
— Ele está lá, cuidando das contas públicas, e conhece imensamente a necessidade do ajuste fiscal, o quanto é preciso fazer isso para recuperarmos nosso equilíbrio fiscal. Ninguém conhece mais de finanças públicas do que ele no Brasil. Ele sabe que, se nada for feito, entraremos na rota da recessão novamente.

Ana Paula Ribeiro e Daiane Costa, O Globo