GENEBRA - O Fórum Econômico Mundial quer que Jair Bolsonaro, se eleito presidente, viaje nas primeiras semanas de governo e apresente seu projeto para o Brasil durante o encontro que ocorre anualmente em Davos, em janeiro de 2019. A entidade com sede na Suíça já entrou em contato com a equipe do candidato e apenas aguarda a definição do resultado das urnas para oficializar o convite ao presidente eleito do Brasil.
A mesma aproximação foi realizada pelos organizadores do evento com Fernando Haddad, candidato do PT.
“O Fórum tem mantido contatos institucionais regulares com as equipes dos candidatos às eleições presidentes e suas participações em Davos foram discutidas”, disse a entidade, num email ao Estado. “Estamos prontos para formalizar o convite para o presidente que o povo brasileiro escolher no dia 28 de outubro”, declarou.
Na prática, o evento na estação de esqui nos Alpes irá representar possivelmente primeira aparição de Bolsonaro diante dos líderes mundiais, caso seja eleito. Algo similar ocorreu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, nas primeiras semanas de seu primeiro governo, viajou até Davos para conversar com a elite da economia mundial.
Até recentemente, Bolsonaro era totalmente desconhecido do cenário político internacional e apenas ganhou as capas das revistas pelo mundo ao ser apresentado por publicações como a Economist com uma “ameaça” à democracia brasileira e um extremista.
Nos corredores do Fórum, fontes confirmam ao Estado que estão curiosos para entender os planos de Bolsonaro e de seu futuro ministro, Paulo Guedes.
Eles, se eleitos, serão pressionados a dar indicações de que como irão conduzir as reformas na economia nacional e medidas liberalizantes, assim como um possível calendário. Em Davos, o próximo governo brasileiro também será cobrado a dar respostas sobre o déficit primário.
Não são poucos, porém, os que levantam questões sobre as declarações de Bolsonaro sobre assuntos como direitos humanos e a proteção das minorias, assim como sobre ideias que circulam sobre o meio ambiente.
Pragmáticos, os organizadores querem oferecer ao candidato uma plataforma para que se explique. “Há muita curiosidade sobre o fenómeno que estamos vendo no Brasil e como isso vai se traduzir na economia”, apontou um dos membros do Fórum, pedindo anonimato.
Se Bolsonaro votou contra algumas das principais reformas defendidas pela elite econômica mundial, seus planos mais recentes apontam para uma linha que agrada aos donos do capital internacional. O que Davos, porém, quer saber é como a instabilidade profunda que atingiu o Brasil nos últimos anos será superada para dar garantias suficientes aos investidores a retornarem com força à economia nacional.
Queridinho de Davos por anos, o Brasil perdeu espaço no evento internacional durante o governo de Dilma Rousseff, que evitou viajar até a estação de esqui de Davos. A partir de 2014, a crise doméstica ainda afastou o Brasil de iniciativas internacionais e passou a ser ignorado mesmo em viagens de chefe-de-estado e personalidades em turnês pela América do Sul.
O presidente Michel Temer fez questão de apresentar seus planos aos empresários de todo o mundo, em Davos, e multiplicou encontros com CEOs de algumas das principais multinacionais. Naquele momento, todos queriam ouvir de Temer o mesmo: estabilidade e garantias de que as reformas fossem realizadas.
Agora, as incertezas políticas ainda levaram os empresários a segurar investimentos no Brasil e, em termos de competitividade, o País também perdeu posições.
Jamil Chade, O Estado de S.Paulo