quinta-feira, 19 de julho de 2018

Os “loucos” da CIA vão pegar Trump? Ou preferem outro lado?, por Vilma Gryzinski

John Brennan votou no candidato a presidente do Partido Comunista dos Estados Unidos. John Brennan quer derrubar Donald Trump de qualquer maneira. John Brennan possivelmente se converteu à religião muçulmana para se casar com uma mulher da Arábia Saudita.
Ah, sim, John Brennan também endossou o uso de drones para matar inimigos dos Estados Unidos, incluindo cidadãos americanos que haviam passado para o lado da Al Qaida.
Como foi durante o governo Obama, o responsável em última instância pela autorização, ninguém fala mais nisso.  De alvo de protestos de esquerda, Brennan virou um ídolo dos antitrumpistas mais exaltados.
O que pode ser melhor do que um ex-diretor da CIA afirmando em termos normalmente impensáveis para a categoria dos mandarins aposentados que as batatadas de Trump na entrevista ao lado de Vladimir Trump foram equivalentes a um ato de traição a pátria, por prestar ajuda e conforto ao inimigo?
E insistir que as atitudes do presidente se incluem no tipo de crime inerente ao exercício do poder que pode ser abrangido por um processo de impeachment?
Brennan é um dos maiores inimigos públicos de Trump desde antes de sua eleição. Coordenou o manifesto de ex-altos funcionários da enorme e influente casta relacionada à segurança nacional que denunciou Trump como um candidato perigoso.
Foi este um dos elementos que delinearam a ideia de que o “deep state”, as instituições operadas por funcionários de carreira do alto escalão, funciona 24 horas para detonar Trump.
Iniciativas já reveladas no âmbito dos Departamentos de Justiça e de Estado, no FBI, na Receita Federal e na própria Casa Branca, onde até uma estenógrafa escreveu um livro para contar seu romancezinho com um assessor do adorado Barack Obama e o horror diante do sucessor, comprovam o boicote a Trump do qual Brennan se tornou a figura mais conhecida.

O AMIGO JOE

A dúvida fulcral, que faz a diferença entre oposição democrática e delírio de poder, ainda continua: o “deep state” age contra Trump porque ele é um potencial e perigoso agente inimigo ou porque o considera um bufão mentiroso, indigno do cargo para o qual foi eleito por um eleitorado incapaz de ver seus defeitos estruturais?
Os erros crassos de Trump na entrevista com Putin não são exatamente inéditos.
“Eu gosto de Stálin. Ele é direto, sabe o que quer e faz concessões quando vê que não vai conseguir.”
Alguém pensaria em Harry Truman como um traidor da pátria por escrever isso numa carta à mulher em 29 de julho de 1945?
Uma semana depois, Truman, um caipira lá do interior do Missouri, autorizou que fosse jogada a primeira bomba atômica da história da humanidade em Hiroshima, para apressar a rendição do Japão.
Stálin, aliás, havia incentivado o uso da nova e terrível arma numa conversa informal com Truman durante a Conferência de Potsdam.
“Eu posso lidar com Stálin, ele é honesto – embora esperto como o diabo”, anotou Truman em seu diário no primeiro dia da conferência, quando conheceu “Joe”, o apelido simpático usado para justificar a aliança com o cão, necessária para vencer a Alemanha nazista.
O presidente americano havia assumido o poder num dos ápices mais momentosos da história, no mês em que as “três mortes de abril” de 1945 desembocaram num mundo completamente mudado .
Franklin Roosevelt morreu de  derrame cerebral em 12 de abril de 1945, alçando seu vice à presidência. Benito Mussolini foi executado por partigiani comunistas e pendurado de cabeça para baixo numa praça de Milão em 28 de abril. Adolf Hitler suicidou-se no bunker de Berlim em 30 de abril.
Truman ascendeu ao posto máximo tendo que decidir as condições finais da rendição da Alemanha, a divisão da Europa do pós-guerra (e depois, a recuperação da parte sob influência americana via Plano Marshall) e o fim menos cruento possível para os americanos, entre todas as péssimas opções que tinha, para a guerra com o Japão.
Baseado durante toda a guerra no território neutro da Suíca, o diplomata americano Allen Dulles (irmão do futuro secretário de Estado John Foster Dulles), transformado em agente de inteligência do Departamento de Serviços Estratégicos, negociava a rendição das forças alemãs no Norte da Itália, para horror de Stálin, o velho “Joe” que viria a causar tão boa impressão em Truman.
O presidente recém-empossado mandou acabar essas negociações. Ninguém, remotamente, pensaria que estava favorecendo o simpático Stálin, cujas abominações já eram vastamente conhecidas, por inclinação ideológica ou algum outro interesse escuso.

GUERREIRO FRIO

Allen Dulles se tornou praticamente o criador e primeiro civil a ser diretor da Agência Central de Inteligência, o novo órgão de espionagem e contraespionagem nascido das novas condições criadas pela Guerra Fria.
Com o jeito de patrício americano, com óculos sem aro e cachimbo (além de um longo prontuário de casos extraconjugais), ele virou o protótipo do “cold warrior”, o combatente de uma guerra travada num tabuleiro planetário em lances de geopolítica, propaganda, espionagem, criação e eliminação de regimes alinhados, assassinatos políticos e disputa incessante com os formidáveis oponentes russos e seus satélites.
Na sua conta, entraram o golpe no Irã para eliminar a interferência soviética e fortalecer o xá Mohamed Reza Pahlevi, o golpe na Guatemala que foi um antecessor do modelo de intervenção típica da Guerra Fria em países latino-americanos e a desastrada invasão da Baía dos Porcos, quando os cubanos livres que queria derrubar Fidel Castro se transformaram em cubanos presos e executados.
Durante e além do reino de Allen Dulles, o mais ativo e incrivelmente complicado diretor de contrainteligência, aquele que realmente põe a mão na massa, foi James Jesus Angleton.
Boêmio, poeta e supremo caçador de espiões, foi um operador “legendário que aplicou as técnicas da crítica literária aprendidas em Yale para descobrir padrões e significados ocultos nas operações da KGB contra o Ocidente”.
A descrição é de Jefferson Moley, autor de um livro sobre Angleton e de um blog que já diz tudo no título sobre seu interesse em teorias conspiratórias: JFK Facts. Angleton, conhecido pelo codinome de Kingfisher, foi um dos caciques convidados a investigar o assassinato de John Kennedy. Para muitos conspiradores, obviamente, era o clássico da raposa e do galinheiro.
Curiosamente, a mulher e as duas filhas de Angleton converteram-se à religião sikh, tal como pregada por um guru chamado Habhajan Singh Khalsa. Elas adotaram nomes da seita. Bill Richardson,  que foi embaixador na ONU continuou muito ligado à família Clinton, também se tornou seguidor do guru.
O “mundo dos espelhos”, como é chamado o ambiente de conspirações e armações de alcance global onde vivem os mestres da espionagem, tem desses subprodutos interessantes. A conversão de John Brennan, quando foi chefe da CIA na Arábia Saudita, nunca foi confirmada.
Já ele próprio contou que votou em Gus Hall, o líder comunista que durou mais tempo no poder do que Stálin justamente por ter tão pouco poder, para presidente. Não numa data perdida no tempo, mas em 1980. Estava “decepcionado” com os dois partidos americanos, que tinham como candidatos Jimmy Carter e Ronald Reagan.
Parece coisa de filme de espião, mas Brennan não só votou num notório sabujo de Moscou como contou a verdade quando fez o teste do polígrafo para entrar na CIA.

DRONE ERRADO

Ao contrário do que os inimigos espalham, não é Brennan o personagem que aparece fazendo a prece muçulmana no filme A Hora Mais Escura, sobre a morte de Osama bin Laden.
O “Roger” do filme é Michael D’Andrea, que adotou a religião islâmica para se casar com uma muçulmana, a quem conheceu também como espião no exterior.
Conhecido como “Príncipe Negro” e “Agente Funerário”, foi um pioneiro no uso de drones para eliminar dirigentes da Al Qaeda em vários países.
Num desses ataques, foram mortos, sem querer, dois sequestrados pela organização terrorista, o americano Warren Weinstein e o estudante italiano Giovanni  Lo Porto, ambos ligados a ONGs.
Barack Obama pediu desculpas publicamente pela tragédia involuntária. Imaginem o que aconteceria se o presidente fosse Donald Trump?
Michael D’Andrea foi chamado de volta à CIA, para chefiar as operações contra o Irã. Brennan virou colaborador da MSNBC, um dos canais a cabo mais furiosamente antitrumpistas. A CIA é chefiada atualmente por Gina Haspel, funcionária de carreira que trabalhou com ambos. Foi nomeada por Donald Trump.
Qual deles está certo por trabalhar para o governo Trump? Ou por pregar o impeachment do presidente por traição à pátria? Algum foi tomado pela “loucura” que o mundo das conspirações eternas parece desencadear?
Novos e emocionantes capítulos já estão se desdobrando. Só podemos esperar que em algum momento fiquemos sabendo, pelo menos, de seu resultado.