sábado, 21 de julho de 2018

Eletrobras precisa investir R$ 10 bilhões a mais por ano


Presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior - Ana Paula Paiva / Agência O Globo


A Eletrobras precisa investir mais R$ 10 bilhões por ano para manter a sua participação no mercado de geração e transmissão de energia no país. Hoje, a companhia aplica R$ 4 bilhões, e o ideal seriam R$ 14 bilhões. Para entrar dinheiro novo, é necessário capitalizar a empresa, passo que ocorreria com a privatização. A avaliação é do presidente da estatal, Wilson Ferreira Júnior. Anunciada pelo governo há quase um ano, a privatização da Eletrobras não vai sair em 2018, por falta de apoio político no Congresso.

- A Eletrobras precisa de novos projetos. Para novos projetos, precisa de recursos. Com R$ 4 bilhões, ela perde participação no mercado — disse Ferreira, em entrevista ao GLOBO. - O único meio de a companhia sustentar seu market-share são investimentos da ordem de R$ 14 bilhões, e não R$ 4 bilhões. Para ela ir por esse caminho, ela precisa se capitalizar.

Privatização só no próximo governo

Para ele, é “razoável” que a privatização da empresa seja decidida pelo próximo governo:

- A retomada desse projeto, se for do interesse, ocorrerá pelo novo governo. Eu acho bastante razoável. A vantagem do atraso é que vai permitir que seja sintonizado com o novo governo, que haverá de avaliar a proposta que nós fizemos para a companhia.

Em cinco anos, a empresa deixará de investir R$ 50 bilhões, por falta de recursos próprios dos acionistas e por não conseguir financiamento nos bancos. A Eletrobras já reduziu sua participação no segmento de geração: ela baixou de 36% em 2011 para 31% cinco anos depois. A estatal é responsável por cerca de 45% do mercado de transmissão no país.

A dívida bruta da empresa hoje chega a R$ 45,5 bilhões, o que fez a estatal atrasar a entrega de empreendimentos e montar um plano de desinvestimentos que prevê a venda das distribuidoras de energia que operam no Norte e Nordeste. Os leilões dessas empresas, altamente deficitárias, com prejuízos de R$ 35 bilhões, estão marcados para 26 de julho e 30 de agosto. A empresa também planeja vender a participação em 70 projetos (as Sociedades de Propósito Específico, que incluem parcerias em ativos de geração e transmissão).

- O pior de tudo é não entregar projetos que são prioridades para as pessoas. Você não investe porque não é capaz, com esse nível elevado de alavancagem, de tomar financiamento, o banco não empresta. Quando nós fizemos as chamadas públicas (para repassar as concessões), é porque nós não seríamos capazes de financiar — disse o presidente da estatal.

A sequência de atrasos em obras de linhas de transmissão fez as subsidiárias da Eletrobras Chesf, Eletronorte e Furnas serem proibidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de participarem do último leilão organizado pelo órgão. Ferreira admite que os processos de redução de custos e venda de ativos foram feitos mais devagar do que o ritmo esperado pelo mercado:

- No caso das distribuidoras, está no caminho, mas está atrasado. Mas o importante é que vai ser feito. Está anunciado e vai ser feito. No caso das SPEs, a gente está na fase final das conversas com o TCU (Tribunal de Contas da União) para que a gente possa anunciar.

Tarifa maior em Angra 3

O governo já abriu caminho para aumentar a tarifa da energia que será gerada por Angra 3, na tentativa de viabilizar a retomada das obras com a entrada de um investidor estrangeiro. A Eletrobras defende o aumento do preço, e garante que o consumidor sairá beneficiado.

- Para o consumidor, não importa se custa R$ 14 bilhões ou R$ 17 bilhões. Isso só importa para o investidor. Nós só temos benefício para o consumidor se a usina entrar. E, para a usina entrar, tem que colocar o preço correto - afirma.


Manoel Ventura, O Globo