quinta-feira, 19 de julho de 2018

Campeonato Nacional, a bagunça e o balanço

O Brasileirão recomeçou nesta quarta (18) com cinco jogos.
Um deles, importantíssimo: o líder Flamengo contra o então terceiro colocado São Paulo. A vitória tricolor o deixou em segundo, a um ponto do Rubro-Negro.
E ainda outro jogo fundamental: o Grêmio, que estava em quinto lugar, contra o ex-vice-líder Galo. Agora estão iguais em números de pontos.
Pergunte se os campeonatos da França e da Croácia já começaram. A resposta é um rotundo não. Pois saiba que parte do nosso atraso está aí, pelo descompasso do calendário mundial com o nacional.
Enquanto isso, janela de transferências aberta, o artilheiro do Brasileirão, Róger Guedes, foi jogar na China.
Não pode estar certo, não pode dar certo. O batalhão todo marcha de um jeito, só nós marchamos diferente.
Por isso o Brasil é penta enquanto o mundo tenta, respondem, cínicos, os cartolas do Patropi.
seleção brasileira não fez feio na Copa do Mundo. Nem bonito. Feio fizeram os alemães, mas, paradoxalmente, eles precisarão fazer apenas uma correção de rota.
Os brasileiros precisam revolucionar a deles. Aposto que a correção não tardará e que a revolução não virá.
Por falar em apostas: apostava no Brasil semifinalista e errei. Como na França finalista. Nem uma coisa, nem outra, têm a menor importância.
Importante é constatar que quem comanda, formalmente, a CBF é o coronel Nunes, que teve a sorte de ser substituído no anedotário do futebol pelo rolar na grama de Neymar.
Está claro que a solução para o futebol brasileiro não pode depender de nenhum dos dois, embora o craque ainda possa se recuperar, tanto talento tem.
O cartola é irrecuperável, posto onde está pelo Marco Polo que não viaja, responsável, também, pela invenção do sucessor, por meio do "Golpe Caboclo".
Houve um tempo em que a arte incomensurável do jogador brasileiro ganhava das mazelas da cartolagem. Esse tempo acabou.
Muito mais relevante do que ganhar Copas do Mundo é organizar direito o Campeonato Brasileiro, de modo a trazer os torcedores aos estádios.
Vale sempre repetir: a Espanha levou 80 anos para ganhar uma Copa e sempre teve um campeonato muito melhor que o Brasileiro.
Pergunte aos torcedores do Real Madrid e do Barcelona, e pode incluir os do Atlético de Madri, do Sevilla, do Deportivo La Coruña ou do Valência, se eles trocariam seu campeonato pelo nosso para serem pentacampeões.
A resposta será outro rotundo não. A questão é que a CBF pensa só na seleção e não está nem aí para os clubes, que não lhe rendem nem um tostão em patrocínios. Nem mesmo jogadores os clubes fornecem à madrasta.
Dos filiados, só interessa à CBF as 27 federações estaduais, cuja fidelidade compra com mesadas e seus campeonatos para manter o poder.
Entre o fracasso alemão e o remediado desempenho brasileiro há uma abissal diferença conhecida pelo nome de organização, competência e projeto. Enquanto quem se deu mal planeja o futuro, a CBF bota o circo na rua com seu campeonato espremido pela falta de datas.
Se em 2014 achou que bastava trocar Felipão por Dunga, agora deixa tudo como está e segue a vida.
Se trocar o técnico seria mais uma besteira, insistir com o que está dando errado há décadas é a prova de falta de ideias para botar o futebol brasileiro em novos trilhos e romper uma estrutura viciada que enriquece a cartolagem.
E empobrece a história.
Juca Kfouri
, Jornalista



Folha de SãoPaulo