Roberto Maltchik, O Globo
Há 14 anos, falava-se em Brasília que José Dirceu era o primeiro-ministro, o homem que, na prática, comandava o Brasil. Não era verdade.
Dirceu, de fato, era o todo-poderoso chefe da Casa Civil que mandava na relação com o Congresso e tinha muita força junto a Lula. Cuidava da relação do Planalto com os aliados, que, soube-se em 2005, estava contaminada por mesadas criminosas a políticos e partidos, esquema desbaratado no escândalo do mensalão.
Era parrudo, mas não dominava a cena sozinho. Ele mesmo sabia, embora não gostasse, que fazia parte de uma constelação formada por outras duas estrelas.
Lula era o líder popular que fazia do PT um sucesso nacional. E levava para o mundo a imagem de um país que entrava nos trilhos.
Antonio Palocci tinha papel decisivo. Caiu nas graças do mercado e do empresariado por meio de uma gestão econômica calçada na segurança e previsibilidade.
Os três eram intocáveis.
Hoje, Dirceu é o único livre, condição que mudará nos próximos dias com a inevitável expedição da ordem de prisão pelo juiz Sergio Moro.
A Lula e ao ex-ministro sobram apenas o discurso da perseguição política e o abraço da militância.
Palocci ainda não foi condenado, mas está preso porque, livre, pode prejudicar as investigações da Lava-Jato. Chegou a sair do PT com a esperança de — ao delatar os velhos companheiros — livrar-se da cadeia. Mas não convenceu.
Uma década e meia depois, um mensalão depois, uma Lava-Jato depois, a constelação deve ocupar celas diferentes do mesmo sistema penitenciário. O que recebe os investigados e condenados em Curitiba.