BRUNO VILLAS BÔAS
GUSTAVO PATU
Folha de São Paulo
GUSTAVO PATU
Folha de São Paulo
Num ambiente de piora acelerada do emprego e de baixa confiança com o futuro da economia, o consumo das famílias teve queda de 1,5% no terceiro trimestre deste ano, na comparação ao três meses anteriores.
Um das molas propulsoras da economia nos últimos anos, o consumo das famílias recuou pelo terceiro trimestre consecutivo, o que não ocorria desde 1998, quando o país enfrentou a crise da Rússia.
Os dados foram divulgados pelo IBGE nesta terça (1º).
Quando comparado ao mesmo período de 2014, o consumo da famílias teve uma queda de 4,5%, a maior da série histórica da pesquisa, iniciada em 1996. No acumulado do ano, a queda passou agora para 3%.
O consumo das famílias é um dos principais componentes do PIB (Produto Interno Bruto), medida da produção e da renda do pais, que teve queda de 1,7% no terceiro trimestre deste ano em comparação aos três meses anteriores.
Com a economia em recessão, as empresas fecharam 1,38 milhão de empregos formais, com carteira assinada neste ano. Diante do quadro de incertezas, as famílias pensam duas vezes antes de realizar gastos.
A despesa das famílias tem sido inibida também pelo avanço da inflação, que corrói a renda dos trabalhadores. O IPCA, inflação oficial do país, foi de 7,64% de janeiro a setembro, a alta mais veloz dos últimos 12 anos, segundo o instituto.
Os juros altos também pesam. Com o bolso afetado, os brasileiros estão cortando assim os supérfluos e gastando menos no consumo de bens e serviços. É uma defesa contra os períodos de incertezas.
A retomada do consumo das famílias é considerada essencial para a recuperação da indústria e do comércio. Os setores estão com estoques altos diante de uma demanda que não reage.
Segundo Fabio Bentes, economista-chefe da CNC (Confederação Nacional do Comércio), a intenção de consumo das famílias brasileiras está em queda há dez meses em relação ao mesmo período do ano anterior.
"Recuperação do consumo das famílias passa pelo mercado de trabalho, com aumento da renda. E nada indica isso, pelo contrário. O mercado de trabalho ainda deve ter piora pela frente", diz Fabio Bentes, economista-chefe da CNC.
SERVIÇOS
O setor de serviços —que engloba áreas tão díspares quanto financeiro, educação, saúde e cabeleireiros— teve queda de 1% na passagem do segundo para o terceiro trimestre deste ano. Frente ao mesmo período de 2014, a queda foi de 2,9%.
A queda frente ao segundo trimestre do ano passado foi resultado da baixa nos segmentos do comércio (2,4%), do transporte armazenagem e correio (1,5%) e de outros serviços (1,8%), segundo as contas nacionais do IBGE.
Entre os poucos resultados positivos dentro do setor de serviços, foram registradas altas em administração, saúde e educação pública (0,8%) e intermediação financeira e seguros (0,3%) na passagem do segundo para o terceiro trimestre.