Blog Rodrigo Constantino - Veja
A presidente Dilma tem sido elogiada por muitos
ao resistir à pressão do próprio PT pelo controle da imprensa, sob o eufemismo
de “democratização da mídia”. Ela deu várias declarações indicando que rejeita
veementemente qualquer tentativa de censura de conteúdo, e que confia apenas em
um controle: o remoto na mão do telespectador.
Mas sabem como é… ano eleitoral, pressão pra todo
lado, campanha de “Volta, Lula” e uma ala radical do PT incomodada com a
lentidão da presidente em relação ao projeto bolivariano do partido, e eis que a
presidente Dilma acabou cedendo a uma parte da pressão.
Segundo a Folha, a presidente vai encampar, num eventual segundo
mandato, a proposta de regulação econômica da mídia:
Segundo assessores, Dilma vai apoiar um projeto que
regulamente e trate dos artigos 220 e 221 da Constituição.
Eles determinam que os meios de comunicação não podem ser
objeto de monopólio ou oligopólio e que a produção e a programação de rádios e
TVs devem atender os princípios de produção regional e independente. Trata ainda
da definição de como deve ser a publicidade.
Em recente reunião no Palácio da Alvorada, Dilma deixou
claro a petistas não ter a intenção de regular conteúdo, mas sinalizou que
topava tratar da parte econômica: “Não há quem me faça aceitar discutir controle
de conteúdo. Já a regulação econômica não só é possível discutir como
desejável”, disse.
[...]
A inclusão do tema no programa petista foi acertada com
Dilma, desde que ficasse bem claro que não haveria nenhuma proposta de controle
de conteúdo. Historicamente, o PT e setores da esquerda miram o domínio da Rede
Globo. Líder de audiência, a emissora abocanha a maior fatia do mercado
publicitário do setor.
[...]
Na reunião, estava presente o comando da campanha pela
reeleição –além de Dilma, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), o
presidente do PT, Rui Falcão, e o ex-ministro Franklin Martins.
Trata-se do trio trotskista que sonha com o dia
em que o Brasil será como a Venezuela, quiçá Cuba. Franklin Martins é o mais
sedento deles pelo controle da mídia, especialmente de seu ex-patrão, o Grupo
Globo.
Controlar diretamente o conteúdo é mais
complicado, chama mais a atenção, cria mais resistência; mas controlar os
veículos de imprensa pela via econômica, sob a alegação de que combate os
“monopólios”, ah, isso é muito mais fácil. E foi justamente o que fizeram
Venezuela e Argentina.
Hayek já dizia que sem liberdade econômica não há
liberdade política. Se o governo controla o fornecimento do papel, então ele
controla os jornais, como ficou claro nos países bolivarianos. Há inclusive uma
nota na coluna de Ancelmo Gois hoje relatando um caso pitoresco sobre isso:
A esquerda e o PT vêm tentando asfixiar
economicamente os grandes grupos independentes de imprensa há anos. Tem ligação
com essa estratégia as campanhas de proibição de comerciais de cigarros,
restrições às propagandas de bebidas e direcionadas ao público infantil. Dessa
forma os veículos ficam cada vez mais dependentes das verbas estatais,
crescentes, o que tornaria esses grupos reféns do governo.
Quando Dilma afirma que pretende endossar a
bandeira de controle econômico da imprensa, proposta por essa turma autoritária
que odeia a liberdade de expressão, é para ter calafrios mesmo. Esse é o projeto
do PT. E agora temos a presidente Dilma, candidata à reeleição, dizendo com
todas as letras que o projeto fará parte de um possível novo mandato.
Difícil é entender como a própria Globo ainda não
se deu conta do perigo – ou, se isso aconteceu, ninguém saberia dizer, pela
postura do grupo. Será que acredita ser possível domar o leão? Será que pensa
ser capaz de impedir o avanço dos bolivarianos dentro do governo? Doce
ilusão!
Vale a leitura do artigo publicado no próprio jornal GLOBO hoje, sobre os sete
anos sem a RCTV na Venezuela. Foi assim que tudo começou por lá também…