segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Jornal alemão denuncia 'cultura de privilégios' dentro do STF

 Reportagem faz duras críticas à Suprema Corte brasileira



O ministro Alexandre de Moraes, do STF, durante uma sessão plenária - 27/11/2024 | Foto: Mateus Bonomi/Estadão Conteúdo


Uma reportagem do jornal alemão Handelsblatt criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) e expôs o que descreve como uma “cultura de privilégios” dentro da Suprema Corte brasileira. A matéria foi publicada nesta terça-feira, 31.

O texto, assinado pelo jornalista Alexander Busch, detalha benefícios considerados excessivos concedidos aos magistrados, questiona a independência do Judiciário e sugere que o sistema jurídico brasileiro estaria moldado para garantir vantagens a uma elite de juízes e procuradores. 

O artigo destaca que a estrutura judicial do Brasil se transformou em um aparato que concentra poder e privilégios, uma “casta” intocável. Como exemplo, o veículo cita os longos períodos de férias dos magistrados, que chegam a 60 dias por ano, o dobro do tempo concedido à maioria dos trabalhadores do país. 

Além disso, ressalta que muitos juízes acumulam férias não utilizadas para vendê-las posteriormente, o que aumenta seus rendimentos de forma expressiva e moralmente questionável. A reportagem menciona que os benefícios vão além das férias prolongadas. 

Juízes e membros do Ministério Público recebem uma série de auxílios, como subsídios para moradia, alimentação, transporte, vestuário e até mesmo funerais. A cobertura de saúde para os magistrados e suas famílias, considerada uma das mais caras do Brasil, também é custeada pelo Estado. 

A publicação alemã ressalta que “os juízes justificam os privilégios alegando a alta carga de trabalho e o estresse da função”, mas observa que a prática de acumular benefícios se tornou uma norma no meio jurídico.

Outro ponto central da matéria são os eventos organizados por ministros do STF, como o tradicional encontro promovido por Gilmar Mendes em Portugal, apelidado ironicamente pela mídia de “Gilmarpalooza”.

O evento reúne ministros do Supremo, empresários, políticos e advogados em encontros patrocinados por grupos que possuem interesses diretos em processos em tramitação no próprio tribunal. O jornal questiona a ética destas interações e argumenta que “os juízes e promotores são financiados por aqueles cujos interesses devem julgar”. 

O jurista Conrado Hübner, especialista em direito público e docente da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, comenta na matéria que o evento se trata de “um grande lobby jurídico disfarçado de conferência acadêmica”.

STF na mira dos alemães 

Além das regalias, a reportagem também sugere que a autonomia do STF pode ser usada para blindar seus próprios membros de investigações sobre corrupção. O Handelsblatt menciona a Operação Lava Jato como um exemplo do comportamento controverso do Judiciário. 

A investigação inicialmente recebeu apoio de diversos magistrados, mas, segundo o jornal, quando os primeiros indícios de corrupção começaram a envolver membros da alta cúpula da Justiça, houve uma mudança de postura. Sentenças foram anuladas e processos desmantelados, com o próprio Supremo destinado a assumir um papel de protagonista na reversão de condenações.

A publicação também cita a trajetória de Ricardo Lewandowski, que, pouco tempo depois de se aposentar do STF, foi contratado como consultor jurídico da holding J&F, envolvida em diversos escândalos de corrupção e que havia sido alvo de julgamentos no próprio Supremo. 

O jornal também lembra que Lewandowski voltou à administração pública como ministro da Justiça do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o que reforça a percepção de um Judiciário que transita entre a toga e o poder político. Para o jornal, a falta de mecanismos de controle sobre a atuação do STF fortalece uma cultura de impunidade e privilégios.


Sessão solene de posse de Flávio Dino como ministro do STF | Foto: Gustavo Moreno/SCO/STF


O jornal cita dados da organização Transparência Internacional, que classifica o Brasil como um dos países mais afetados pela corrupção entre as democracias emergentes, e menciona que os custos do Judiciário brasileiro consomem 1,6% do Produto Interno Bruto nacional – um porcentual superior ao da Alemanha (1,4%) e muito acima do da Suíça (0,28%). 

Segundo Bruno Carazza, jurista e economista entrevistado pela reportagem, “a justiça brasileira opera como uma monarquia dentro da democracia”, onde magistrados e promotores se tornaram uma elite que acumula benefícios enquanto a população paga a conta. 

O Handelsblatt levanta a necessidade de reformas no Judiciário brasileiro e sugere que um código de conduta mais rígido deveria ser implementado para ministros do STF. No entanto, Alexandre de Moraes teria rejeitado esta possibilidade e afirmado que “os juízes já seguem os princípios éticos estabelecidos pela Constituição”.


Revista Oeste  

Reservas internacionais do Brasil caem 7,1% em 2024, em meio à disparada do dólar

 
A queda está ligada principalmente à venda de dólares pelo Banco Central no final do ano


Dólar comercial encerrou o ano a R$ 6,18 | Foto: Shutterstock 


O Brasil encerrou 2024 com US$ 329,7 bilhões em reservas internacionais, a “poupança” em moedas estrangeiras criada pelo governo para proteger a economia local contra crises externas. O montante representa uma queda de 7,1%, ou US$ 25,3 bilhões, em relação ao total do ano anterior, de US$ 355 bilhões. 

A redução das reservas em 2024 está ligada principalmente à venda de dólares pelo Banco Central no final do ano. A autarquia injetou um total de US$ 20,07 bilhões no mercado à vista da moeda norteamericana




Além disso, houve a venda de outros US$ 15 bilhões, por meio dos chamados leilões de linha. Eles são como operações de empréstimo, cujos valores retornam posteriormente às reservas cambiais. Essas operações aconteceram principalmente em dezembro, em meio à forte alta do dólar, que terminou 2024 com valorização de 27%, a R$ 6,18.

A subida da moeda norte-americana ao longo do ano reflete uma combinação de fatores internos e externos. Conflitos internacionais, a redução dos juros nos Estados Unidos, a eleição de Donald Trump e a condução das contas públicas do Brasil influenciaram no câmbio. 

No final de 2024, o foco se voltou especialmente para a situação fiscal brasileira. O mercado financeiro expressou desconfiança quanto à eficácia do pacote de contenção de gastos anunciado pelo governo Lula em novembro.



O que são reservas internacionais Também chamadas de reservas cambiais, as reservas internacionais têm seus recursos aplicados no exterior, geralmente em ativos considerados seguros, como títulos do Tesouro dos EUA. A gestão da política cambial é delegada ao Banco Central. A autarquia ganhou autonomia legal para tomar decisões em 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro.

As reservas do Brasil são compostas por títulos, depósitos em moedas — dólar, euro, libra esterlina, iene, dólar canadense e dólar australiano — direitos especiais de saque junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), depósitos no Banco de Compensações Internacionais (BIS), ouro, entre outros ativos. 

“A alocação é feita de acordo com o tripé segurança, liquidez e rentabilidade, nessa ordem, sendo a política de investimentos definida pela Diretoria Colegiada do Banco Central”, diz a autarquia em seu site oficial.  


Gabriel Galípolo é o novo presidente do Banco Central (BC) | Foto: Reprodução/Twitter/X

A grande vantagem dessas reservas é a garantia contra crises no mercado internacional, como a de 1998 na Rússia, ou contra retiradas de recursos do país por investidores. 

No caso do Brasil, que adota o regime de câmbio flutuante, esse colchão de segurança ajuda a manter a funcionalidade do mercado de câmbio. Assim, o Banco Central consegue amenizar oscilações bruscas da moeda local ante o dólar, o que dá maior previsibilidade e segurança para os agentes do mercado. 

O governo do Brasil tem três formas de acumular reservas. São elas a compra direta da moeda no mercado, o recebimento dos retornos de suas aplicações financeiras e a emissão de títulos da dívida pública no mercado internacional.

Revista Oeste

J.R. Guzzo - Políticos promovem ataque desesperado contra o pagador de impostos

'Os impostos e a dívida nova foram usados para levar a níveis inéditos de prosperidade os gatos mais gordos da máquina estatal'


 

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, cumprimenta o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em evento oficial |


Poucos aspectos da vida brasileira de hoje são tão cômicos quanto os que se apresentam como dramáticos — na verdade, quanto maior é o drama no mundo da imaginação maior é a comédia no mundo das realidades. Na política, para se ter uma ideia de onde foram amarrar o burro deste país, leva-se terrivelmente a sério gente como Arthur Lira ou Rodrigo Pacheco, para não mencionar a neurose permanente do “centrão”. 

Na segurança pública, debate-se pontos de alta metafísica social, mas o sacrossanto “Estado” não consegue garantir nem o direito do cidadão à sua própria vida. Na economia, há uma discussão tórrida sobre a “capacidade de cortar os gastos públicos”, quando até uma criança de dez anos de idade sabe que essa história não tem nada a ver com “capacidade”. 

Tem a ver com vontade — e a única vontade objetiva do governo Lula é torrar tudo o que existe no Tesouro Nacional, e sobretudo o que não existe. + Leia mais notícias de Política em Oeste Tudo não passa, no fundo e na verdade, de um programa de Chico Anysio com o personagem Justo Veríssimo — com a diferença, é claro, que Chico Anysio era um gênio e os autores da atual comédia são um bando de oportunistas que dão entrevistas prometendo que querem para “a nação” o exato contrário do que fazem.

Em nenhuma área do aparelho estatal essa miragem permanente e malintencionada se manifesta de forma tão agressiva quanto na economia. 

Finge-se que Lula e seu governo estão mentalmente torturados diante das opções por esta ou aquela “política econômica”, ou que há um duelo mortal entre “políticas públicas” e “mercado”. 

O que existe, na vida real, é um ataque desesperado contra o pagador de impostos brasileiro.


Chico Anysio como Justo Veríssimo. J. R. Guzzo cita personagem ao analisar o cenário atual do Brasil | Foto: Reprodução/TV Globo 


O Brasil fechou o ano de 2024 com uma arrecadação acima de R$ 3,5 trilhões, em todos os níveis — e o governo conseguiu, em apenas dois anos, acumular R$ 2 trilhões na dívida pública, que foi de R$ 7 trilhões para R$ 9 trilhões. Onde foi parar esse dinheiro todo se o governo diz que está liso? Para os “pobres” com certeza não foi — se tivesse ido, os pobres estariam levando um vidão, e com exceção de Lula e da deputada Hoffmann, todo mundo sabe que não estão. 

O fato nu e cru é que os impostos e a dívida nova foram usados para levar a níveis inéditos de prosperidade os gatos mais gordos da máquina estatal.

“O funcionalismo federal ganhou 27% de aumento salarial. É tudo uma piada gigante” J. R. Guzzo

Juízes e magnatas do Judiciário ganham R$ 200 mil por mês, ou sabe Deus quanto — e não aceitam sequer a discussão sobre algum limite. Os Correios estão em situação de insolvência, mas preveem gastar 380 milhões em publicidade em 2025, isso depois de darem prejuízo de R$ 2 bi nos primeiros nove meses do ano passado. 

O funcionalismo federal ganhou 27% de aumento salarial. É tudo uma piada gigante.


Texto publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo em 4 de janeiro de 2025

J.R. Guzzo - Revista Oeste

domingo, 5 de janeiro de 2025

Novela da Globo afunda e marca menor ibope dos últimos 420 dias

 Renascer sucumbiu diante de jogo de futebol na Band e ficou com menos de 20 pontos de média

Reprodução


Neste início de ano, Oeste traz novamente aos leitores reportagens que fizeram sucesso ao longo de 2024. O texto abaixo, publicado originalmente em 11 de março, informa que a nova versão de Renascer se demonstrou um fracasso de audiência.

A nova versão de Renascer está cada vez mais distante de ser um fenômeno de público: colocada no ar para tentar reproduzir o êxito do remake de Pantanal, que levantou as noites da Globo depois dos números desastrosos obtidos por Um Lugar ao Sol, a trama de Bruno Luperi ainda não conseguiu se impor na audiência. 

Na Grande São Paulo, principal polo publicitário do país, o folhetim não teve pique para segurar a boa performance de sua primeira fase e empacou no ibope, a ponto de a trama nem sequer ter pique para resistir ao confronto com atrações diferenciadas da concorrência. + Leia mais notícias de Imprensa em Oeste 

Os dados prévios de ibope da metrópole, obtidos através de fontes do mercado, revelam que Renascer sucumbiu diante do inédito embate com uma partida do Campeonato Carioca televisionada pela Band. 

Apesar de a trama não ter sido incomodada pelas emissoras rivais em momento algum, ela não escapou de ter boa parte de seu público habitual indo rumo ao canal ao lado. O folhetim da Globo derrubou os índices deixados pelo Jornal Nacional e teve a pior performance de uma novela das 9 nos últimos 420 dias, com média de 19,9 pontos.

Renascer rendeu processo judicial para a Globo | Foto: Reprodução/TV Globo 

Globo foi sintonizada por apenas 36% das TVs de São Paulo A principal faixa de teledramaturgia da televisão brasileira não tinha uma performance tão fraca há 60 semanas, desde que Travessia marcou 19,1, na noite de 14 de janeiro de 2023. 

Sua antecessora direta na faixa horária, Terra e Paixão, nunca nem ficou abaixo da casa dos 20 pontos de ibope: o recorde negativo da trama de Walcyr Carrasco, que chegou ao fim em 20 de janeiro, foi de 20,6 pontos, em 3 de novembro de 2023, dia em que boa parte da principal metrópole do país viveu um apagão. Aos sábados, a menor marca do folhetim da Globo foi de 21,4 pontos, em 24 de junho. 

\Em sua faixa completa, entre 21h17 e 22h18, Renascer teve a sintonia de apenas 36% dos televisores da Grande São Paulo. No mesmo horário, a Band saltou de seu habitual quarto lugar para uma raríssima vice-liderança no horário nobre, com Fluminense x Flamengo marcando 4,6 pontos no embate com o folhetim.

Revista Oeste

Irmãs de suplente de ministro do ex-presidiário Lula recebem Bolsa Família

 Pagamentos constam do Portal da Transparência da ControladoriaGeral da União



Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento Social, e Jussara Lima, suplente que assumiu a cadeira de Dias no Senado | Foto: Reprodução/Redes sociais


Desde maio de 2013, Magaly e Suely Gomes Alves de Sousa, irmãs da senadora Jussara Lima (PSD-PI), recebem o Bolsa Família, programa de auxílio do governo federal. Jussara é suplente do ministro do Desenvolvimento e Assistência Social do governo Lula, Wellington Dias (PT). O ministério é responsável por coordenar programas como o Bolsa Família. 

A informação foi publicada pelo portal AZ. Os nomes das irmãs constam no Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União (CGU), conforme consulta feita por Oeste. Na época de início, o Bolsa Família oferecia R$ 166 por família. 

Jussara Lima, como senadora, recebe um salário de R$ 44 mil, que será reajustado para R$ 46,6 mil em fevereiro de 2025, conforme decreto legislativo 172/2022. As duas irmãs da senadora moram na cidade de Fronteira (PI). 

Além disso, em Fronteiras (PI), Conceição Alves, outra irmã de Jussara, chefia a Secretaria Municipal de Cultura. Eudinar Agripino, cunhada de Jussara, ocupa o cargo de secretária de Assistência Social do município. 

O Bolsa Família Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), as irmãs deixaram o Bolsa Família, que foi substituído pelo Auxílio Brasil em novembro de 2021, em meio à pandemia de covid-19. Inicialmente, o programa pagava R$ 400, sendo reajustado para R$ 600 em 2022, com o objetivo de fornecer suporte financeiro robusto às famílias vulneráveis. 

O valor mínimo pago pelo Bolsa Família é de R$ 600 | Foto: Divulgação/MDAS 

Em março de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou o retorno do Bolsa Família, que novamente substituiu o Auxílio Brasil. O valor base foi mantido em R$ 600, com adicionais de R$ 150 por criança de até seis anos e R$ 50 para grávidas e jovens entre sete e 18 anos. 

O custo do Bolsa Família para o governo é estimado em R$ 168 bilhões.


Revista Oeste

Luís Roberto 'perdeu mané' Barroso é campeão de voos da FAB em 2024; veja lista

 Ministros de Lula fizeram mais de mil viagens nos jatos militares no ano passado


Presidente do STF foi o que mais voou pela FAB no ano passado - Foto: Nelson Jr./SCO/STF


O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, foi a autoridade que mais usou aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) em 2024. Segundo apuração do jornal O Globo, o ministro fez 146 viagens. 

O número é quase o dobro de vezes em que o jato foi pedido pela presidência da Corte no ano anterior, que chegou a 77. Já o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que tinha sido campeão em 2023 com 135 voos, ficou agora em segundo lugar, com 127 viagens. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, completou o pódio com 123 deslocamentos. 

Os ministros da Justiça e da Defesa, Ricardo Lewandowski e José Múcio Monteiro, aparecem na sequência com 98 e 90 voos, respectivamente. Aliás, os ministros de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fizeram 1.101 viagens nos jatos da FAB em 2024. 

O valor representa queda de 26% em relação ao ano anterior, quando foram 1.493 deslocamentos. Voos compartilhados por mais de um ministro foram considerados apenas uma vez no cálculo. A FAB passou a divulgar em 2024 a lista completa dos passageiros

Lira e Barroso utilizaram voos oficiais da FAB em deslocamentos realizados às vésperas do Natal.

 Ministros do governo do presidente Lula também realizaram viagens por meio da instituição.


Revista Oeste

sábado, 4 de janeiro de 2025

'Na teologia das fake news, só a direita peca e o consórcio Lula-STF vai nos salvar', por J.R. Guzzo

 

(Foto: EFE/ Andre Borges)


De todas as discussões dementes, e sobretudo mal-intencionadas, que o consórcio Lula-STF impôs ao Brasil, talvez nenhuma seja tão sinistra quanto a teologia da fake news. Muita gente reza por essa fé, acreditando ou dizendo acreditar que os ministros e o presidente Lula querem combater o pecado da mentira e trocar seus males pela virtude da verdade. Fazendo as coisas do jeito que eles querem, você nunca mais vai ouvir uma mentira na vida, nem ouvirá pregação do “ódio” e nem será vítima de desinformação. Uma repartição “do Estado”, pelo que eles propõem, vai dizer o que é certo e o que é errado. É o fim da falsidade.

Quanto mais alucinada é a ideia de censurar as redes sociais, como querem o STF e o governo Lula, mais lamentável ela prova ser na prática. Não apenas querem socar no Brasil uma volta à Idade da Pedra, com a sua revolta rancorosa, repressiva e fútil contra o avanço da tecnologia. Também querem usar o aparelho estatal, com a proteção do STF, para impor as suas próprias mentiras. Quer dizer: não basta proibir a publicação de tudo o que não querem ouvir, mas é preciso a garantia de que possam falsificar, sem qualquer risco legal, tudo o que lhes interessa.


Uma repartição “do Estado”, pelo que eles propõem, vai dizer o que é certo e o que é errado. É o fim da falsidade


Acontece praticamente todos os dias e em tempo real. O último espasmo dessa estratégia combinada de impedir o inimigo de abrir a boca, e ao mesmo tempo falar todas as mentiras que o consórcio quiser, foi um manifesto de fim de ano do líder do PT na Câmara dos Deputados com números falsos sobre a inflação no Brasil. Segundo o líder petista, a inflação no Brasil ao fim de 2.024 foi de “4,4%” – muito abaixo, de acordo com a tabela que fez questão de publicar junto, dos índices da Alemanha, Estados Unidos ou Canadá. De fato, a inflação brasileira foi de 4,4%, e ficou abaixo da que foi registrada nas grandes economias – mas isso foi em 2.022, no governo Jair Bolsonaro.

A inflação verdadeira de 2.024 no Brasil foi de 4,9% - acima da meta, superior à de qualquer economia do Primeiro Mundo e com “viés” de alta, como atestou o preço recorde do dólar na abertura de 2.025. O que o deputado disse, portanto, é uma fake news em estado puro – o que, segundo os anátemas do ministro Alexandre de Moraes, é hoje praticamente um crime contra a humanidade, e privativo da “direita”. O deputado apagou a mentira que havia publicado, mas aí o serviço já estava feito. O governo Lula, segundo essa falsificação, está tendo uma inflação menor que a dos Estados Unidos – e isso é o que você vai ouvir, daqui para a frente, da Central Nacional da Verdade. É essa a “regulamentação das redes sociais”.


J.R. Guzzo, Gazeta do Povo


'Não há mais lugar para delírios ufanistas', diz Estadão sobre falência da Sete Brasil

 Jornal cita empresa falida como exemplo dos 'delírios intervencionistas' do governo Lula


Estaleiro BrasFels com obras da Sete Brasil | Foto: Divulgação


Em O fim melancólico da Sete Brasil, o jornal O Estado de S.Paulo retrata a falência da Sete Brasil, depois de 8 anos e meio de um infrutífero processo de recuperação judicial.

Em seu editorial de opinião deste sábado, 4, o veículo se refere à empresa como símbolo do fracasso financeiro, político e estratégico do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Também, como um modelo intervencionista estatal que “não tem mais espaço no Brasil”.

Criada pelo governo Lula 2 para ser a única fornecedora de sondas de exploração do pré-sal, a Sete Brasil acumulou uma dívida que agora alcança R$ 36 bilhões. Mais de 99% permanecem sob inadimplência. 

Para o Estadão, o “desfecho melancólico” do projeto é resultado de uma “obsessão” do governo Lula em transformar o Brasil em uma potência industrial calcada em projetos grandiosos, mas economicamente inviáveis.


Sete Brasil é exemplo dos ‘delírios intervencionistas’ de Lula 

Estadão afirma que o maior prejuízo da empresa não foi a corrupção em si, mas o intervencionimo de Lula | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil 

O texto descreve a Sete Brasil como um dos exemplos mais emblemáticos dos “delírios intervencionistas” da gestão lulopetista. 

Segundo a publicação, a empresa foi criada a partir de uma política nacional-desenvolvimentista que fazia da Petrobras um instrumento do governo para implementar projetos bilionários, mas mal planejados. 

Essa política recebe críticas pela tentativa de “escolher campeãs nacionais”, como se fez com a Sete Brasil, e promover investimentos que acabaram em escândalos e fracassos.

O texto também enfatiza que a corrupção desempenhou um papel significativo no colapso da Sete Brasil. As delações decorrentes da Operação Lava Jato revelaram que o esquema de propinas na Petrobras foi replicado na nova companhia. 

No entanto, o jornal afirma que o maior prejuízo não foi a corrupção em si. Mas o modelo econômico intervencionista liderado por Lula, que buscava tornar o Estado um “indutor da economia”. 

O editorial critica a política do Partido dos Trabalhadores (PT), afirmando que o modelo lulopetista de intervenção econômica é um equívoco histórico. Para o Estadão, a história da Sete Brasil é a prova de que “não há mais lugar para delírios ufanistas”. Isso porque “quem paga é toda a sociedade”. 

Revista Oeste

Depois de denúncia da Revista Oeste, o Hitler tupiniquim Alexandre de Moraes manda tirar tornozeleira de ex-morador de rua absolvido pelo 8 de janeiro

Justiça deveria ter determinado a remoção do equipamento em setembro, quando o STF publicou a certidão de trânsito em julgado


O ministro Alexandre de Moraes é criticado por advogados | Foto: Ton Molina/Estadão Contéudo


Neste início de ano, Oeste traz novamente aos leitores reportagens que fizeram sucesso ao longo de 2024. O texto abaixo, publicado originalmente em 28 de outubro, informa que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou remover a tornozeleira eletrônica do ex-morador de rua Wagner de Oliveira, preso pelo 8 de janeiro. 

Leia a reportagem Nesta segunda-feira, 28, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou remover a tornozeleira eletrônica do ex-morador de rua Wagner de Oliveira, preso pelo 8 de janeiro. 

A ordem é endereçada à Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, onde o homem de 50 anos vai semanalmente prestar informações sobre o monitoramento eletrônico. 

Embora absolvido pelo STF em agosto deste ano, e com a certidão de trânsito em julgado publicada em 10 de setembro, Oliveira ainda usa o equipamento. O homem ficou sabendo do reconhecimento de sua inocência no STF durante conversa com a reportagem, que o procurou para saber como está sendo a vida fora do cárcere.

“Houve uma audiência pelo celular, no ano passado, mas depois ninguém falou mais nada”, contou o homem. “Às segundas-feiras, vou à Vara assinar os papéis.”

Wagner de Oliveira ainda usa tornozeleira eletrônica, mesmo tendo sido absolvido – 21/10/2024 | Foto: Reprodução

Há poucos dias, depois de Oeste noticiar a situação de Oliveira, a Defensoria Pública da União, que o representa na Justiça, pediu a Moraes o fim das medidas restritivas. “Requer a defesa que seja determinada a imediata retirada do equipamento de monitoração eletrônica, bem como comunicado à Vara de Execuções Penais do Distrito Federal que não mais persistem quaisquer medidas cautelares”, escreveu a DPU, no pedido.

No Ponto analisa e traz informações diárias sobre tudo o que acontece nos bastidores do poder no Brasil e que podem influenciar nos rumos da política e da economia. Para envio de sugestões de pautas e reportagens, entre em contato com a nossa equipe pelo e-mail noponto@revistaoeste.com.

Revista Oeste

Economia do Brasil está entrando em um ciclo perverso, diz Rubens Menin, dono da MRV

Para fundador do banco Inter e da CNN, 'política monetária sozinha não consegue resolver o problema do país'



Rubens Menin deu entrevista exclusiva ao jornal Folha de S.Paulo | Foto: Divulgação/MRV 


O empresário Rubens Menin, dono da construtora MRV, da CNN Brasil e do Banco Inter, disse em entrevista exclusiva ao jornal Folha de S.Paulo que a economia do país está entrando em um “ciclo perverso”.

“Acho que nós tivemos um problema de comunicação muito inadequado”, disse Menin à Folha. “O presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] falou que ele é uma pessoa que quer manter o controle orçamentário, que tem tradição em fazer isso, mas as mensagens às vezes saem truncadas.” 

“Estamos perdendo a guerra da comunicação e, na hora que isso acontece, o mercado fica estressado e um gatilho é disparado: os juros futuros sobem e o Banco Central fica em alerta”, acrescenta. “Estamos entrando em um ciclo perverso.” 

O empresário defendeu que todos os atores econômicos se unam em torno de uma agenda comum e cobrou sacrifícios para impedir que os preços ao consumidor saiam do controle, e os juros subam mais ainda. 

“O Banco Central tem uma missão única, que é entregar a inflação na meta de 3%”, disse. “Mas a política monetária sozinha não consegue resolver o problema do Brasil.” 

“Quando o PIB cresce e quando sobe o dólar, automaticamente isso é repassado para os preços”, acrescentou. 

“Estamos fazendo uma corrida de cachorro atrás do rabo. Não podemos deixar a inflação escapar desse nível que está, que é perigoso e difícil de botar dentro da caixa de novo. O risco é muito alto.”

“Então, acho que nós estamos, sim, vivendo um momento extremamente delicado”, afirmou. “Os agentes de mercado estão mostrando isso. Existe um ceticismo em relação à nossa economia.” 

Menin fala sobre impacto da política monetária no mercado imobiliário 

O empresário também falou sobre o impacto da alta de juros para o mercado imobiliário, setor em que atua no Brasil com a MRV e a Log Commercial Properties. 

Segundo ele, o país tem bons mecanismos de concessão de crédito imobiliário para todas as faixas de renda, mas afirmou que os juros altos estão “minando” esses mecanismos. 

“Aos poucos, vai sangrando, sangrando, até um momento que não tem volta”, afirmou. 

Revista Oeste

Revista Oeste atinge a marca de 100 mil assinantes

Comunidade de leitores é responsável por bancar diretamente a operação da publicação, que não aceita dinheiro público


Revista Oeste: 100 mil assinantes com menos de 5 anos de história na imprensa brasileira | Foto: Divulgação/Revista Oeste


A Revista Oeste acaba de atingir um de seus objetivos: ter 100 mil assinantes. O feito foi anunciado nesta sexta-feira, 3, pelo jornalista Augusto Nunes, durante edição do programa Oeste Sem Filtro. 

Os assinantes de Oeste são responsáveis por bancar diretamente a operação da publicação, que, diferentemente dos outros veículos de comunicação, não aceita publicidade estatal e não recebe nenhum tipo de dinheiro público. 

Em Oeste, a barreira de 100 mil assinantes foi rompida com pouco tempo de vida. Idealizada por Jairo Leal, J. R. Guzzo e Augusto Nunes, a iniciativa de jornalismo 100% on-line e independente estreou em março de 2020.

De acordo com Nunes, que também é colunista e conselheiro editorial de Oeste, a base de leitores é bem mais do que um simples número. Ele enfatiza que o fato de ter 100 mil assinantes ajudará o veículo de comunicação a crescer ainda mais, em todas as frentes: site, revista digital semanal e no audiovisual, com programação diária e líder de audiência.

“Com quase cinco anos de vida, Oeste já fala de igual para igual com qualquer outra publicação do mundo”, disse Nunes. “Só posso agradecer aos assinantes por esse feito histórico.”




Planos para assinar a Revista Oeste 

Atualmente, o veículo conta com quatro possibilidades de assinatura:

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Quem optar pelo plano de 10 anos ganha também um exemplar autografado do livro O melhor de Oeste.

Para fazer parte da família Oeste, basta clicar aqui, escolher o plano e acompanhar o passo a passo. A partir daí é só seguir a orientação que a diretora de redação da Revista Oeste, Branca Nunes, reforça a cada nova Carta ao Leitor: boa leitura. 

Revista Oeste

Flávio Gordon: 'Retrospectiva de 2024, o ano em que vivemos em censura'

 

Mesmo após seus métodos ficarem expostos na Vaza Toga, Alexandre de Moraes continuou censurando ao longo de 2024. (Foto: Antonio Augusto/STF)


Como tenho repetido em toda primeira coluna do ano, faço aqui uma retrospectiva dos principais acontecimentos de 2024. O ano que passou foi, sem dúvida, um período difícil para os brasileiros, que sofreram com o endurecimento do regime de exceção ora vigente no país, cujo Estado se encontra inteiramente mobilizado e coeso em prol da censura aos cidadãos e da autoproteção da Nomenklatura. Por outro lado, na medida em que recrudesceu nos abusos praticados, o regime brasileiro também ficou mais exposto na esfera internacional, sobretudo nos EUA. Veio desse país, aliás, a notícia mais alvissareira do ano, com a eleição de Donald Trump para a presidência, uma vitória política que, indiretamente, tende a enfraquecer a maquinaria da censura aqui no Brasil.

Como não poderia deixar de ser, aliás, a censura foi um tema recorrente nas minhas colunas de 2024. Na primeira coluna do ano, por exemplo, intitulada “A Seção Brasileira do Complexo Industrial Global da Censura”, eu comentei sobre uma reportagem autorada pelo jornalista investigativo David Ágape, e publicada no portal do jornalista americano Michael Shellenberger, que começou a denunciar os bastidores americanos da censura no Brasil, um fenômeno que eu comecei, doravante, a chamar de A Internacional da Censura. Escrevi então:

“Intitulada ‘FBI, Soros, And Secret Police In Vast Censorship Conspiracy in Brazil’, a matéria dá detalhes concretos sobre um fenômeno que os leitores desta coluna já suspeitavam há tempos: o Brasil ocupa hoje uma posição colonizada e subalterna num grande arranjo supranacional de poder que não seria exagerado chamar de Internacional da Censura. Num tal esquema global de restrição da liberdade de expressão, que abarca as elites política, financeira e comunicacional de boa parte do planeta, e no qual se imiscuem as esferas pública e privada (como bem demonstrou Shellenberger em seu depoimento ao Congresso americano), o partidarismo desavergonhado, truculento e autoritário dos representantes dos nossos tribunais superiores é apenas a ponta do iceberg, e conta com o respaldo de uma série de poderosos atores globais.”


Democracia e democratas de mentira

Na coluna do dia 29 de fevereiro, intitulada “Quando a democracia de ficção perde para a democracia real”, eu analisava o impacto da grande manifestação pela redemocratização ocorrida no dia 25 na Avenida Paulista, e sugeria que aquele exemplo vivo de democracia contrastava com a democracia postiça propalada pelos representantes do regime STF/PT/Rede Globo. Àquela altura, eu notava, o mundo já havia começado a notar o caráter cenográfico da nossa democracia, sobretudo após as declarações antissemitas do mandatário brasileiro e da detenção do jornalista português Sérgio Tavares pela Polícia Federal de Alexandre de Moraes:

“A trama está cada vez mais ridícula e apelativa. Os atores, cada vez mais canastrões. E o roteiro convence cada vez menos gente (...) Mas, se antes eram só os brasileiros os incomodados com uma produção de tão baixa qualidade, que faz tão pouco caso da inteligência do espectador, agora o mundo inteiro parece começar a se dar conta do que acontece por trás das coxias e dos bastidores do nosso teatro (cada vez mais mambembe) de democracia.”


O mundo começou a notar o caráter cenográfico da nossa democracia, sobretudo após as declarações antissemitas de Lula e da detenção do jornalista português Sérgio Tavares pela Polícia Federal

Em 7 de março, por ocasião da eleição fraudulenta na Venezuela, comentei sobre a tentativa desesperada da Globo de distanciar o mandatário brasileiro de Nicolás Maduro, depois que o primeiro se referiu à manifestação da opositora venezuelana María Corina Machado de “choro de perdedor”. Como confirma a notícia recentíssima sobre a presença de representantes do governo brasileiro na “posse” do ditador venezuelano, aquele afastamento, manifesto em declarações ambíguas do descondenado-em-chefe, não passava de farsa. Como escrevi naquele contexto:

“Que Lula esteja se empenhando tanto em falsificar a imagem de Maduro e apresentá-lo como um democrata não deveria escandalizar um grupo de mídia que tem feito exatamente o mesmo com o mandatário brasileiro. Portanto, o escândalo recém-ostentado pelo jornalismo da Globo parece ser insincero e calculado (...) Merval Pereira e seus companheiros de estúdio querem nos convencer de que o apoio petista ao chavismo é circunstancial e quase acidental. Mas a realidade é que Lula e Maduro são parceiros históricos, comparsas de um mesmo projeto de poder.”

Na coluna do dia 14 de março, eu voltava a falar da repercussão internacional da censura no Brasil, sobretudo no contexto americano, cujo meio político republicano começava a tomar par da nossa situação, o que causava embaraço aos censores tupiniquins:

“Eis que, proveniente do norte, atingiu-nos recentemente uma lufada de realidade que tornou ainda mais difícil a vida dos nossos dublês de democratas. Nos EUA – país que, apesar do esforço em contrário por parte de Joe Biden e do Partido Democrata, ainda é o principal modelo de democracia liberal –, merecem destaque especial dois acontecimentos relativos à situação política no Brasil. O primeiro foi a negativa do governo americano em extraditar Allan dos Santos, perseguido político de Lula e Alexandre de Moraes, que têm movido mundos e fundos junto à administração democrata para arrancar o jornalista do exílio e encarcerá-lo indefinidamente numa das masmorras do regime, nas quais já morreram dois presos políticos. O segundo foi a comitiva formada por parlamentares e jornalistas brasileiros exilados na América, que conseguiram estabelecer importantes contatos com congressistas americanos e denunciar o regime de exceção ora vigente no Brasil. A repercussão foi tanta que até Elon Musk chegou a se mostrar alarmado com a situação dos perseguidos políticos no Brasil.”


Os métodos dos censores começam a vir à luz

Ainda no contexto de crescente exposição da censura brasileira nos EUA, dediquei a coluna do dia 4 de abril ao recém-revelado escândalo dos Twitter Files Brazil, que escancaravam a participação do deep state americano no fomento à violação de direitos humanos no Brasil. Escrevi:

“Esses e muitos outros abusos de autoridade e violações de direitos humanos fundamentais foram revelados ontem, dia 3, pelo jornalista americano Michael Shellenberger, em colaboração com os brasileiros David Ágape e Eli Vieira, no que ficou conhecido como os Twitter Files Brazil. Embora as revelações não cheguem a surpreender quem esteve atento à realidade brasileira dos últimos anos, elas trazem uma prova material concreta de como tem operado o complexo industrial da censura em terras brasileiras, e a que ponto as instituições do Estado foram instrumentalizadas para a perseguição ditatorial contra um lado do espectro político – no caso, a direita (...) Independentemente das consequências que as revelações de agora possam ter – e, diante da completa captura das instituições por parte do regime, tenho pouquíssimas esperanças que tenham –, fico feliz de que, ao menos, a verdade vai sendo revelada. E a revelação da verdade é um fim em si mesmo. A ditadura vai sendo cada vez mais escancarada, e o preço moral de sua manutenção vai ficando cada vez mais alto para os seus íderes, apoiadores e chanceladores por omissão.”

Na terrível tragédia do Rio Grande do Sul, o governo federal esteve mais preocupado em se autopromover e em censurar informações verdadeiras do que em fazer algo de efetivo

É a partir da publicação dos Twitter Files Brazil que Elon Musk começa a ingressar com mais vigor no debate político brasileiro. É do que trato na coluna do dia 12 de abril:

“O ingresso de Elon Musk na guerra entre os defensores da liberdade de expressão contra os entusiastas da censura no Brasil provocou um verdadeiro abalo nos até então autoconfiantes expoentes do regime de exceção ora vigente. Diante da exposição mundial da maquinaria de censura política montada pela esquerda (e, por mais excêntrico que isso possa soar, isso inclui a suprema corte brasileira) contra a direita no país, os que foram expostos reagiram de modo paranoico e provinciano, logo articulando teorias da conspiração sobre uma suposta trama da ‘extrema-direita’ mundial e aconchegando-se no terreno alienante dos autoelogios e da bajulação mútua entre pares.”

Por “terreno alienante dos autoelogios e da bajulação mútua entre pares”, eu referia-me à opinião de Gilmar Mendes segundo a qual Alexandre de Moraes é “um orgulho para a nação”, opinião que ele repetiu há alguns dias, apesar de, mais uma vez, ela contrariar o que mostram as pesquisas e o clima de opinião geral no país, como atesta o mais recente editorial do Estadão sobre a queda livre da credibilidade do STF.

Na coluna de 18 de abril, tratei do relatório sobre a censura no Brasil publicado pelo Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes dos EUA. Abordei, mais particularmente, o meu caso pessoal de censura em 2022, de cujas razões (ou pretextos) eu finalmente tomava conhecimento por meio de um órgão estrangeiro. Escrevi:

“E o meu nome consta no documento, ali entre as páginas 396 e 405, permitindo-me afinal, quase dois anos depois de aplicação da penalidade, conhecer o teor dos ‘crimes’ de opinião de que fui acusado, e pelos quais, na época, tive o meu perfil no Twitter (hoje X) sumariamente excluído (...) Ao fim e ao cabo, foi-me vedado o direito e o exercício de cidadania de argumentar em favor do voto impresso auditável e de criticar a condução do processo eleitoral por parte dos servidores públicos responsáveis, os quais, ao contrário do que parecem imaginar, não são donos do processo eleitoral, nem tampouco editores da sociedade. E, não fosse a circunstância excepcional da divulgação das ordens sigilosas por parte de um órgão estatal estrangeiro, eu continuaria ignorante sobre a razão da minha censura, bem como indefeso ante as pechas injuriosas a mim atribuídas, com o auxílio de uma imprensa submissa, por agentes do Estado brasileiro.”

Em maio, tivemos a terrível tragédia no Rio Grande do Sul. O grande destaque negativo foi o comportamento do governo federal brasileiro, mais preocupado em se autopromover e em censurar informações verdadeiras sobre as ações particulares de ajuda humanitária do que em fazer algo de efetivo. Observei na ocasião:

“A tragédia das enchentes no Sul do país deixou algo muito claro: o Estado brasileiro não é apenas ineficaz. Não peca apenas por omissão. Demonstra um ódio ativo à eficácia e à boa ação dos particulares. Em termos morais, o Estado brasileiro não se contenta em ser mau. Nutre ódio pelos bons. O Estado ressente-se da caridade particular, e busca uma vingança contra os que praticam o bem.”

A lógica defensiva utilizada pelo consórcio PT-STF para supostamente “preservar a democracia” foi similar à que os nazistas utilizaram para “proteger o Reich e o povo alemães”

O fato mais marcante do mês de julho foi o atentado contra Donald Trump, interpretado por ele e por apoiadores como um milagre. Na coluna do dia 18 de julho, aproveitei o ocorrido para discorrer sobre a recorrência da ideia de Providência na história política americana. Escrevi então:

“No dia seguinte ao atentado, Donald Trump foi à sua rede Truth Social para agradecer aos que rezaram por sua vida e defender a tese do milagre: ‘Agradeço a todos pelos pensamentos e orações de ontem, pois foi somente Deus quem impediu que o impensável acontecesse’. Ou seja, Trump, o cristão, interpretou o ocorrido como tantos outros compatriotas e companheiros de credo religioso – como uma intervenção divina. Mas, longe de ser uma mera expressão individual de fé, sua postagem também refletiu uma dimensão cultural profunda, inserindo-se na longa tradição americana de interpretar a história do país como sendo inerentemente marcada pela Providência.”

Em 25 de julho, fiz uma comparação entre o aproveitamento lulopetista do 8 de janeiro de 2023 e o uso político que os nazistas fizeram do famigerado incêndio do Reichstag, ocorrido em 27 de fevereiro de 1933. Procurei demonstrar como, mutatis mutandis, a lógica defensiva utilizada pelo consórcio PT-STF para supostamente “preservar a democracia” foi similar à que os nazistas utilizaram para “proteger o Reich e o povo alemães”. Em minhas palavras:

“Do ponto de vista do regime lulopetista, o 8 de janeiro tinha de acontecer. Tanto quanto, do ponto de vista dos nacional-socialistas recém-chegados ao poder na Alemanha dos anos 1930, tinha de acontecer o incêndio do Reichstag (...) Há um elemento irredutível de arbitrariedade em toda decisão sobre o que constitui ou não um ‘inimigo’ da democracia. Isso porque a decisão sobre quem excluir da possibilidade de participar do jogo democrático é, no fim das contas, uma decisão sobre as fronteiras da própria comunidade política, a qual não pode ser tomada de forma coerente por procedimentos democráticos e, portanto, não pode ser subsumida sob qualquer norma prévia. Por mais travestida de norma constitucional e preocupação democrática que ela apareça, a lógica ‘defensiva’ é sempre uma questão de arbitrariedade política, cujo objetivo final, longe de proteger algum bem político consagrado, consensual e universal (incluindo a própria democracia), é o de redefinir a comunidade política e dela expurgar os elementos tóxicos – quer sejam os judeus, os kulaks, os burgueses ou... os bolsonaristas.”


Mesmo expostos, os censores dobram a aposta

A coluna do dia 15 de agosto foi a primeira escrita após o escândalo da Vaza-Toga (que estourou no dia 13). Nela, eu descrevi como foi o estilo de golpe de Estado aplicado no Brasil em 2022, e celebremente anunciado pelo petista José Dirceu já em setembro de 2018. Nesse texto, creio ter sido o primeiro no Brasil a adotar o conceito de “golpe de Estado jurídico (ou judicial)” – que eu tomo como uma linha de desenvolvimento possível do gramscismo – para explicar a nossa situação presente. Escrevi:

“Daí que o golpe de Estado jurídico (ou judicial) seja muito mais insidioso e difícil de reverter, uma vez que, menos espalhafatosos que golpistas revolucionários ortodoxos, seus agentes impõem uma nova ordem recorrendo aos símbolos e ao prestígio da ordem antiga, não hesitando, por exemplo, em julgar em favor da censura no ato mesmo de condená-la verbalmente por inconstitucional. O sintoma do golpe de Estado jurídico é a presença quase obsessiva da palavra ‘democracia’ justo na boca dos que subvertem todos os seus institutos tradicionais, a começar pela liberdade de expressão, a isonomia e o devido processo legal (...) Não, o golpe de Estado gramsciano não ocorre com a ousadia da força bruta e o estrondo de canhões, mas com a pusilanimidade dos cochichos e tapinhas no rosto, o tilintar das taças de champanhe, as ações ‘fora dos ritos’ e as risadinhas cúmplices em grupos de WhatsApp.”


O banimento do X do Brasil acentuou ainda mais a exposição do nosso regime aos olhos do mundo

Em setembro, o X foi banido do Brasil por ordem de Alexandre de Moraes. A medida ditatorial colocava o país na infame companhia de regimes totalitários como China, Rússia e Coreia do Norte. Este foi o meu comentário na coluna do dia 5 de setembro:

“Censura! Censura! Censura! Vai ser uma censura legal – pareceu gritar boa parte dos nossos jornalistas e formadores de opinião quando da eclosão do regime de exceção ora vigente no Brasil, cujo episódio mais recente foi o banimento do X por ordem de Alexandre de Moraes, que assim, com uma canetada, censura 20 milhões de brasileiros e coloca o país ao lado de regimes fechados como China, Rússia, Venezuela e Coreia do Norte. Muitos jornalistas brasileiros acreditaram que seria um estado de exceção apenas temporário, mirando alvos bem definidos (os ‘bolsonaristas’), e tudo fizeram para retratar o ditador como uma ‘muralha’ da democracia contra perigosos agressores.”


O banimento do X do Brasil acentuou ainda mais a exposição do nosso regime aos olhos do mundo. Também em setembro, congressistas americanos denunciaram formalmente a censura no Brasil. E esse foi o tema da coluna do dia 19 de setembro:

“Se, internamente, a reação à ditadura instaurada no Brasil por Alexandre de Moraes ainda é tímida e pouco numerosa, ela tem sido muito dura na pátria-mãe da liberdade de expressão, os EUA. Na última terça-feira, por exemplo, a deputada de origem cubana María Elvira Salazar – que, em maio, ficou famosa no Brasil por exibir, ao estilo ‘Wanted!’ do Velho Oeste, uma foto de Alexandre de Moraes em audiência do Comitê de Assuntos Internacionais do Congresso americano para discutir a censura no Brasil – apresentou o projeto de lei intitulado ‘No Censors on our Shores’ (‘Sem censores nas nossas costas’), cujo objetivo é garantir que qualquer ato de censura realizado por funcionários públicos estrangeiros contra cidadãos americanos (como Elon Musk) seja punido com a proibição de entrada no país ou, caso o funcionário esteja em solo norte-americano, com a deportação (...) No dia seguinte, somando-se ao arsenal de críticas à censura no Brasil, um grupo de parlamentares americanos encaminhou uma carta ao Secretário de Estado americano, Antony Blinken, solicitando a revogação dos vistos de todos os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com destaque para Alexandre de Moraes, descrito no documento como ‘ditador totalitário’. Assinada por quatro deputados e um senador (todos do Partido Republicano), a carta afirma que, em função de decisões ilegítimas do STF, dentre elas a suspensão do X, a democracia e a liberdade de expressão estão sob ameaça no Brasil. O documento menciona ainda a partidarização da corte e a prática de lawfare contra conservadores brasileiros, numa ‘perigosa guinada autoritária em uma das maiores democracias do Ocidente’.”


O ano termina com as boas notícias vindas dos EUA

Em novembro, dediquei duas colunas à impressionante ressurreição política de Donald Trump nos EUA. Na primeira delas, do dia 7 de novembro, argumentei que a vitória trumpista significara um mandato popular para desobamizar e ‘desowokizar’ a América. Afirmei:

“Donald Trump é o anti-Obama. É o candidato de uma América que quer voltar a se orgulhar de sua história. Que está farta do divisionismo identitário e da política woke do pensamento. Que quer prosperar, se desenvolver, criar seus filhos tranquilamente, se relacionar espontaneamente com o próximo, rezar... Se, respondendo a um sujeito que gritara ‘Jesus Cristo é o Senhor’ num dos seus comícios, Kamala Harris disse que ele estava no lugar errado, a sociedade americana parece ter enxergado em Donald Trump uma resposta melhor. Ao que parece, era Kamala – herdeira do antiamericanismo obamista – quem estava no país errado.”


A vitória trumpista significou um mandato popular para desobamizar e ‘desowokizar’ a América

Finalmente, dediquei a coluna de 14 de novembro a uma reflexão sobre os possíveis efeitos para o Brasil do projeto político de Trump contra o deep state americano. Escrevi então:

“Durante esse processo, que já está sendo chamado de ‘a vingança de Trump contra o Deep State’, o Brasil bem pode colher algumas consequências políticas interessantes, beneficiando-se indiretamente da drenagem. Afinal, hoje sabemos que ‘o pântano’ americano – em especial a sua corrompida comunidade de inteligência, instrumentalizada pelos democratas para a espionagem interna, a censura e a perseguição política contra adversários – foi o grande sustentáculo e promotor da seção brasileira do Complexo Industrial da Censura. Sim, ao longo de todo o governo de Joe Biden (que, aliás, interferiu diretamente no processo eleitoral de 2022), os nossos censores tiveram as costas quentes.”

Estamos a alguns dias da posse de Trump. Veremos, enfim, o que esse e outros acontecimentos de 2025 nos reservam. E, obviamente, uma avaliação geral do ano terá de esperar a primeira coluna de 2026... Por ora, desejo a todos um ótimo 2025, um ano que exigirá dos brasileiros de bem altas doses de resiliência e sabedoria. Que Deus nos guie!


Flávio Gordon - Fazeta do Povo

Sob o 'cartel Lula-STF', número de pessoas em situação de rua salta 25%

Dado de dezembro de 2023 é 14 vezes maior do que o registrado há 11 anos 



Pessoas em situação de rua se concentram principalmente no Sudeste | Foto: Ev/Unsplash 


O número de pessoas que vivem em situação de rua no Brasil cresceu aproximadamente 25% sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). É o que revela um estudo do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

Em dezembro de 2023, havia 261.653 pessoas morando nas ruas. No mesmo período de 2024, esse número saltou para 327.925. O dado mais recente é 14 vezes maior do que o registrado 11 anos atrás, em 2013, quando 22.922 pessoas viviam nas ruas no país. 

O levantamento também revelou que sete de cada 10 pessoas nessa situação não concluíram o ensino fundamental, sendo que 11% são analfabetos. Região Sudeste concentra maior parte de pessoas na rua A Região Sudeste concentra a maior parte da população em situação de rua, com 204.714 pessoas (63% do total). 

O Nordeste vem em seguida, com 47.419 indivíduos, o que representa 14% do total. No Estado de São Paulo, estão 43% de todas as pessoas nessa condição no país — um total de 139.799. O Rio de Janeiro aparece em segundo lugar, com 30.801, seguido por Minas Gerais, com 30.244.

A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social de São Paulo informou que, em 2024, cerca de R$ 156 milhões, dos R$ 240 milhões do Fundo Estadual de Assistência Social, foram destinados a serviços de Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade. Os dados para a pesquisa foram coletados a partir do Cadastro Único de Programas Sociais, que inclui beneficiários de iniciativas como o Benefício de Prestação Continuada e o Bolsa Família. 

Os números 03/01/2025, 16:08 Com Lula, número de pessoas em situação de rua salta 25% https://revistaoeste.com/brasil/com-lula-numero-de-pessoas-em-situacao-de-rua-salta-25/ 2/6 ajudam a dimensionar os repasses para os municípios e a identificar populações em situação de vulnerabilidade social. 

Revista Oeste xom Agência Brasil

'Ibovespa volta à Era Dilma', por Carlo Cauti

E mais: os péssimos números da economia brasileira, o crescimento da rede elétrica e o investimento árabe nas faculdades de medicina


Foto: Revista Oeste/IA


Ibovespa encerrou 2024 com uma queda de cerca de 30% se contabilizado em dólares. É o pior desempenho desde 2015, quando o principal índice de valores da Bolsa de São Paulo (B3) chegou a recuar 41%. 

Segundo dados da consultoria Elos Ayta, o resultado consegue ser pior até mesmo que o do primeiro ano da pandemia, 2020, quando a queda do Ibovespa foi de 20,2%. Entre as piores ações do ano está a Magalu, que recuou quase 80% em 2024. Mas todas as empresas do “kit Lula” — Assaí, Lojas Renner e CVC — fecharam o ano em queda livre, perdendo respectivamente 60%, 23% e 54%.

Índices brasileiros no fundo do poço Com o péssimo resultado do Ibovespa, o Brasil chegou ao fim do ano com o pior desempenho entre os principais mercados emergentes do mundo. Além disso, o dólar comercial encerrou o ano a R$ 6,18, acumulando uma alta de quase 30% em 2024. Com isso, o real tornou-se a moeda mais desvalorizada entre os países do G20 e a sexta com maior perda global.


O dólar comercial encerrou o ano a R$ 6,18 | Foto: Shutterstock 

Dólares fogem do Brasil 

 piores resultados do século. Segundo dados do Banco Central, o fluxo cambial total até o fim de dezembro (último dado disponível) foi negativo em quase US$ 16 bilhões. Só em dezembro, mais de US$ 24 bilhões saíram do Brasil. O resultado de 2024 só perde para os anos de 2019 — ano de alta de juros nos EUA — e 2020, primeiro ano de pandemia, quando as saídas líquidas atingiram US$ 45 bilhões e US$ 28 bilhões, respectivamente.

Reservas internacionais caem para US$ 230 bi

A saída de dólares do Brasil está provocando uma forte desvalorização do real. Para tentar conter essa queda do câmbio, o Banco Central está injetando dólares no mercado retirando-os das reservas internacionais. 

Por isso, o nível das reservas registrou uma queda de 8,46% em dezembro, a maior redução mensal da série histórica. 

A maior redução mensal anterior havia sido de 5,32%, em março de 2020, no início da pandemia. 

As reservas passaram de cerca de US$ 363 bilhões no fim de novembro para cerca de US$ 332 bilhões no final de dezembro, o menor nível desde fevereiro de 2023. 

Entretanto, cerca de um terço das reservas brasileiras já está comprometido com operações de swap cambial do Banco Central. Portanto, o Brasil tem cerca de US$ 230 bilhões como reservas líquidas.

 

O Banco Central está injetando dólares no mercado retirando-os das reservas internacionais | Foto: Shutterstock

Quem quer comprar a dívida pública? 

As emissões de títulos realizadas pelo Tesouro Nacional em 2024 somaram R$ 1,35 trilhão. Esse número está abaixo da necessidade de financiamento para o ano prevista no Plano Anual de Financiamento (PAF): R$ 1,42 trilhão. 

O colchão de liquidez no final do ano ficou por volta de de R$ 900 bilhões, inferior aos R$ 982 bilhões do fechamento de 2023. 

No ano passado, os investidores não quiseram adquirir títulos prefixados (LTNs e NTN-Fs), com participação relativa de 23% nas emissões totais, ante 41% (2023) e 36% (2022). Os compradores preferiram papéis pós-fixados — as LFTs —, que chegaram a 65% do total em 2024. Nível bem acima dos 39% de 2023 e 40% de 2022.

 

A Vale arregou

 A Vale sucumbiu às pressões do governo. Aceitou pagar cerca de R$ 17 bilhões para os cofres públicos em troca da repactuação dos contratos de concessão da Estrada de Ferro Carajás (EFC) e da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). 

O Executivo estava pressionando a mineradora desde 27 de janeiro de 2024 — o dia seguinte ao da recusa dos acionistas da Vale em ter o exministro Guido Mantega como CEO.

Lula não gostou, e mandou o ministro Renan Filho cobrar quase R$ 26 bilhões questionando uma renovação de ferrovias feita em 2020, durante o governo Bolsonaro. 

A Vale informou que o aporte compreende os investimentos e obrigações previstas para a companhia nos contratos de concessão. Garante também a aplicação de soluções consensuais definitivas 


A-29 Super Tucano, da Embraer | Foto: Reprodução/Redes Sociais



Brasil elétrico

O Brasil alcançou um novo recorde anual de expansão da geração de energia elétrica. 

Segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foram gerados 10.321 megawatts (MW) em 2024. 

No ano passado, foram 283 novas usinas implantadas, das quais 139 solares fotovoltaicas (5.354,17 MW), 115 eólicas (4.045,40 MW), 20 termelétricas (869,70 MW), sete pequenas centrais hidrelétricas (47,50 MW) e duas centrais geradoras hidrelétricas (4,60 MW). 

O consumo no Brasil também não para de subir: o aumento foi de 5,9% no acumulado dos primeiros 11 meses do ano passado em relação a 2023, totalizando 560.302 GWh.


O Brasil alcançou um novo recorde anual de expansão da geração de energia elétrica | Foto: Shutterstock 

O fiasco do Fies

 Entre janeiro e novembro de 2024, apenas 19,15% das 112,1 mil vagas abertas no Fies foram preenchidas. 

Segundo dados que constam no site do FNDE, autarquia do Ministério da Educação (MEC) que administra o programa de financiamento estudantil do governo federal, apenas 21,8 mil contratos foram fechados no período. Em 2023, esse montante tinha sido de 48 mil. 

Mesmo assim, o MEC anunciou um aumento no número de vagas para o Fies para 2025. Disponibilizou R$ 774 milhões para 112.168 novas vagas ao longo dos dois semestres.


Medicina das arábias 

O fundo soberano de Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), Mubadala Capital, comprou mais uma faculdade brasileira com vagas de medicina. 

Por meio da subsidiária Clariens, que concentra seus negócios no setor, o Mubadala adquiriu o Centro Universitário Imepac em Araguari, município na região de Uberlândia (MG). A entidade tem 219 vagas anuais autorizadas no bacharelado em medicina. 

Em outubro, o Mubadala tinha adquirido outra faculdade de medicina em Minas Gerais, a Inapós, localizada em Pouso Alegre, que oferece 150 vagas para o curso de medicina.


O Dia de Tanure

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) autorizou a compra da rede de supermercados Dia pelo fundo de investimentos Arila, ligado ao investidor baiano Nelson Tanure. 

Entre os possíveis planos de Tanure está uma fusão entre o Dia com o Grupo Pão de Açúcar (GPA), para criar um novo polo do varejo nacional. 

Tanure estaria em conversas preliminares para a compra das ações do Casino na companhia. Casino e GPA negaram as discussões. 


O Cade autorizou a compra da rede de supermercados Dia pelo fundo de investimentos Arila | Foto: Reprodução

Carlo Cauti, Revista Oeste

'Globo e PT: tudo a ver', por Anderson Scardoelli

Com o retorno de Lula ao poder, a emissora da família Marinho já recebeu mais de R$ 250 milhões do governo federal


Foto: Montagem Revista Oeste/Ricardo Stuckert/PR/Shutterstock


O vídeo viralizou logo depois da confirmação de que Luiz Inácio Lula da Silva havia vencido Jair Bolsonaro no segundo turno da disputa presidencial de 2022

As imagens que circularam pelas redes sociais mostravam jornalistas da TV Globo deixando de lado o alegado apartidarismo para comemorar o êxito do petista. Repórteres, produtores e editores sorriam, batiam palmas e se abraçavam. Houve até quem se arriscasse a dançar em meio à redação. Dois anos depois, ao menos em termos financeiros, a emissora tem novos motivos para gargalhar e vibrar com a volta do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder.




Dados compilados por Oeste a partir de informações disponibilizadas pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) revelam o tamanho da bolada que saiu do bolso dos pagadores de impostos para os cofres do conglomerado de mídia da família Marinho. Desde janeiro de 2023, ocasião em que o PT retomou o comando do Executivo federal, os canais abertos pertencentes à Globo ou aos seus afiliados ganharam R$ 252 milhões. Valor que supera os R$ 242,1 milhões recebidos pelos mesmos veículos de comunicação durante a totalidade dos quatro anos em que Jair Bolsonaro esteve à frente do Palácio do Planalto.

Apesar de a Globo ter emissoras próprias em apenas cinco cidades (Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Recife), a Secom classifica as afiliadas espalhadas por todos os Estados brasileiros como parte do mesmo grupo. 

A deputada federal Rosana Valle (PL-SP) não se surpreende com a quantia milionária repassada à emissora pela equipe do ministrochefe da Secom, o petista Paulo Pimenta. Para ela, que é formada em jornalismo e trabalhou durante 25 anos na TV Tribuna (afiliada da Globo na Baixada Santista), trata-se de estratégia do governo. De acordo com a parlamentar, os repasses vão aumentar, pois vão além da questão meramente comercial. A congressista acredita que o investimento reforça uma aliança de conteúdo. 

“O PT conhece o poder da mídia e, historicamente, sempre investiu, e muito, em veículos de comunicação, principalmente nos que têm boa vontade e alinhamento com o governo petista”, avalia a deputada. “A TV Globo ainda tem audiência e poder junto às camadas mais desassistidas da população, público preferencial do atual governo. Daí o investimento maciço na emissora, que hoje é quase uma porta-voz das posições da gestão federal. Em confronto, inclusive, com quase tudo o que diz respeito ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à direita brasileira.” 

Âncoras oficialistas 

A divisão de TV aberta do Grupo Globo não é a única a ter razões para festejar a volta da turma do PT à Secom. Em dois anos, os jornais impressos do conglomerado voltaram a veicular anúncios de órgãos controlados diretamente pelo governo federal. Dessa forma, O Globo, Valor Econômico e outros títulos receberam mais de R$ 900 mil no decorrer dos últimos 24 meses. Sob Bolsonaro, a quantia se limitou a R$ 137 mil — que foram desembolsados em ações publicitárias realizadas em 2019. Depois, a fonte secou.


Paulo Pimenta e Luiz Inácio Lula da Silva | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

 



Gráfico de comparação de verba estatal | Ilustração: Revista Oeste 


A elevação de verba publicitária por parte do governo federal se relaciona com a conduta editorial do Grupo Globo, conforme indica Rosana Valle. Ainda em meio ao processo eleitoral de 2022, o âncora William Bonner disse durante edição do Jornal Nacional que Lula, que havia sido condenado em três instâncias, “não devia nada à Justiça”. Em junho de 2023, a empresa contratou Daniela Lima, a apresentadora que um dia depois da eleição do petista afirmou que o povo voltaria a comer picanha, a se vestir bem e a “transformar” aeroportos em rodoviárias. Hoje, a mesma Daniela Lima dá risada ao dizer que recebe figurinha de ministro de Estado no WhatsApp e usa o microfone da GloboNews para culpar memes de redes sociais pela alta do dólar — hipótese que o mais novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, negou publicamente.


 



Público em fuga O aumento do dinheiro que a Secom injeta na TV Globo contrasta com a queda de audiência da emissora, tanto no jornalismo quanto em outros segmentos da programação. O Jornal Nacional, por exemplo, perdeu 41% do público na Região Metropolitana de São Paulo em duas décadas, indo da média de 39,8 pontos no Ibope em 2004 para 24 pontos em 2023. O que era ruim para o noticiário apresentado por William Bonner e Renata Vasconcellos ficou ainda pior. Neste ano, a média do programa é de 23 pontos na Grande São Paulo, principal praça para o mercado publicitário. Na região, cada ponto do Ibope equivale a 200 mil telespectadores. 

Na teledramaturgia, o fiasco de audiência também se faz presente. O episódio de Mania de Você exibido na véspera de Natal deste ano entrou de forma negativa para a história do canal. Com 14,1 pontos de média na Região Metropolitana de São Paulo, foi o pior Ibope para uma telenovela das 21 horas. 

Nas demais mídias, a fuga de público prossegue. A GloboNews, que se gaba por ser o canal de notícias mais assistido da TV paga, tem média diária de apenas 0,33 ponto no Painel Nacional de Televisão — indicador aferido pela Kantar Ibope Media. Na Grande São Paulo, a CBN ocupa somente a 19ª posição no quesito audiência entre as emissoras radiofônicas, conforme o site Tudo Rádio. Além disso, a versão impressa do jornal O Globo continua a encolher. A circulação foi de 130 mil exemplares diários em 2017 para 53 mil em 2023, segundo registros do portal Poder360. É uma queda de praticamente 60% no período de seis anos.


Exemplar do jornal O Globo p- Foto: Reprodução


Perdendo audiência, o Grupo Globo lida com a diminuição de suas estruturas operacionais. Em abril do ano passado, mais de 30 jornalistas foram demitidos de uma só vez da TV. Sete meses depois, nova demissão em massa assombrou o conglomerado, com ao menos 20 profissionais dispensados da CBN e da Editora Globo (que responde pelos jornais e pelas revistas do conglomerado). Desde janeiro de 2023, atores e atrizes também deixaram de fazer parte do time de contratados da empresa. Deborah Secco, Antônio Fagundes, Flávia Alessandra e Paolla Oliveira são alguns dos exemplos. 

O violão do ministro 

A repórter Giovana Teles foi uma das demitidas pela Globo em abril de 2023. Na sequência, em julho, ganhou cargo no governo Lula. Ela passou a trabalhar como assessora de imprensa da Secretaria-Geral da Presidência da República. A jornalista, entretanto, não foi a única a 03/01/2025, 15:04 Globo e PT: tudo a ver - Revista Oeste https://revistaoeste.com/revista/edicao-250/globo-e-pt-tudo-a-ver/ 8/12 fazer o caminho de sair do grupo da família Marinho para se aventurar no poder público. Dispensada da emissora em 2021, depois de 46 anos, a apresentadora Cissa Guimarães foi contratada pela TV Brasil (canal público que integra a Empresa Brasil de Comunicação, a EBC) em janeiro de 2024, com direito a salário de R$ 70 mil — além de R$ 16 mil mensais para o maquiador dela. 

Também fora da Globo desde 2021, o jornalista Marcos Uchôa foi outro a figurar na lista de contratados da EBC. Inicialmente, em junho do ano passado, ele serviu como “escada” de Lula na apresentação do videocast Conversa com o Presidente. A estreia do programa, que foi descontinuado meses depois, foi marcada por uma fake news. Ao portal UOL, o comunicador afirmou que a atração tinha alcançado 1,5 milhão de pessoas de forma simultânea. No dia, entretanto, a audiência somava menos de 90 mil visualizações no YouTube. Depois, em agosto do mesmo ano, ele ganhou programa na TV Brasil, em cobertura que, basicamente, mostrava as viagens internacionais de Lula. Com salário na casa dos R$ 14 mil, Uchôa deixou a EBC em fevereiro deste ano.




Num país que enfrenta cotação do dólar acima dos R$ 6, alta da inflação e rombo nas contas públicas, resta aguardar uma certa comentarista explicar que o povo precisa “entender como é bom” o governo Lula injetar milhões de reais em veículos do Grupo Globo e usar o dinheiro dos pagadores de impostos para bancar as contratações de ex-globais. No mais novo “padrão Globo de qualidade”, no qual jornalista abre o sorriso ao pedir para o ministro da Fazenda tocar violão, não é difícil imaginar uma submissão dessa.




Anderson Scardoelli - Revista Oeste

Ana Paula Henkel - Um simples 2025

Precisamos aprender a priorizar o que realmente importa — relacionamentos, criatividade e os momentos tranquilos que dão riqueza à vida


Foto: Revista Oeste/IA


E assim entramos em mais um ano que se inicia com os costumeiros votos de “saúde, paz e prosperidade”. Votos que são acompanhados de postagens nas redes sociais no momento exato em que o calendário vira para 2025. Fotos do momento em que 2024 ficou para trás inundam os perfis de milhões de pessoas sorridentes desejando que o novo ciclo seja coberto de “saúde, paz e prosperidade”. 

E é o que também desejo para todos nós.

Mas, nos ponteiros frescos de 2025, vou desejar que o relógio, mesmo jamais parando, não deixe que o tempo escorra por entre nossos dedos. 

Na luz das telas, onde notificações incessantes e páginas quase infinitas exigem nossa máxima atenção, os dias se tornaram um borrão de ocupação sem propósito. Até na passagem de um ano para outro. No belo e útil advento da internet, o importante virou postar, mostrar, saber e opinar sobre as últimas notícias, sobre o que está “agitando as redes sociais”, sobre mostrar — e não preservar. 




É claro que estar bem informado é essencial. Foram muitos anos de manipulação, narrativas, controle. Informação é conhecimento. Mas apenas informação é sabedoria?

Houve um tempo em que os momentos em que mergulhávamos na verdadeira sabedoria eram valorizados — conversas se prolongavam, refeições eram compartilhadas sem distrações, e os pores do sol eram apreciados. Juízo, temperança e bom senso eram passados sem o açodamento dos olhos procurando o celular na cozinha, na sala, no banheiro. 

Hoje, o rolar interminável das redes sociais consome horas nos prendendo a um mundo digital que frequentemente é ocupado, vibrante, intenso — mas profundamente vazio. A ironia é cruel: estamos mais conectados do que nunca, mas nos sentimos mais solitários, esperando pela profundidade de conexões reais que parecem cada vez mais distantes.


Foto: Shutterstock 

E a cada clique uma oportunidade é perdida — um livro não foi lido, um passeio foi adiado, um sonho não foi iniciado ou foi deixado de lado por falta de tempo ou planejamento. O peso dessa constatação é profundo, mas o ciclo persiste. As redes sociais, com sua promessa de escape e distração imediata, tornaram-se ladrões do nosso recurso mais precioso: o momento, o hoje, o instante que não volta mais. Nunca mais. Elas roubaram os espaços tranquilos onde a criatividade e a reflexão florescem, deixando-nos com uma sensação constante de que precisamos de “mais, mais e mais”. A maquiagem do momento, uma casa maior, uma viagem, um novo amor, uma nova vida… “apagar tudo e começar de novo”. A tragédia não está apenas nas horas que perdemos, mas na vida que esquecemos de viver enquanto a vibrante tapeçaria da existência se desvanece, ofuscada pelo brilho frio de uma tela que mostra vidas que não são perfeitas e que não trazem sabedoria. 

Pense por um momento na real tristeza do vício das redes sociais: estamos constantemente on-line, apresentando-nos para uma audiência invisível, mas raramente estamos presentes em nossa própria vida. O mundo digital promete validação, mas frequentemente entrega insegurança. Perseguimos curtidas e comentários, esquecendo o valor inestimável da conexão humana genuína. 

E a perda não é apenas pessoal, é coletiva. Famílias se distanciam enquanto sentam juntas, cada uma absorvida em sua própria bolha digital. Comunidades se enfraquecem à medida que conversas reais dão lugar a interações virtuais. O mundo se move em um ritmo frenético, e sentimos a necessidade de acompanhar tudo, embora a linha de chegada esteja sempre fora de vista. Nessa corrida, trocamos profundidade por velocidade, significado por conveniência, e realização por gratificação efêmera. O resultado é uma sociedade exausta, fragmentada e sempre aguardando algo que não consegue nomear.


Foto: Shutterstock

O que torna essa erosão do tempo ainda mais dolorosa é a ilusão de escolha. Acreditamos estar no controle, que podemos parar a qualquer momento, mas os algoritmos são projetados para nos manter presos — escravos da dopamina. Eles exploram nossa necessidade de novidade, nosso medo de “ficar de fora” e nosso desejo inato de aprovação. E, assim, as horas passam em transe, nossa mente entorpecida por um fluxo interminável de conteúdo que raramente acrescenta significado à nossa vida. Enquanto isso, o mundo lá fora — e, principalmente, dentro de nossa própria casa — continua a girar, oferecendo beleza, conexão e propósito. Se apenas pudéssemos levantar os olhos por tempo suficiente para enxergá-lo… 

Há uma tristeza profunda em perceber que somos os arquitetos de nossa própria distração. As ferramentas que deveriam nos capacitar em muitos aspectos nos escravizaram. Sentimos o peso do tempo escapando, mas não sei se lutamos o suficiente para nos libertarmos, presos em um ciclo de compromissos excessivos e realizações insuficientes.



Esse fenômeno não é novo, mas sua escala e intensidade são sem precedentes. Antes, as distrações eram temporárias; hoje, são onipresentes. Notificações invadem nossas manhãs antes mesmo de sairmos da cama, e as telas nos acompanham até a noite. O ritmo da vida acelera, não porque estamos fazendo coisas mais significativas, mas porque estamos tentando acompanhar um fluxo interminável de conteúdo, grande parte dele descartável. Nossa atenção está tão dispersa que, mesmo quando estamos fisicamente presentes, nossa mente está em outro lugar, consumida por preocupações, atualizações e pela demanda incessante de engajamento. O que acrescentou para a sua vida saber como o fulano ou o beltrano passou a entrada do ano novo?

Recuperar nosso tempo parece uma tarefa monumental em um mundo projetado para roubá-lo. Exige mais do que disciplina, demanda uma mudança de valores. Precisamos aprender a priorizar o que realmente importa — relacionamentos, criatividade e os momentos tranquilos que dão riqueza à vida. Precisamos ter coragem de nos desconectar, não apenas de nossos dispositivos, mas das pressões sociais que equiparam ocupação com valor. Só então podemos começar a reconstruir uma vida que se sinta completa, uma vida onde o tempo não seja um inimigo a ser combatido, mas um presente a ser valorizado. Quando foi a última vez que você disse “fiquei quatro horas conversando com o meu pai [mãe, avô, irmão…]”?

Neste ano, o que mais desejo para cada um de nós é que passemos menos tempo nas redes sociais — quase nada — e mais tempo com a simplicidade, com os pés na terra, com as conversas na cozinha. Desejo-lhe mais abraços nos mais velhos e que suas costas possam sempre encostar em alguma árvore enquanto um livro, aberto entre os capítulos, descansa na grama entre um gole e outro de café. 


Foto: Shutterstock

Desejo, de coração, que sua assembleia de vozes seja feita de homens e mulheres sábios que viveram, que sentiram, que amaram, que sofreram. Que eles possam seguir nos ensinando, longe dos pedestais do Instagram, longe das teorias mirabolantes de sucesso na vida por meio de cursos milagrosos — e perto da nossa alma com lições de humildade. 

Que o seu e o meu 2025 sejam recheados de prosas que falem de amor, de dor, de fé, de reconquista — da vida com todos os seus parágrafos escritos e lidos sem pressa. Desejo que possamos encontrar a sabedoria onde ela está: mergulhada na força da vida simples. Na necessária força da simplicidade. Há épocas em que pensamos mais em nossos pais, mães e mestres que já partiram. Muitos sabem da minha profunda ligação com meu pai por meio de algumas preciosas histórias que já contei. Ele foi muito mais que um pai — foi um mentor, um amigo, um sopro de eterna esperança em meu caminho. As memórias enchem o meu coração e os meus olhos de lágrimas. Cresci vendo o meu pai no lombo de um cavalo, tocando berrante, cozinhando num fogão à lenha, conversando com cachorros, com cavalos e cachoeiras… 




Cresci ouvindo Rolando Boldrin, moda de viola e os “causos da roça” que me seguem até hoje. Então saí de casa, conheci o mundo, mudei de país. Mas nenhuma memória com o meu pai me abandonou. Muito pelo contrário. Elas seguem comigo. É para lá que sigo, até hoje, como uma bússola em tempestades, em tempos de correia, de açodamento, de incertezas. Ali, há um refúgio precioso que ainda molda minha alma — até hoje. Minha identidade e sanidade ainda residem em conversas na cozinha. O melhor divã que alguém pode ter.

Minhas páginas com o meu pai foram construídas com histórias sem pressa. Meu pai me deu tudo o que eu precisava para vencer — TEMPO. Tempo de aprender, tempo de conversar, tempo de agir, tempo de sofrer, tempo de se recolher, tempo de se levantar, tempo de amar e tempo de colher. 

Como ensina nosso sábio Rolando Boldrin, “quem refuga o mundo resmungando passará berrando essa vida marvada”. 

Que o seu novo ano seja rico em verdadeiras riquezas.  


Ana Paula Henkel - Revista Oeste