quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Figuras carimbadas da velha política corrupta, Alcolumbre, Renan e Gilmar se reúnem na casa de Kátia Abreu e discutem reeleição no Senado

Em campanha pela reeleição, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), se reuniu na noite da última segunda-feira, 21, com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Eduardo Braga (MDB-AM). O encontro foi no apartamento da senadora Kátia Abreu (PP-TO), anfitriã de um jantar para o magistrado e seus colegas.

Tutti Buona Gente - Legítimos representantes da velha política corrupta

Gilmar, auxiliar de FHC e preposto de Nelson Jobim, é relator de uma ação que tramita no Supremo e pode abrir caminho para Alcolumbre disputar a reeleição ao Senado, em fevereiro de 2021. Kátia, cujas origens estão no PFL, filhote da Arena, tem o mesmo interesse e trabalha pela recondução do senador.


Katia Abreu
A senadora Kátia Abreu (PP-TO)
Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO


Um dos temas discutidos no jantar foi a ação movida pelo PTB do ex-deputado Roberto Jeffferson, que, apesar de tentar barrar a reeleição de Alcolumbre e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pode acabar surtindo efeito contrário. 

O entendimento de que a reeleição da cúpula do Congresso é assunto que cabe apenas ao Legislativo ganha força entre diferentes alas do Supremo. Essa foi a posição defendida em manifestação da Advocacia-Geral da União (AGU) e em parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) enviados à Corte, nos últimos dias. O caso deve ser julgado pelo plenário do Supremo ainda neste semestre.

Alcolumbre busca aval do STF para conseguir concorrer a mais dois anos no cargo. 

A Constituição proíbe a recondução de presidentes da Câmara e do Senado na mesma legislatura, o que é o caso. Aliados do senador apresentaram, então, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC)  para permitir que ele dispute a reeleição. A medida, porém, não tem apoio suficiente para ser aprovada no Congresso. Nesse cenário, o aval do STF poderia representar um trunfo para Alcolumbre. 

O MDB, por sua vez, se movimenta para tentar voltar ao comando do Legislativo. Presente à reunião na casa de Kátia Abreu, Eduardo Braga é apontado como possível nome no páreo.

O jantar foi oferecido um dia após Renan Calheiros, ex-ministro da Justiça do notório FHC e com 12 processos por improbidade nas mãos das excelências do Judiciário, receber alta hospitalar. O senador passou por cirurgia em São Paulo, recentemente, para retirar um tumor no rim

Desde o início da pandemia provocada pelo vírus chinês, foi a primeira vez que Kátia Abreu chamou os colegas para visitá-la. Ela retornou recentemente a Brasília, após um período de quarentena em Palmas (TO), e é conhecida por organizar encontros para discutir cenários políticos, invariavelmente contrários aos interesses do país.

A ex-pefelista foi uma das mais exaltadas defensoras de Dilma 'trambique' (adversária do impeachment) e contrária à condenação e prisão de Lula, o maior ladrão da lava Jato.

Maia e o ministro Dias Toffoli, que deixou recentemente o comando do STF, são alguns dos convidados que costumavam comparecer a esses jantares na casa de Kátia. Nenhum dos dois, no entanto, estava lá na última segunda-feira - Maia, inclusive, continua em isolamento porque foi contaminado pelo coronavírus. O menu dos jantares é geralmente preparado pelo marido de Kátia, o engenheiro agrícola Moisés Gomes.

Os senadores convidados para a reunião e Gilmar Mendes figuram como os principais nomes, no Legislativo e no Judiciário, que se posicionam publicamente contra o que chamam de “excessos” da Operação Lava Jato.

O grupelho joga abertamente a favor de um golpe contra Jair Bolsonaro. Contesta escancaradamente a Lava Jato.  Portanto, tem ojeriza à moralização do país. Óbvio!

Mudança

Em fevereiro do ano passado, Kátia votou contra Alcolumbre na disputa pela  presidência do Senado e até protagonizou uma cena inusitada, retirando à força uma pasta, das mãos dele, na tentativa de impedir a sessão que o elegeria. Na ocasião, Kátia e Eduardo Braga apoiavam o celerado Renan, derrotado no confronto.

Em uma mudança brusca, porém, a ex-pefelista virou aliada de Alcolumbre (sem abandonar Renan) e agora articula a recondução do colega. Nesse período, Kátia mudou de partido: do PDT - legenda pela qual ela foi candidata a vice-presidente na chapa liderada por Ciro Gomes - passou para o PP, sigla que integra o Centrão e é próxima ao governo de Jair Bolsonaro.

Em entrevista, no último dia 3, Kátia Abreu defendeu abertamente a reeleição de Alcolumbre ao comando do Senado. Na prática, a articulação contra a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e processos de impeachment de ministros do STF acabou juntando Alcolumbre a antigos adversários. 

"Ele precisou muito mais de nós do que daqueles que o tinham elegido", argumentou Kátia, na ocasião. "Conquistou o coração de todo mundo e conseguiu manter sempre uma porta aberta para Bolsonaro."

Procurados nesta terça-feira, os senadores e o ministro Gilmar Mendes não se manifestaram. A interlocutores, Gilmar disse que saiu mais cedo do jantar. Afirmou ainda que, durante o período em que ali esteve, não tratou do tema reeleição no Congresso.

Com informações de Rafael Moraes Moura e Daniel Weterman, O Estado de S.Paulo