segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Pop, Klopp influencia técnicos da NBA, do futebol americano e do esqui

New York - Steve Kerr, técnico do Golden State Warriors, assistiu à reviravolta mais emocionante na história do futebol europeu em um avião. Mas ficou igualmente cativado pelo que aconteceu depois que o Liverpool chocou o Barcelona na semifinal da Champions League. Foi o momento em que o exuberante alemão Jürgen Klopp derramou elogios sobre seus jogadores, em seu segundo idioma.
"Esses garotos são f., verdadeiros gigantes da mentalidade", ele disse.
Na noite seguinte, quando o Warriors também virou uma partida para vencer em estilo épico, Kerr não se conteve.
"Nossos caras são f., verdadeiros gigantes", ele disse, com muito menos sotaque alemão.
O técnico do Liverpool Jürgen Klopp comemora após vencer o Manchester City no domingo (10)
O técnico do Liverpool Jürgen Klopp comemora após vencer o Manchester City no domingo (10) - ‚Carl Recine/Action Images via Reuters
Não demorou para que a homenagem de Kerr ao vocabulário de Klopp viajasse ao outro lado do planeta via email, por obra de um conhecido comum. A resposta de Klopp veio por mensagem de texto, e foi um clássico do estilo adotado pelo alemão: "Um monte de emojis de bíceps flexionados e caras sorridentes", disse Kerr. "Era como um aceno, como se ele dissesse 'é isso aí'."
Kerr não é o único treinador que se sentiria lisonjeado ao receber a aprovação de Klopp via emojis. 
O treinador de futebol americano da Universidade da Flórida é um grande fã do alemão, assim como o treinador da equipe olímpica de esqui da Noruega. Na cerimônia de premiação da Fifa, 90 dos 180 técnicos escolheram Klopp o melhor do mundo. Ele tem apelo tão universal que chega a aproximar inimigos: recebeu votos dos treinadores das seleções de Israel e do Irã.
Todo mundo já ouviu falar de "man crush" [a admiração de um sujeito por outro]. Agora temos diversos casos de "manager crush".
Klopp sempre foi fortemente atraente, muito antes de chegar ao Liverpool. Como jogador do Mainz, um time alemão de 2ª linha, se descrevia como um cara com talento de 4ª divisão, mas cérebro de 1ª. Isso fez dele um dos artilheiros na história do clube, mesmo que jogasse na defesa. 
"Eu assisti a muitos desses jogos, mas sem prestar atenção especial a ele", disse Andi Herzog, ex-jogador austríaco e hoje treinador de Israel. "Ninguém sabia que ele se tornaria o melhor do mundo."
Klopp era tão popular no Mainz que o clube o tornou treinador logo que encerrou a carreira, em 2001. Nos 14 anos seguintes, no Mainz e no Borussia Dortmund, refinou seu estilo. Klopp o define como "futebol heavy metal".
Seu estilo pessoal é mais o de papai roqueiro. Enquanto os mais conhecidos treinadores europeus usam ternos de estilistas famosos, Klopp se veste como se levasse os filhos a uma escolinha no Brooklyn. As roupas que usa no banco incluem agasalhos de moletom e bonés de beisebol, tudo isso coroado por uma barba espessa e óculos de hipster.
Mas é a maneira pela qual Klopp se comporta que o torna tão admirado. Claude Le Roy, treinador francês da seleção do Togo, inveja sua capacidade de abrir mão do ego exagerado de tantos outros treinadores do futebol. "Prova que não é preciso insultar pessoas, trapacear, passar o tempo todo repetindo que 'eu mando aqui'", disse Le Roy.
​Klopp é o mais recente em uma série de treinadores muito bem sucedidos que reimaginaram sua posição de autoridade para adaptá-la ao século 21. Pete Carroll, Joe Maddon, Kerr são respeitados, mas não têm coisa alguma de tirânico. Não se tratam de gênios da estratégia, mas contam com capacidade sem paralelos de identificar e acionar talentos, e a maneira que encontram de manter seu poder é dar mais poder aos seus comandados.
"Às vezes a influência de um treinador é perceptível", disse Kerr. "Quando o time assume a personalidade do técnico, você sente a conexão, a vontade coletiva, e a magia surge."
Os jogadores de Klopp sentem isso em grau maior do que outros. Ao saírem de campo, o comandante de 1,88 m não se contenta com apertos de mão: recebe-os com abraços.
Um treinador sensível e emotivo não é o que se esperaria na Inglaterra, a liga mais competitiva do planeta.
Mas a Alemanha mesma quer mais e mais Klopp. Em momento em que a economia do país está a caminho da crise, ele é visto como modelo de gestão moderna. Klopp posou recentemente para uma revista nacional alemã chamada Manager, sob a manchete "Der Feelgood Boss" [o chefe boa praça].
Alexander Stöckl, técnico da poderosa equipe de esqui da Noruega que dominou a mais recente Olimpíada, é menos fã do futebol que de Klopp, em quem se inspira. "Ele tem aura que fascina muita gente", disse. "A filosofia de treino dele parece fantástica."
Tradução de Paulo Migliacci

Ben Cohen e Joshua Robinson, The Wall Street Journal