domingo, 18 de agosto de 2019

O jogo covarde da imprensa suja


Em 1975, eu era diretor de arte de uma das revistas da Abril e nossa redação ficava ao lado revista Realidade, que, pressionada pelo endurecimento do regime militar, ia definhando.
No ano seguinte a revista - um dos grandes marcos do jornalismo brasileiro - desapareceu das bancas.
Foi o seu fim.
Ao mesmo tempo, outra revista, criada em 1968 pela Abril, se firmava no mercado editorial como modelo de jornalismo sério e investigativo.
Era a revista Veja, que sobrevive até hoje.
Não mais como revista, mas como folhetim.
A lembrança é oportuna e inevitável quando, diante da última e lamentável edição dessa revista, que se transformou num panfleto ideológico, constato que sempre há mais um degrau a ser descido por essa imprensalha irresponsável.
Do jornalismo sério de seu início já não resta nada, muito menos o orgulho pela profissão.
Em sua sanha persecutória contra um governo que odeia e quer destruir a qualquer custo - mesmo o de uma crise profunda no país - já não tem mais limite algum em suas ‘matérias’.
O ataque pessoal e gratuito - um degrau abaixo - é usado agora, na falta de algo melhor para atacar o presidente e seus familiares; uma tentativa clara com a intenção de enfraquecer o governo.
Atacar Michelle Bolsonaro através de sua família é um gesto sujo e covarde, digno mesmo de um folhetim de quinta.
Não satisfeita, a revista ainda publicou online outra 'matéria’ onde escarnece da reação de Michelle e Bolsonaro, se gabando do feito imundo e gratuito.
Como observou Bolsonaro, isso não acrescenta nada.
De 1975 até hoje, muita coisa mudou.
Outras, fundamentais, não mudaram.
Jornalismo sério continua a ser jornalismo sério.
Era o que a Veja praticava naqueles tempos.
Hoje, pratica outra coisa bem diferente, que também não mudou.
Pratica a covardia irresponsável.
Faltam, evidentemente, veículos sérios na imprensa brasileira, que deveriam surgir em substituição aos que já morreram.
A revista Realidade, feita por verdadeiros jornalistas, acabou em 1976. Lamentei o fato na época.
E a Veja - ao menos para mim - já morreu faz tempo.
E essa, meus amigos, não lamento mesmo.

Marco Angeli Full

Artista plástico, publicitário e diretor de criação.

Jornal da Cidade